Abidjã, 04 abr (RV) - A organização católica de caridade Caritas informa que
mais de mil civis foram mortos na cidade de Duekoue, na região oeste da Costa do
Marfim que está sob o controle de forças que lutam para que Alassane Ouattara assuma
a presidência do país.
Ouattara foi legitimamente eleito em novembro passado,
é reconhecido internacionalmente como o presidente da Costa do Marfim, mas encontra
resistência por parte de Laurent Gbagbo, que não quer deixar o cargo.
O porta-voz
da Caritas, Patrick Nicholson, disse que na semana passada, membros da organização
visitaram Duekoue e descobriram centenas de corpos de civis mortos a tiros disparados
de armas pequenas e cortados com machados.
A Cruz Vermelha, que fez vistorias
separadas e independentes no local na última sexta-feira, estimou o número de mortos
em Duekoue em cerca de 800. O porta-voz militar da Organização das Nações Unidas (ONU)
disse não ter informações sobre os assassinatos em massa em Duekoue.
Já a
Caritas afirma que os assassinatos ocorreram durante três dias em bairros controlados
por combatentes leais ao Ouattara, embora não esteja claro quem cometeu os crimes:
“A Caritas defende que uma investigação deve ser feita para estabelecer a verdade”.
A Caritas acredita que as pessoas foram mortas à queima-roupa num pequeno
bairro da cidade de 50 mil habitantes no momento em que combatentes pró-Ouattara iniciavam
uma ofensiva, partindo de duas frentes distintas, que os levaram rapidamente para
Abidjã, a capital comercial do país.
Segundo informações das agências, a ONU
enviou quase mil mantenedores da paz à Duekoue para proteger a missão católica que
abriga mais de 10 mil refugiados em seu interior.
Entretanto, na cidade de
Abidjã, cerca de 1.400 estrangeiros, a maioria cidadãos franceses, estão alojados
em um campo militar francês, enquanto forças ligadas a Ouattara e a Gbagbo se enfrentam
nas ruas da cidade.
O recrudescimento dos combates dificulta as já escassas
possibilidades dos civis receberem assistência médica. Em alguns bairros de Abidjã,
é quase impossível, devido à violência: “É imperativo que as populações civis não
sejam visadas pelos combates e que os pacientes possam ter acesso aos cuidados médicos”
- afirma Mego Terzian, responsável da organização Médicos Sem Fronteira (MSF), considerando
a situação crítica.
O hospital de Abobo Sul é o único em função na zona norte
da cidade. Os voluntários do MSF estão curando centenas de pessoas, em colaboração
com autoridades sanitárias, pois grande parte dos técnicos de saúde fugiram do país
ou não comparecem ao trabalho. Também não há ambulâncias em circulação e faltam medicamentos
e material médico.
Os habitantes que optaram por permanecer na cidade refugiam-se
em casa. Os doentes só saem em casos de extrema necessidade para se dirigirem aos
poucos serviços que ainda funcionam. (CM)