CARDEAL TURKSON SOBRE COSTA DO MARFIM: QUEM PERDEU ELEIÇÕES DÊ LUGAR AO VENCEDOR
Cidade do Vaticano, 09 abr (RV) - Vive-se uma calma repleta de tensão, neste
sábado, em Abidjan, na Costa do Marfim, onde prossegue o assédio ao palácio presidencial,
onde se encontra o Presidente Laurent Gbagbo, que insiste em não reconhecer a eleição
de seu oponente Alassane Ouattara.
As forças de Gbagbo resistem ao assédio
e respondem com armas pesadas. Atacaram também a residência do embaixador francês
com alguns mísseis. Foi imediata a represália dos soldados franceses da força "Licorne",
presentes na cidade, que destruíram um veículo blindado das forças pró-Gbagbo.
Por
sua vez, Human Rights Watch acusa tanto as milícias do Presidente Gbagbo quanto
as do Presidente eleito, Ouattara, de massacres indiscriminados contra a população
civil: centenas de pessoas, inclusive mulheres e crianças, teriam sido assassinadas,
inteiros vilarejos dados às chamas.
Tudo isso, ao tempo em que continua o drama
humanitário de centenas de milhares de deslocados em fuga: a ONU lançou um apelo à
abertura de corredores humanitários.
Nesta sexta-feira, por sua vez, voltou
para Roma o Presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, o Cardeal ganense
Peter Kodwo Appiah Turkson, que o Papa enviara à Costa do Marfim para uma missão de
"paz" e "reconciliação": infelizmente, o purpurado não conseguiu chegar ao país. Eis
o seu testemunho:
Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson:- "Nenhum avião
podia entrar na Costa do Marfim e o Núncio que devia acolher-me não podia sair porque
a sua residência está muito próxima do palácio presidencial. Portanto, aguardei um
pouco em Acra, na República de Gana, esperando que a situação mudasse um pouco, mas
não tive sorte. Procurei ter ajuda da ONU, porque a ONU fazia voos especiais de Acra
para a Costa do Marfim, mas, como pude verificar, a ONU não queria correr este risco
– em situações muito delicadas e perigosas como estas – de levar uma pessoa que não
fizesse parte de sua equipe. Havia o toque de recolher e, portanto, não foi possível
entrar na Costa do Marfim porque o aeroporto estava fechado."
P. Quais são
as suas esperanças em relação a essa crise?
Cardeal Peter Kodwo Appiah
Turkson:- "A minha esperança é que essa crise acabe o quanto antes. Faço
votos de que quem perdeu as eleições consiga aceitar a vontade que a população expressou
mediante o voto, e se não está de acordo, espere democraticamente as próximas eleições.
Quem perdeu deve aceitar o resultado, deve colocar-se à parte e esperar as próximas
eleições em busca de obter consensos para o seu plano de desenvolvimento do país.
Não se pode fazer com que pessoas morram por causa de divisões étnicas ou tribais,
ou até mesmo para seguir "profecias" pronunciadas por alguns pastores, que definem
alguém como "ungido do Senhor" para que conduza o país. A minha esperança é que cesse
esse derramamento de sangue e que se possa voltar a dialogar e a discutir. É preciso
buscar convencer quem perdeu as eleições a aceitar o resultado." (RL)