O que significa ser padre hoje e o valor da vida em comum recordados pelo Papa
(12/2/2011) Qual é o lugar do sacerdócio ordenado, na vida Igreja, e qual o lugar
da vida comum na experiência sacerdotal? Estas as duas questões a que Bento XVI tratou
de responder ao receber, neste sábado de manhã, no Vaticano, os 400 participantes
na assembleia geral da Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu
- padres e seminaristas ligados à Fraternidade de “Comunhão e Libertação”. O
Papa começou por recordar “uma verdade que se foi reafirmando com particular clareza
a partir do século XIX e que encontrou uma significativa expressão na teologia do
Concílio Vaticano II”. Isto é: que “o sacerdócio cristão não existe para si mesmo”.
Cada sacerdote pode, portanto, dizer aos fiéis, parafraseando Santo Agostinho: ‘convosco
sou cristão, para vós, sou padre’.”
“A glória e a alegria do sacerdócio é
servir Cristo e o seu Corpo místico. Ele representa, no interior da Igreja, uma vocação
belíssima e singular, que torna Cristo presente, porque participa no único e eterno
Sacerdócio de Cristo. A presença de vocações sacerdotais é um sinal seguro da verdade
e da vitalidade de uma comunidade cristã”.
De facto, prosseguiu Bento XVI,
Deus chama sempre. E não existe crescimento verdadeiro e fecundo, na Igreja, sem uma
autêntica presença sacerdotal que a apoie e alimente. Neste contexto, o Papa
exprimiu a sua gratidão a todos os que dedicam as suas energias à formação dos padres
e à reforma da vida sacerdotal.
“Como toda a Igreja, também o sacerdócio
tem necessidade de se renovar continuamente, reencontrando na vida de Jesus as formas
mais essenciais do seu próprio ser”.
Contudo, qualquer renovação da vida
sacerdotal tem que ter em contas alguns elementos irrenunciáveis – sublinhou Bento
XVI. “Antes de mais uma profunda educação à meditação e à oração, vividas como diálogo
com o Senhor ressuscitado, presente na sua Igreja”. Em segundo lugar, “um estudo da
Teologia que permita encontrar as verdades cristãs na forma de uma síntese ligada
à vida da pessoa e da comunidade”.
Foi neste contexto que o Papa sublinhou
o valor da vida comum, na existência sacerdotal, retomando uma das suas declarações
no livro -entrevista “Sal da Terra”:
“É importante que os padres não vivam
isolados, cada um da sua parte, mas estejam juntos em pequenas comunidades, apoiando-se
uns aos outros e fazendo assim experiência do estar juntos no serviço a Cristo e na
renúncia pelo Reino dos céus, com uma crescente consciência disto mesmo”.
O
Papa esclareceu que esta proposta de vida comum dos padres não é uma estratégia para
dar resposta, por exemplo, à carência de sacerdotes, ao à sua solidão ou fragilidade.
Pode ser que ajude nesse sentido, mas “só na medida em que a vida fraterna for concebida
e vivida como um caminho para se imergir na realidade da comunhão”.
“A vida
comum é expressão do dom de Cristo que é a Igreja e está prefigurada na comunidade
apostólica, que deu lugar aos presbíteros. Nenhum sacerdote administra algo seu, mas
participa com os outros irmãos num dom sacramental que vem directamente de Jesus”.
Por um lado (observou ainda o Papa), “viver com outros significa aceitar
a necessidade da própria conversão contínua e sobretudo descobrir a beleza desse caminho,
a alegria da humildade, da penitência, mas também da conversão, do perdão recíproco,
do apoio mútuo”. Em todo o caso, sem entrar no diálogo eterno que o Filho mantém com
o Pai, no Espírito Santo, não é possível uma autêntica vida comum.
“Há que
estar com Jesus para poder estar com os outros. É este o coração da missão. Na companhia
de Cristo e dos irmãos, cada sacerdote pode encontrar as energias necessárias para
se ocupar dos homens, para assumir as necessidades espirituais e materiais das pessoas
que encontra, para ensinar com palavras sempre novas, ditadas pelo amor, as verdades
eternas da fé de que também os nossos contemporâneos têm sede”.