2011-02-24 15:36:56

Nascimento do 54º Estado africano: o Sul do Sudão


Uma nova Nação nasceu em África: o referendo de autodeterminação concluiu-se com um sim inequívoco (quase 99% dos votos) à independência do Sul do Sudão que passará a chamar-se precisamente assim e terá por capital, Juba. A proclamação oficial da independência está programada para 9 de Julho de 2011.
A Rádio Vaticano dedica o seu Editorial desta semana aos homens e mulheres do Sudão que, com uma participação excepcional no referendo (86% dos que tinham direito ao voto e, de entre eles, 52% mulheres) deram um claro sinal de coragem, orgulho e identidade.
A separação dos dois Estados é, todavia, um processo longo e complexo, e os próximos meses serão cruciais para a nova Nação: a urgente normalização política, o desenvolvimento, a luta contra a pobreza devem ser enfrentados com o apoio de toda a África e de outras nações, mas não podem prescindir do perdão e da reconciliação. Aliás, foi o apelo lançado pelo próprio Presidente do Sul do Sudão, Salva Kiir Mayardit, na Catedral de Santa Teresa em Juba, no domingo seguinte ao referendo: “Em nome dos nossos irmãos e irmãs que morreram, de modo particular daqueles que morreram durante a luta, devemos, tal como fez Cristo na Cruz, perdoar aqueles que provocaram a sua morte.”
Também os bispos sudaneses recordaram várias vezes que o triunfo do sim no referendo “não deve ser visto como uma ameaça por ambas as partes, mas sim como uma oportunidade. A independência não significa o fim das relações entre o Norte e o Sul. A secessão é uma divisão de terras, não de pessoas. Cooperação e colaboração devem continuar num espírito de boa vizinhança”
Numa entrevista em inglês à Rádio Vaticano, o bispo de Rumbek (Sul do Sudão), D. Cesare Mazzolari sublinha que a tutela da paz e da justiça são valores fundamentais, em cuja promoção toda a sociedade sudanesa deve empenhar-se, a começar pelos próprios povos do Sul. Com efeito, a nova Nação deverá integrar todos os povos que a compõem. “Durante os anos de guerra algumas tríbus foram privilegiadas militar e politicamente. A honra de determinados grupos e clãs foi, por vezes, ofendida” – referiu D. Mazzolari, sublinhando que “é necessário o perdão. Devemos ultrapassar as hostilidades, enterrar o desejo de vingança a fim de fazer nascer um novo país no qual nos integramos, vivemos juntos e trabalhamos para o bem comum, com um verdadeiro amor pela Pátria, um amor pela nossa identidade e para com os valores que considerados fundamentais. Temos de nos pôr a caminho duma verdadeira reconciliação, sacrificando os interesses particulares, a avidez e o prestígio pessoal, a fim de que este país possa nascer e caminhar em frente”.
Haverá que trabalhar para o bem comum, pois a pobreza é extremamente difusa e os novos cidadãos (78%) dependem em grande parte da agricultura de subsistência. Apenas 27% das pessoas com mais de 15 anos de idade são alfabetizadas. E muitas pessoas que viviam no Norte e foram ao Sul votar, perderam a casa e os haveres e, sem nenhum apoio, de momento, da parte da administração, estão a viver em campos de emergência.
“Como Igreja estamos já estamos a actuar no acolhimento destes refugiados: pusemos os nossos locais, as nossas escolas, à disposição, agimos em seu favor com a nossa obra humanitária, pastoral e com iniciativas de educação cívica” – referiu ainda D. Cesare Mazzolari, que acrescentou: “A oração intensa que fizemos a fim de que o referendo corresse bem foi ouvida. Agora a nossa empresa espiritual e humana tem de continuar a favor da integração de todos os sudaneses”.
A propósito do bom andamento do referendo e da esperança de que as coisas continuem a correr bem, ouçamos o bispo moçambicano D. Francisco Sílota, que fez parte da equipa ecuménica e inter-religiosa de observação do referendo RealAudioMP3
Segundo o Padre Daniele Moschetti, comboniano, desde há anos a trabalhar no Sudão, a realidade local continuará, todavia, a ser um complicado xadrez geopolítico e militar, em que os interesses económicos são colocados em primeiro plano. E embora haja no Sudão cerca de 10 mil capacetes azuis (a garantir desde de 2005 a observação dos acordos de paz) a manutenção de um clima pacífico permanece uma incógnita e muitos críticos estrangeiros mostram-se cépticos quanto à capacidade do novo Estado de arrancar e progredir. Sobre este aspecto ouçamos ainda o bispo de Chimoio. Ele acha que, não obstante a negligência dessa região em termos de educação ao longo de anos, o país tem quadros suficientes para poder arrancar. RealAudioMP3
A Igreja acompanhará todo este processo de arranque e desenvolvimento do Sul do Sudão que, não obstante as óbvias dificuldades – como sublinhava D. Sílota – pode caminhar em frente, desde que todos, não só os quadros do país, mas também as multinacionais, a comunidade internacional tenham a peito o bem-estar daquele povo e não apenas os próprios interesses.









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