Publicada a segunda parte de «Jesus de Nazaré», da entrada em Jerusalém á Ressurreição.
(10/3/2011) A segunda parte de «Jesus de Nazaré» foi apresentada esta quinta feira
no Vaticano, em conferência de imprensa. O livro, em nove capítulos, é uma reflexão
bíblica e teológica que percorre os últimos dias de Jesus, um ciclo que a Igreja Católica
celebra na Semana Santa e Páscoa. O livro é uma extensa reflexão bíblica e teológica
de Bento XVI sobre os textos dos Evangelhos, acompanhada por várias citações de estudiosos
e especialistas nestes temas. O primeiro capítulo refere-se à entrada de Jesus
em Jerusalém, com o episódio da purificação do templo, enquanto que o segundo aborda,
em três partes, os discursos “escatológicos” (relacionados com as realidades posteriores
à vida terrestre) de Jesus (destruição do templo, o tempo dos pagãos, profecia e apocalipse). O
terceiro capítulo evoca o lava-pés, estando dividido em seis partes: A hora de Jesus;
«Vós estais puros»; Sacramento e exemplo – dom e dever (o mandamento novo); o mistério
do traidor; diálogos com Pedro, Lava-pés e confissão dos pecados. O quarto capítulo,
sobre a oração sacerdotal de Jesus, fala da “festa judaica da Expiação” e elenca “quatro
temas importantes da oração”: «Esta é a vida eterna...»; «Consagra-os na Verdade.»;
«Dei-lhes a conhecer quem Tu és…»; «Que todos sejam um só…». A quinta parte da
obra é dedicada à Última Ceia, analisada em quatro temas: a data da Última Ceia, a
instituição da Eucaristia, a teologia das palavras de instituição e “da Ceia à Eucaristia
da manhã de domingo”. "Getsemaní", título do sexto capítulo, aborda outras quatro
questões: a caminho do monte das Oliveiraa; a oração do Senhor; a vontade de Jesus
e a vontade do Pai; a oração de Jesus no monte das Oliveiras segundo a Carta aos Hebreus. No
sétimo capítulo, Bento XVI analisa «o processo de Jesus: discussão preliminar no Sinédrio,
Jesus diante do Sinédrio e Jesus diante de Pilatos. A oitava parte da obra, sobre
a crucifixão e a deposição de Jesus no sepulcro, apresenta uma reflexão preliminar
intitulada “palavra e acontecimento na narrativa da Paixão”, para seguir com a descrição
dos momentos de Jesus na Cruz e uma análise da morte de Jesus como “reconciliação
(expiação) e salvação”. O nono e último capítulo fala da ressurreição de Jesus
da morte, em três partes diferentes: A ressurreição de Jesus: de que se trata?; Os
dois tipos diversos de testemunho da ressurreição; a natureza da ressurreição e o
seu significado histórico. Bento XVI afirma no seu novo livro que o sepulcro onde
Jesus foi colocado após a crucifixão tem de estar vazio, até hoje, vendo nisso “um
pressuposto necessário para a fé na ressurreição”. “Se o sepulcro vazio, como tal,
não pode certamente provar a ressurreição, permanece porém um pressuposto necessário
para a fé na ressurreição, uma vez que esta se refere precisamente ao corpo”. “Essencial
é o dado de que, com a ressurreição de Jesus, não foi revitalizado um indivíduo qualquer
morto num determinado momento, mas se verificou um salto ontológico que toca o ser
enquanto tal”, aponta ainda. Esta questão, sublinha, é "o ponto decisivo" da sua
pesquisa sobre a figura de Jesus. O Papa lembra que “era fundamental para a Igreja
antiga que o corpo de Jesus não tivesse sofrido a decomposição” e destaca a própria
deposição no sepulcro, a respeito da qual aborda, brevemente, o tema do Santo Sudário. Três
Evangelhos (os chamados sinópticos, dada a sua semelhança) falam num lençol com o
qual se envolveu Jesus, mas o texto de São João usa o plural – “«panos» de linho”
- segundo o uso judaico. “A questão sobre a concordância com o sudário de Turim
não deve ocupar-nos aqui; em todo o caso, o aspecto de tal relíquia é, em princípio,
conciliável com ambas as narrativas”, escreve o Papa. O Vaticano nunca se pronunciou
sobre a autenticidade deste pano de linho de 4,36 por 1,10 metros, venerado por milhões
de pessoas em todo o mundo. No capítulo da obra dedicado à «ressurreição de Jesus
da morte», Bento XVI refere que a mesma “ultrapassa a história, mas deixou o seu rasto
na história”. “Por isso pode ser atestada por testemunhas como um acontecimento
de uma qualidade completamente nova”, refere. O Papa apresenta ainda como sinal
de um “poder impressionante” a renúncia ao sábado e a sua substituição pelo “primeiro
dia da semana” por parte das comunidades cristãs primitivas, nascidas no seio do judaísmo. “Para
mim, a celebração do Dia do Senhor, que desde o início caracteriza a comunidade cristã,
é uma das provas mais fortes de que em tal dia sucedeu algo de extraordinário: a descoberta
do sepulcro vazio e o encontro com o Senhor ressuscitado”, refere. Bento XVI apresenta
Jesus, ressuscitado, como mais do que “alguém que voltou à vida biológica normal”
e teve um dia de morrer novamente, distinguindo-o de um “fantasma”, ou seja, “alguém
que, na realidade, pertença ao mundo dos mortos”. Sobre os relatos de “encontros
com o Ressuscitado”, o Papa diz que “são uma realidade distinta das experiências místicas”,
acrescentando que “a ressurreição é um acontecimento dentro da história, que, todavia,
rompe o âmbito da história e a ultrapassa”. O epílogo do livro fala de “Cristo
junto do Pai” e da chamada “segunda vinda” de Jesus, sublinhando que a oração dos
cristãos, neste contexto, “não visa imediatamente o fim do mundo”. “Na fé, sabemos
que Jesus, abençoando, tem as suas mãos estendidas sobre nós. Tal é a razão permanente
da alegria cristã”, diz o Papa, nas últimas palavras do seu novo livro. Toda a
obra começou a ser elaborada nas férias de 2003, antes da eleição de Joseph Ratzinger
como Papa, pelo que este manteve a opção de assinar também com o seu nome próprio
e não apenas como Bento XVI.