2011-04-09 13:22:54

"Sofrimentos sem nome?" - Editorial do nosso director, P. Frederico Lombardi


O Santo Padre acompanha com profundo sofrimento e comoção as mortes de centenas de pessoas afogadas nos últimos tempos no Mediterrâneo – assegurou há dias o Padre Frederico Lombardi, director da Sala de Imprensa da Santa Sé, e nosso director. A este mesmo tema dedicou ele, esta semana, o seu costumado Editorial, desta vez intitulado “Sofrimento
sem nome?”

“Suscitou justamente vasta e profunda emoção a mais recente tragédia – mais uma – do naufrágio de grande número de migrantes que tentavam passar da África à Europa.
São sem dúvida muitas centenas os desconhecidos que perderam a vida nos últimos meses nas águas do Mediterrâneo, milhares e milhares nos últimos anos. Voltam ao espírito as dezenas de milhares de “boat people” vietnamitas, que perderam a vida no mar nos primeiros meses de 1979. Fugir da fome, da pobreza desumana, da opressão, da violência, da guerra… com o risco de morrer no meio das vagas sem deixar traça, nem sequer a recordação do próprio nome…
Muitas vezes se falou, nos últimos dias, de sofrimento “sem nome”. A compaixão obriga-nos a não esquecer, a fazer memória, como perante outras indizíveis tragédias da humanidade, de uma história que é nossa, em solidariedade com os pobres da terra.
Compreendeu-o perfeitamente o povo judeu edificando o memorial de Yad Vashem, o “memorial dos nomes". Foi precisamente ali que Bento XVI pronunciou uma meditação que nos voltou ao espírito nestes dias, perante a morte de tantas vítimas inocentes e desconhecidas. (Afirmou nomeadamente o Papa):

“Eles perderam a própria vida, mas nunca perderão os seus nomes: estes encontram-se estavelmente gravados nos corações dos seus entes queridos, dos sobreviventes e de todos os que se encontram decididos a nunca mais permitir que um semelhante horror possa voltar a desonrar a humanidade. Os seus nomes, em especial e sobretudo, encontram-se gravados de modo indelével na memória de Deus omnipotente”. “Possam os seus sofrimentos nunca mais voltar a ser negados, diminuídos ou esquecidos! E possa cada pessoa de boa vontade permanecer vigilante para desenraizar do coração do homem toda e qualquer coisa que possa levar a tragédias semelhantes a esta!”

Desenraizar o ódio absurdo que levou à Shoah, mas empenhar-nos agora também em desenraizar as injustiças, a indiferença e o egoísmo que levam demasiadas pessoas a desaparecer entre as águas, na busca de uma vida mais humana. Deus recorda cada uma dessas pessoas. Recordemo-las nós também.








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