Campanha, 05 mar (RV) - Refletimos hoje no Evangelho ( Mt. 7,21-27) a fé que
é professada pelos católicos deve seguir uma prática de amor e de solidariedade atendendo
ao mandato de Jesus: Daí-lhes Vós mesmo de Comer!
O verbo ouvir, escutar, na
Bíblia tem um sentido muito maior e mais amplo do que o nosso humano entendimento.
Não significa apenas ouvir com os ouvidos, mas significar vivenciar, viver com gestos
as palavras ouvidas.
É muito interessante vermos determinados movimentos,
associações ou pastorais da Igreja que sentem grande entusiasmo com a pregação da
Palavra de Deus. Mas na prática pregam o fechamento para a sua atividade pastoral,
esquecendo-se da pastoral de conjunto, da construção de redes de comunidade e da evangelização
como obra comunitário-teológico-pastoral de comum união.
O Evangelho pede que
todos nós tenhamos coragem de dar um passo maior e comprometedor: sair somente da
Escuta para a vivência, para a prática efetiva. Jesus pede engajamento na realidade
da vida, para que tudo, todos e todas as coisas se impregnem da força do Reino, isto
é, de justiça, do perdão, da paz, da concórdia, e, acima de tudo, da verdade, critério
básico de salvação.
O Evangelho de hoje vem combater algumas atitudes que são
meramente humanas: 1. FORMALISMO: fazer as coisas apenas para constar, para cumprir
um preceito. Uma coisa que não gera um compromisso de vida, de vida nova em Jesus
Cristo Ressuscitado. Temos aqui o cristão de sexta-feira santa, ou aquele formalista
que é católico só de fachada, sem compromisso evangelizador.
2. LEGALISMO:
que consiste em cumprir apenas o que a lei manda. Este tipo de pessoa é incapaz de
questionar o puro legalismo que oprime e não gera oportunidade de abertura para a
caridade, porque na Santa Igreja SALUS ANIMARUM SUPREMA LEX, ou seja, a salvação
das almas é a suprema lei, dentro do contexto canônico que a dispensa é a regra de
conduta canônica. Jesus condenou muitas vezes o rigorismo jurídico das leis, porque
ele veio não abolir a Lei, mas dar uma nova conotação, a conotação da VIDA. O próprio
CRISTO MORTO, RESSUSCITOU, DANDO VIDA NOVA PARA TODOS OS HOMENS. A lei de Jesus é
a lei do primado da vida, porque Ele é a Lei, dizendo mais em Jo 10,10: Eu sou a vida;
nasci e vim ao mundo para que todos tenham vida e vida em abundância.
O Evangelho
de hoje desdiz aqueles que pretendem uma Igreja exclusivamente espiritual, isto é,
apenas de oração, orante e preocupada extremamente com o mundo dos espíritos ou da
escatologia. O Evangelho pede engajamento na construção da casa sobre a pedra. Por
isso o cristão batizado é chamado e conclamado a se preocupar com o irmão excluído,
indo ao seu encontro minorar a sua dor, é chamado a autenticamente se preocupar com
o mundo da política, para que os valores cristãos permeiem a sociedade. O católico
deve colocar em prática aquilo que em espírito eleva ao Senhor da Vida. Tudo isso
porque a justiça, a verdade, a vida, a paz, o amor tem muito a ver com a vida eterna
que começa aqui e agora, em comum unidade de fé. Outra coisa que Jesus nos pede
no Evangelho é que nos libertemos de duas tentações perigosas para a nossa fé: TRIUNFALISMO
E CARISMATISMO.
O triunfalismo é criar um Jesus que não é o Jesus pobre, humilde,
e amoroso de nossa fé que venceu o mundo, morrendo na Cruz pela salvação de todo o
gênero humano. O carismatismo é colocar ou tirar demônios de onde eles não existem.
Temos que viver uma espiritualidade profundamente voltada para a formação de comunidade
de santos e pecadores, todos, sem distinção, procurando coerentemente a santidade
de vida, unindo fé e vida.
Paulo na Segunda Leitura (Rm 3,21-25a.28) insiste
em que somos justificados pela fé e não pelas obras da Lei. Porém não há incompatibilidade,
é apenas o outro lado da medalha. Para poder agir conforme o espírito de Cristo, devemos,
inicialmente, superar a nossa auto-suficiência, parar de sermos donos da verdade.
As obras devem ser a conseqüência da fé, da confiança em Jesus Cristo, Que invade
o nosso coração e o transforma, quando vislumbramos Nele o grande amor que Deus nos
tem. Que a fidelidade que nos é proposta nos faça, quotidianamente, colocar hoje diante
de vós uma verdadeira vida de coerente santidade, unindo fé e vida, oração e obras
de caridade, para que possamos superar a miséria intelectual e a fome material de
nossos irmãos e irmãs.
Nesta leitura refletimos sob a graça de Deus, manifestada
em Cristo, e a justificação pela fé. Romanos mostrou que todos são culpados diante
de Deus. Agora São Paulo mostra que Deus os pode tornar justos justificar. Deus restaura
o homem na sua amizade, se ele aceita, na fé, a doação da própria vida que Jesus realizou
no sacrifício da Cruz. Esta oferta e pura graça, puro dom de Deus. Não depende de
méritos nossos provindos da observância pura da Lei, de pios exercícios, façanhas
pastorais, etc., mas também não quer dizer que podemos recebê-la sem fazer nada. A
fé é que nos faz acolher o dom de Deus, mas ela produz também frutos na prática.
Enquanto
o mundo profano celebra desregradamente o Carnaval a nossa fé não pode ser reduzida
ao dizer, a uma oração separada da vida, convém lembrar, entretanto, que ela não coincide
tampouco com o fazer. Isto é lembrado especialmente hoje, quando tudo na sociedade
nos leva a medir os valores, os acontecimentos e as pessoas na base do critério da
eficiência, do sucesso, do lucro, da promoção na carreira profissional..., isto é,
na base de um fazer que nada tem de evangélico. O agir pelo evangelho nada tem a ver
com o conceito de eficiência e sucesso. Pelo contrário, frequentemente é um agir,
do ponto de vista humano, coroado pelo insucesso e pelo malogro mais paradoxal. Humanamente
falando, a vida de Cristo não termina com o sucesso, mas com a mais humilhante falência:
a condenação, o abandono dos discípulos, a morte infame na cruz. Mas é precisamente
neste insucesso que o mistério da salvação e o triunfo da Páscoa lançam as suas raízes.
Somos
convidados a fazer uma revisão de vida. Hoje somos apenas ouvintes da Palavra de Deus?
Ou nós a cumprimos? Devemos ter consciência de que somos chamados a compreender a
Palavra de Deus e nos comprometermos com Ela, dando ao mundo testemunho desta Palavra
e transformar esta Palavra em ações concretas no nosso dia a dia. Somente seguiremos
o caminho da benção de Deus quando compreendermos o Evangelho e vivermos com testemunhos
pela Palavra santificadora e pela ação o mistério do Cristo que se faz companheiro
na caminhada para o Céu. Amém!
Padre Wagner Augusto Portugal. Vigário Judicial
da Diocese da Campanha(MG)