ESPERANÇAS DO VIGÁRIO APOSTÓLICO EM TRÍPOLI, NA VIGÍLIA DA CONFERÊNCIA DE LONDRES
Cidade do Vaticano, 28 mar (RV) - O apelo ao diálogo lançado pelo Papa no Angelus
deste domingo não deixou de repercutir na Líbia. De fato, Bento XVI manifestou preocupação
com a incolumidade dos civis exortando as partes a tomarem o caminho diplomático.
Para uma reflexão sobre as palavras do Pontífice, a Rádio Vaticano entrevistou o Vigário
Apostólico em Trípoli, Dom Giovanni Innocenzo Martinelli. Eis o que disse:
Dom
Giovanni Innocenzo Martinelli:- "Em primeiro lugar, na comunidade cristã há muita
esperança de que a palavra do Papa possa ser verdadeiramente ouvida pelos políticos
e por quem tem responsabilidade neste contexto. Era a palavra que nós esperávamos
e seguramente o Papa interpretou o desejo de todos os homens que trabalham neste país.
Na manhã desta segunda-feira entreguei ao protocolo, às autoridades líbias e ao escritório
islâmico da Islamical Society a nota dessa mensagem do Papa, para mostrar como
o Santo Padre, a Santa Sé e a Igreja estão atentos ao que acontece na Líbia. Junto
à oração chega também a mensagem de interpretar a voz daqueles que sofrem. É uma mensagem
que se deve fazer chegar a quem tem poder e responsabilidade."
P. Qual tem
sido a reação das instituições líbias?
Dom Giovanni Innocenzo Martinelli:-
"É difícil dizê-lo neste momento, porque não temos, ainda, reações imediatas. A referida
nota foi entregue na manhã desta segunda-feira e, mesmo assim, me parece que está
tendo – daquilo que eu pude perceber – uma repercussão positiva. O Papa se interessa
pela paz num contexto árabe muçulmano: isso me parece uma coisa muito bonita. É algo
que vai além de todas as interpretações que podem ser feitas. Ademais, trata-se de
uma palavra muito equilibrada e muito atenta e me parece que – como sinal e como modo
– respeite e não interfira na política ou em outros aspectos, mas que interprete perfeitamente
o ânimo desse povo que sofre."
P. Nesta terça-feira terá lugar a Conferência
internacional de Londres sobre a situação na Líbia: quais são as esperanças de vocês?
Dom
Giovanni Innocenzo Martinelli:- "Faço votos de que não somente a Europa, mas também
a União Africana possa tomar parte desses concertos políticos, porque a União Africana
tem um papel importante e uma ascendência sobre a Líbia e sobre Muammar Kadhafi, e,
portanto, deixa-la de lado significa de certo modo não dar peso ao papel da Líbia
na história de hoje da África. A União Africana já ressaltou que qualquer coisa, sem
essa realidade africana, torna incompleta as instâncias e as decisões."
P.
Como se vive nestas horas em Trípoli?
Dom Giovanni Innocenzo Martinelli:-
"Há calma e expectativa: após a noite de bombardeios, embora não diretamente sobre
Trípoli, mas fora da capital, o ânimo é de inquietação. Há fila nos postos de abastecimento
de combustível, fila nas padarias, fila nos estabelecimentos alimentícios para comprar
o necessário... Há uma dificuldade generalizada, uma tristeza. De fato, percebe-se
a tristeza no rosto das pessoas, porque jamais foi assim. Sente-se agora toda a exasperação
por não poder resolver essa situação, e não se vê, ainda, como se possa resolver..."
(RL)