ARCEBISPO VEGLIÒ: ESCASSA ATENÇÃO DO MUNDO SOBRE DRAMA DOS REFUGIADOS MARFINENSES
Cidade do Vaticano, 08 abr (RV) - A ONU denunciou novos massacres na Costa
do Marfim. De fato, nas últimas 24 horas uma equipe das Nações Unidas descobriu mais
de 100 corpos em três localidades da parte ocidental do país africano. As violências
parecem ter sido perpetradas, ao menos em parte, por motivos "étnicos", explicou em
Genebra, na Suíça, o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos, Rupert Colvile.
Enquanto isso, o Presidente Laurent Gbagbo – assediado
pelos seguidores do Presidente eleito Alassane Ouattara – não abandona o seu bunker
em Abidjan.
É cada vez mais crítica a situação das populações locais, que levou
diversas agências – entre as quais o Programa Mundial de Alimentos (PMA) – a pedir
a abertura de corredores humanitários: ao menos 300 mil deslocados internos, mais
milhares de refugiados marfinenses encontram-se presentes também na Libéria, Guiné
e Gana – segundo dados fornecidos nesta quinta-feira pela Caritas, na linha de frente
na prestação de socorro.
A Caritas Costa do Marfim, em particular, lançou um
apelo em favor de um plano de intervenção de cerca de um milhão de euros para as ajudas
imediatas.
A esse propósito, a Rádio Vaticano entrevistou o Presidente do Pontifício
Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Dom Antonio Maria Vegliò,
que nos falou sobre a situação dos marfineneses refugiados na Libéria:
Dom
Antonio Maria Vegliò:- "A Libéria é um país pequeno: já está acolhendo mais de
120 mil refugiados. A população local está dando mostra de uma extraordinária solidariedade.
Está acolhendo os refugiados em suas casas, dividindo o alimento a ponto de não ter
o suficiente para eles mesmos, sofrendo, assim, as consequências. Á África nos dá
o exemplo da capacidade de acolhimento, de aceitação do outro na dificuldade, com
espírito evangélico. Provavelmente não são cristãos, mas se sentem africanos, acostumados
– talvez na pobreza – a ajudar quem é mais pobre ainda. Também aí, graças a Deus,
a Igreja está presente. A Caritas está dando assistência aos refugiados e à população
local. Suponho que a Igreja local queira ajudar um maior número de refugiados. Todavia,
faltam fundos suficientes e agentes de pastoral, sacerdotes e catequistas. É necessário
um programa de colaboração para toda a Costa do Marfim, de modo que aqueles que estão
sofrendo os recentes dramáticos eventos e as pessoas das diferentes partes políticas
possam viver novamente todos juntos."
P. Há o risco de que os eventos que
estão se verificando também no norte da África deixem em segundo plano essa tragédia
humanitária na Costa do Marfim?
Dom Antonio Maria Vegliò:- "Certamente!
Infelizmente o homem não se detém longamente diante de uma tragédia. Basta que se
verifique outra para se esquecer da primeira. É preciso reconhecer que nos últimos
meses foi dada pouca atenção à Costa do Marfim. Por outro lado, foram registrados
eventos dramáticos, eventos que atraíram o interesse da mídia. Isso privou a Costa
do Marfim da devida atenção." (RL)