CRISTO PERTURBOU-SE PERANTE A PERSPECTIVA DE MORRER
Cidade do Vaticano, 18 mar (RV) - Bento XVI afirma na sua nova obra, agora
publicada, que Jesus senti “perturbação diante do poder da morte”, falando de um duelo
entre “luz e trevas”. No sexto capítulo do livro «Jesus de Nazaré. Da Entrada em
Jerusalém até à Ressurreição», Joseph Ratzinger afirma que “a angústia de Jesus é
algo de muito mais radical do que a angústia que assalta todo o homem face à morte:
é o próprio duelo entre luz e trevas, entre vida e morte”. O Papa diz mesmo que
as palavras relatadas pelos Evangelhos sobre este tema mostram “a experiência primitiva
do medo, a perturbação diante do poder da morte, o pavor perante o abismo do nada”.
No
texto de São João, acrescenta, é utilizada “uma palavra que torna particularmente
evidente o carácter abissal do medo de Jesus: tetáraktai – é a mesma palavra tarássein
que João usa para descrever a perturbação profunda de Jesus perante o túmulo de Lázaro
e também a sua perturbação interior no Cenáculo ao anunciar a traição de Judas”. “Não
há dúvida de que João exprime a angústia primitiva da criatura diante da morte que
se aproxima, mas trata-se de algo mais: é a perturbação particular d’Aquele que é
a própria Vida diante do abismo de todo o poder da destruição, do mal, daquilo que
se opõe a Deus e que agora Lhe cai directamente em cima”, acrescenta.
Para
Bento XVI, Jesus “vê com extrema clareza toda a amplitude da maré imunda do mal, todo
o poder da mentira e da soberba, toda a astúcia e a atrocidade do mal, que se apresenta
com a máscara da vida mas serve continuamente a destruição do ser, a deturpação e
o aniquilamento da vida”. Falando no “drama do monte das Oliveiras”, que precede
a prisão e morte de Cristo, o Papa escreve que “na vontade humana natural de Jesus
está, por assim dizer, presente toda a resistência da natureza humana a Deus”.
“A
obstinação de todos nós, toda a oposição contra Deus estão presentes, e Jesus, lutando,
arrasta a natureza recalcitrante para o alto na direcção da sua verdadeira essência”,
acrescenta. No monte das Oliveiras, perto de Jerusalém, “Jesus experimentou a solidão
extrema, toda o tormento de ser homem” e “o abismo do pecado e de todo o mal penetrou
até ao fundo da sua alma”.
Para Bento XVI, “é absolutamente absurdo que alguns
teólogos pensem que, na oração do monte das Oliveiras, o Homem Jesus Se dirigiu ao
Deus trinitário”. Sobre a morte de Jesus, o Papa acrescenta que a mesma foi “um
morrer «pelos outros»” e que a ressurreição “não é apenas a salvação pessoal de Jesus
da morte”, mas a “superação da morte enquanto tal”. (BR)