CARDEAL RODÉ FAZ BALANÇO DE SUA EXPERIÊNCIA À FRENTE DO DICASTÉRIO VATICANO PARA A
VIDA CONSAGRADA
Cidade do Vaticano, 17 fev (RV) - Carismas antigos, que ao longo dos séculos
tornaram o rosto da Igreja mais bonito. E novas realidades masculinas e femininas,
atraídas pela radicalidade evangélica, que com a sua escolha reagem à progressiva
descristianização da nossa época.
O Cardeal esloveno Franc Rodé, desempenhando
o cargo de Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades
de Vida Apostólica, trabalhou durante sete anos a serviço de tais realidades religiosas.
Há
pouco mais de um mês, o purpurado de 76 anos deixou o encargo a seu sucessor, o Arcebispo
emérito de Brasília, Dom João Braz de Aviz, que tomou posse nesta quinta-feira. A
Rádio Vaticano pediu ao Cardeal Rodé que traçasse um balanço de seu trabalho, intensamente
vivido entre os religiosos e as religiosas do mundo inteiro:
Cardeal Franc
Rodé:- "Os religiosos na história da Igreja e na história do mundo sempre foram
foco de animação espiritual e de dinamismo missionário. Podemos dizer que as grandes
reformas na história da Igreja foram fruto da obra dos religiosos: basta pensar em
são Bento, São Bernardo de Claraval, São Francisco, Santo Domingo e Santo Inácio de
Loyola. E também foram – e isso é singular – os mais perseguidos na história, e os
mais canonizados."
P. Durante seus anos de serviço o senhor pôde visitar
muitas comunidades religiosas espalhadas pelo mundo. Qual a impressão que teve?
Cardeal
Franc Rodé:- "Hoje, os religiosos representam, mais ou menos, um milhão e cem
mil homens e mulheres e são uma presença jovem e dinâmica na América Latina, na África
e na Ásia. Ultimamente estive em Angola, um ano antes, na República de Camarões e,
também, na Bolívia. Vi uma obra maravilhosa por amor a Cristo realizada pelos religiosos,
como também obras sociais muito importantes: ambulatórios, hospitais, creches e escolas...
Tudo isso, com uma dedicação admirável."
P. Apesar da grande dedicação que
o senhor encontrou, é inegável – e também o Papa o reconheceu – que a vida religiosa
não se encontra, infelizmente, imune a uma certa perda de identidade...
Cardeal
Franc Rodé:- "A vida religiosa encontra-se hoje em dificuldade e é preciso reconhecer
isso. A secularização penetrou muitas comunidades e muitas consciências. A secularização
se expressa numa oração sem recolhimento e, muitas vezes, formal, e prejudica o conceito
de obediência, introduzindo uma certa mentalidade "democrática" que exclui o papel
da autoridade legítima. Com a secularização se corre o risco de transformar as obras
de caridade em serviços sociais, e isso em detrimento do anúncio do Evangelho: prefere-se
uma sociedade do bem-estar, a uma realidade de sinal escatológico. Esses sinais de
secularização estão presentes em todos os lugares, mas, sobretudo, no mundo ocidental.
O meu esforço, como Prefeito dos religiosos, foi o de buscar superar essa mentalidade
de secularização e reafirmar os valores fundamentais da vida consagrada: fazendo dos
religiosos e das religiosas aquilo que deveriam ser, ou seja, uma força de renovação
da Igreja. Nesses meus esforços apoiei-me nas forças sadias das Congregações tradicionais
– porque essas forças existem – bem como nas novas correntes espirituais que se manifestam
na Igreja."
P. Essas novas experiências podem ser consideradas um recurso
para a Igreja atual, como os grandes carismas o foram para a Igreja no passado?
Cardeal
Franc Rodé:- "Efetivamente, surgem novas comunidades religiosas contra o espírito
de secularismo. Surgem na França, na Espanha, na Itália, no Brasil, no Peru e nos
EUA. Essas comunidades dão grande importância à oração e à vida fraterna vivida em
comunidade; insistem na pobreza e na obediência: são todas elas novas comunidades
que convidam o homem a seu destino transcendente e constituem uma força de renovação
da qual a Igreja tanto precisa." (RL)