2011-03-19 12:36:42

ESTE É O MEU FILHO AMADO


Rio de Janeiro, 19 mar (RV) - Que bom seria se a mortificação desta primeira semana reavivasse a nossa fé e nos fizesse prontos para reconhecer os becos sem saída dos nossos atalhos para chegar ao caminho promissor do Evangelho. Do deserto da tentação, a liturgia nos faz dar um salto até o Tabor, o monte da Transfiguração. Um salto importante, porque nos faz saborear uma antecipação da meta para a qual caminhamos.
Esse "salto espiritual" do deserto ao Tabor nos coloca diante dos olhos um Evangelho que dá nova luz àquela imagem cinzenta escura e às vezes mofada que alguns têm da Quaresma, e que pode ter se instalado em nosso imaginário espiritual. A autêntica mortificação quaresmal é para a vivificação e não para a tristeza. Se me mortifiquei é para fazer crescer a vida do Espírito em mim: é porque eu preciso dizer uns "não" para ampliar o coração a alguns "sim" maiores e mais maduros; é porque em mim existe algo que deve morrer para poder dar frutos.
Pedro, Tiago e João são conduzidos por seu Rabi para a parte superior do Tabor. Deveriam estar subindo pensativos, pois o anúncio da Paixão feito seis dias antes apertava os seus corações. A palavra de Jesus sobre o seu futuro de paixão, de morte e ressurreição permaneceu indigesta. Não entendem, mas põem a confiança no Mestre. Não entendem, mas caminham sobre seus passos. Não entendem, mas sabem que devem estar nos passos de Jesus.
Enquanto sobem ao Tabor, os pensamentos estão em turbulência: confusão, desânimo, trevas. A respiração mais curta da subida marca o ritmo de um milhão de pensamentos que se chocam no coração e na mente.
E de repente, para romper a escuridão que os discípulos trazem dentro de si, eis uma luz: um “flash” de beleza! Os olhos estão abertos e o coração bate a mil. Pedro, Tiago e João receberam o dom de assistir a uma antecipação da glória da Ressurreição. Jesus revela a outra face do seu mistério: não só a Cruz, mas também a glória. Jesus abre seus olhos para reconhecer a sua beleza, para revelar a sua identidade.
O Sumo Pontífice Bento XVI, que nesta semana reflete acerca da santidade do seu Venerável Predecessor, o Servo de Deus João Paulo, nos fala, em sua mensagem quaresmal, sobre a Transfiguração: “O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O” (v. 5).
Nós vos pedimos, Senhor Jesus, nos iluminar com a luz da vossa beleza. Na companhia de Pedro, Tiago e João, contemplando o vosso rosto transfigurado com amor. Não queirais jamais nos deixar sozinhos, pois sabeis que somos debilitados e frágeis. Vós conheceis as nossas fatigas e nos chamastes para vós para nos dar força e coragem com a vossa Palavra e o vosso Pão de vida. Fazei que, mesmo em meio a lutas diárias, nunca nos sintamos sozinhos e que a memória da vossa beleza não permita vacilar o nosso coração para as ilusões e falsas promessas do mundo. Com a força do Espírito de Santidade, guiai-nos no nosso caminho quaresmal de conversão. Maria, acrescente o que falta às nossas orações. Amém!

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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