Roma, 27 mar (RV) - Bento XVI saiu esta manhã do Vaticano e foi de automóvel
até o lugar de Roma conhecido como “Grutas Ardeatinas”, onde em 24 de março de 1944
tropas nazistas fuzilaram 335 pessoas. Cerca de dois meses antes, um ataque a bomba
da resistência italiana a um QG do Exército nazista de ocupação causara a morte de
33 soldados alemães. Como represália Hitler ordenou, pessoalmente, o fuzilamento de
10 civis por cada alemão morto.
No mausoléu, o papa foi recebido por familiares
das vítimas, pelo Cardeal-vigário, Agostino Vallini, e pelo arcipreste emérito da
Basílica de São Paulo, Andrea Cordero Lanza di Montezemolo, filho do coronel comandante
da Resistência militar de Roma que foi morto no massacre. Dentre os executados, todos
homens, estava também o Padre Pietro Pappagallo, preso por oferecer ajuda a romanos,
judeus e pessoas procuradas pelo regime. Assim como outras vítimas, ele estava detido
no cárcere romano de Regina Coeli após ter sido delatado por um espião nazista.
Para
a execução, foram tiradas 260 pessoas de prisões romanas, e para completar o número
exigido, os carrascos sequestraram 75 judeus escolhidos a esmo no gueto da cidade,
incluindo dois meninos de 15 anos.
Depois de saudar todas as autoridades civis
e religiosas presentes, o Santo Padre depôs uma cesta de flores diante da lápide que
recorda o massacre. Em seguida, dentro do memorial, Bento XVI se ajoelhou e rezou
em silêncio diante dos jazigos.
Neste momento, o rabino-chefe de Roma, Prof.
Riccardo Di Segni, rezou em hebraico o salmo 129 De profundis, seguido pelo Papa,
que por sua vez proferiu uma oração e o Salmo 23. Ao deixar o local, Santo Padre assinou
o livro dos visitantes e já no exterior do memorial, proferiu seu discurso.
Bento
XVI começou recordando um escrito da parede de uma cela de tortura de antifascistas,
em Roma: “Creio em Deus, na Itália, na ressurreição dos mártires e dos heróis; creio
no renascimento da pátria e na liberdade do povo”.
Estas palavras foram escritas
por um prisioneiro desconhecido durante a ocupação nazista e demonstram – disse Bento
XVI – que o espírito humano permanece livre mesmo nas condições mais duras.
A
expressão tocou o Papa porque afirma a primazia da fé, que infunde confiança e esperança
na Itália e em seu futuro. “O que aconteceu neste lugar – frisou – foi uma gravíssima
ofensa a Deus, porque é a violência deliberada do homem contra o homem. É o efeito
mais execrável da guerra, de toda guerra, enquanto Deus é vida, paz e comunhão”.
Naquele
momento, tão trágico e desumano, este Credo era uma invocação ainda mais alta, como
a de Jesus na cruz: “Pai, a tuas mãos entrego meu espírito”. “Ali está a garantia
da esperança; a possibilidade de um futuro diverso, livre do ódio e da vingança, um
futuro de liberdade e de fraternidade para Roma, a Itália, a Europa, o mundo”.
Bento
XVI recordou que em 1965, Paulo VI visitou o memorial e em 1982, foi a vez de João
Paulo II. “Como bispo de Roma, cidade consagrada pelo sangue dos mártires do Evangelho
do Amor, vim aqui homenagear estes irmãos assassinados tão perto das antigas catacumbas”
– disse.
Outro episódio citado pelo Papa foi um papel, encontrado sucessivamente,
em que um dos mortos escrevera: “Meus Deus, grande Pai, rezamos para que possa proteger
os judeus das bárbaras perseguições. Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai”.
Bento
XVI sublinhou que a qualquer povo pertença, o homem é filho do Pai que está no céu,
é irmão de todos em humanidade. “É preciso acreditar no Deus do amor e da vida e rejeitar
qualquer outra falsa imagem divina que trai o seu santo Nome e consequentemente, trai
o homem feito à Sua imagem.
Neste “doloroso memorial do mal mais horrendo”,
o Papa convidou todos a “dar as mãos como irmãos e dizer: “Pai nosso, acreditamos
em Ti e com a força de teu amor queremos caminhar juntos, no mundo inteiro”. (CM)