Cidade do Vaticano, 13 mar (RV) - Iniciamos o importante tempo da Quaresma!
Durante este tempo somos chamados a aprofundar nossa vida cristã e caminhar em sincera
conversão. Queremos renovar na Vigília Pascal os nossos compromissos batismais com
o coração sincero.
Iniciamos estes quarenta dias recebendo cinzas sobre as
nossas cabeças, sinal de que reconhecemos que somos pecadores, que somos pó e ao pó
voltaremos e, enquanto isso, aceitamos o chamado à conversão, acolhendo e crendo no
Evangelho. Iniciado com um dia de jejum e abstinência, iremos também vivenciar
este tempo de penitência com atitudes concretas, significando a nossa disposição de
corresponder com a graça de Deus que nos convida a uma verdadeira conversão – eis
o tempo favorável, eis o dia da conversão! Oração, jejum, esmola, penitência, lectio
divina, confissão, arrependimento a que somos convocados devem estar presentes a cada
instante.
A Campanha da Fraternidade será um outro tema que não só exigirá
de nós uma mudança de mentalidade, mas, principalmente, uma mudança de atitudes, uma
mudança de vida. Somos chamados a viver mais sobriamente e respeitar o nosso habitat.
Nos
domingos que antecederam a Quaresma, escutamos o “Sermão da Montanha”, e assim tivemos
oportunidade de nos preparar para este tempo oportuno. Diante de um tempo de vinganças
e violências, a vida cristã é chamada a ser um sinal de um tempo diferente.
Jesus
pronuncia algumas frases que são um impulso para o nosso modo de vida. A nova justiça
que veio nos trazer parte do pressuposto de que a lei de talião, olho por olho, dente
por dente, é substituída pela lógica do perdão e da não-violência, que não significa
covardia ou aquiescência.
A lógica da não-violência também se manifesta em
dar a outra face em nível de atitude e não apenas na aparência. Os cristãos não consideram
o outro como inimigo, mas todos são pessoas que devem se amar e se respeitar, de modo
que o violento torne-se não-violento. Ouvindo estas palavras, a primeira reação espontânea
é um sorriso de descrença. Elas parecem, de fato, propostas absurdas.
A atitude
de Jesus quebra o nosso orgulho, porque Ele é o exemplo vivo nesse caminho. Nós não
somos chamados a perdoar a nível jurídico ou penal, mas aparecer desarmado diante
das pessoas é a atitude que pode mudar uma mentalidade, vencendo a violência que está
no coração do agressor.
Jesus convida-nos não só a opor-se à não-violência,
mas para amar os nossos inimigos e orar pelos que nos perseguem. Na verdade, a atitude
do Pai para nós é assim. Além disso, se apenas saudamos as pessoas que vêm nos cumprimentar,
somos como qualquer outra pessoa, enquanto a novidade do anúncio cristão consiste
nessa mudança de mentalidade. Podemos reconhecer amargamente a distância de tal caminho!
Cumprir um gesto de amor gratuitamente, sem exigir qualquer recompensa, é
viver no estilo do doar-se. Ainda com o eco da “figura da nova humanidade” que
ouvimos nos últimos domingos antes da Quaresma, sem dúvida que a iniciamos com o coração
contrito e necessitado de transformação. Que o arrependimento nos ajude a acolher
o dom de Deus dessa vida que em Cristo Jesus Ele nos promete. A raiz da moralidade
cristã não consiste na relação com a paternidade de Deus, para o qual a lei para os
cristãos é Jesus Cristo inserido no íntimo de cada um.
Depois de escutarmos
o “Sermão da Montanha” é claro que o dilema inicial permanece. Pessoas que têm dificuldade
para enfrentar, que são um fardo para nós, permanecem. Mas, talvez, pode gerar uma
nova atitude: O estilo da acolhida, do deixar sempre a porta aberta, de não guardar
rancor, para orar por eles, amá-los ainda mais. A novidade cristã pode desbloquear
as paralisias de nossas relações interpessoais. Jesus, por exemplo, fez. E de discípulos
humildes. Somos chamados a seguir o único caminho para a verdadeira paz: o caminho
do amor. Eis agora a oportunidade de dar passos nessa direção: o tempo da Quaresma!
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Orani João Tempesta, O.Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ