Rio de Janeiro, 26 mar (RV) - Durante estes dias da Quaresma, o nosso itinerário
batismal tem neste domingo um sinal claríssimo sobre o sinal da Água e a importância
do encontro com Jesus, o Cristo. Neste ano, de maneira especial aparece este sinal,
que nos ajuda a caminhar para a renovação das promessas batismais na vigília pascal.
Este
domingo, chamado da “samaritana”, é o terceiro Domingo da Quaresma (cf.Jo 4,5-42).
A hostilidade entre judeus e samaritanos conhecemos por outros episódios, como, por
exemplo, o caso do chamado “bom samaritano”. As relações entre judeus e samaritanos
eram de hostilidade constante e a Samaria era considerada território impuro para o
ambiente judaico, de modo que não se deveria cruzá-la durante os percursos das viagens.
Jesus quis passar pela Samaria como uma necessidade salvífica, teológica porque
nas suas intenções (que são aquelas do Pai), tinha a vontade de que também aquele
povo, como todos os outros existentes, entrassem na ordem da salvação, tornando-se
destinatário do anúncio do Reino e da vida nova trazida pelo Cristo.
A objeção
dessa mulher: "Tu que és um judeu pedes de beber a uma mulher samaritana?", dá oportunidade
a Jesus para anunciar o amor infinito de Deus, a universalidade da salvação e para
comunicar a nova dimensão da vida, que agora está totalmente renovada e foi estabelecida
com o Reino para todos os povos e indivíduos, homens e mulheres. Superam-se as barreiras,
as restrições e as divisões étnicas e raciais.
A água tornou-se a motivação
do anúncio. Vemos os vários episódios sobre ela como um símbolo e um "lugar" de salvação
e novidade de vida. Recordemos isso como em Meriba, quando o povo de Israel, nômade
no deserto, vê a água jorrar da rocha para saciar o povo. Também a vemos no dilúvio,
quando a água é destrutiva da raça humana, que deu a oportunidade de Deus mostrar
a sua misericórdia para com o homem e o mundo na restauração completa da humanidade.
O grande sinal desse tempo de êxodo, ou seja, a passagem do Mar Vermelho, quando as
águas foram divididas para o povo de Deus passar para o outro lado e depois fechar
sobre os egípcios. Quando a lança do soldado atingiu o lado de Jesus no alto da cruz,
sairá água e sangue: o sinal do Batismo e da Eucaristia.
É dessa mesma água
de vida eterna que Jesus está falando com a mulher samaritana no poço de Jacó. Ele
deixa claro que a água viva é o próprio Cristo, dom do Pai à humanidade, que, acolhendo-O
se obtém a salvação e a vida plena, não importa se samaritanos, ou judeus, palestinos,
gregos ou outros. Como a água sacia todos os homens e todos estão prontos para usá-la
quando estão sob o domínio da sede, assim o Cristo sacia toda a humanidade e, reconciliando-a
com o Pai, para tornar-se referência vital e indispensável.
Jesus satisfaz
a nossa fome e a nossa sede, e com a sua presença e o seu anúncio pode ter a certeza
de ter exaltados e postos ao seu lado e perante o mundo. Foi o que saiu anunciando
a Samaritana a todos.
Dessa água da vida e da salvação, todos nós precisamos!
Saciar a sede na fonte, que é Cristo, é cultivar em nós mesmos o equilíbrio, a confiança
a constância de espírito, experimentando a salvação n’Ele.
Ao comentar a liturgia
do terceiro domingo deste tempo favorável, o Papa Bento XVI ensina que: “O pedido
de Jesus à Samaritana: “Dá-Me de beber” (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro
domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração
o desejo do dom da “água a jorrar para a vida eterna” (v. 14): é o dom do Espírito
Santo, que faz dos cristãos “verdadeiros adoradores” capazes de rezar ao Pai “em espírito
e verdade” (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e
da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma
inquieta e insatisfeita, “enquanto não repousar em Deus”, segundo as célebres palavras
de Santo Agostinho”.
Depois do anúncio da samaritana, todos os que chegaram
até Jesus devido ao seu testemunho foram unânimes em dizer: nós mesmos vimos e sabemos
que Ele é o Cristo!
A experiência do cristão, que renasce no batismo e se torna
discípulo de Jesus, será ainda maior quando os que ele encontrar pela vida ou que
evangelizar disserem a mesma coisa, ou seja, que o testemunho foi o início, mas, agora,
amadureceram e se encontraram com o Cristo vivo. Assim, a nossa missão leva as pessoas
ao aprofundamento da fé e ao encontro com Jesus, multiplicando os discípulos missionários.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião
do Rio de Janeiro, RJ