D. Manuel Clemente e Tolentino Mendonça deixam análise à mais recente obra de Bento
XVI, um livro marcado pela serenidade, diz bispo do Porto
(12/3/2011) O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, considerou esta sexta feira que
o novo livro do Papa sobre «Jesus de Nazaré» é de "grande oportunidade" e revela uma
“serenidade sábia” ao apresentar "argumentos e contra-argumentos". O prelado, que
falava na sede Universidade Católica no Porto, disse que Bento XVI escreveu um livro
"inédito na história" do papado, com um texto “muito completo, na medida em que integra
não só as achegas da exegese, como também aquilo que o acontecimento de Jesus trouxe
à humanidade”. O livro foi lançado no Vaticano quinta-feira e foi apresentado,
a partir desta sexta feira em vários países, começando, em Portugal, pelas dioceses
do Porto e Lisboa. Para o bispo do Porto, a obra de Bento XVI resume “tanto os
dados da Escritura como aquilo que a história absorveu dessa mesma vida, a vida de
Jesus de Nazaré”. O Papa, prosseguiu, deixa "muito espaço, quase todo o espaço
à reflexão do leitor". Para o prelado, esta obra é um "exercício exemplar de magistério",
com atenção à "credibilidade e relevância histórica" da mensagem da Igreja em função
do "entrelaçamento entre fé e história". "Há toda uma serenidade filosófica, também
teológica", conclui o prelado, que não procura "forçar a exegese àquilo que ela não
pode dar". O padre e poeta Tolentino Mendonça, especialista em Sagrada Escritura,
afirmou à ECCLESIA, por seu lado, que “lido culturalmente, este também é um livro
muito interessante, que abre muitas pistas sobre Jesus”. “Diria que é um livro
para ser lido na Igreja, mas também para estar numa grande livraria e ser absorvido
pela cultura contemporânea”, indica. O sacerdote madeirense descreve o segundo
volume de «Jesus de Nazaré» como um novo “testamento espiritual” do Papa. O biblista
diz ser “comovente e exemplar” ver como Bento XVI “se coloca diante de Jesus”, o centro
da sua reflexão e “síntese da sua visão sobre o cristianismo”. “A abordagem que
ele faz é uma abordagem que concilia uma dimensão espiritual muito forte com uma dimensão
de conhecimento, de aproveitamento daquilo que a ciência exegética, que a teologia
bíblica, nos seus dados principais, tem fornecido”, acrescenta. Tolentino Mendonça,
director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, diz que os cristãos têm
agora nas suas mãos “um instrumento precioso” para a descoberta de Jesus. Para
o especialista, este livro de Joseph Ratzinger tem como novidade principal ser o “relato
de um encontro”. “Isso é muito novo e o livro está cheio de passagens, de afirmações
que mostram como Jesus é vivido na intimidade de uma humanidade que se deixa tocar
e iluminar”, refere. No prefácio da obra, falando a respeito da exegese bíblica,
Bento XVI afirma que “em 200 anos de trabalho exegético, a interpretação histórico-crítica
já deu o que de essencial tinha para dar”. Tolentino Mendonça observa, a este respeito,
que “os métodos são importantes, mas devem ser usados na complementaridade”. “Aquilo
que o Papa escolhe é criar uma narrativa, revisitando os Evangelhos, fundamentalmente”,
como se fossem “uma voz única, mas na diversidade das tradições”.