IGREJA FRANCESA CONDENA NASCIMENTO DO "BEBÊ-MEDICAMENTO"
Paris, 09 fev (RV) – "Esta criança é um instrumento para tentar salvar outra…
Vamos nos transformar em instrumentos?": assim o cardeal-arcebispo de Paris, França,
André Vingt-Trois, questiona o nascimento, no país, do primeiro "bebê-medicamento"
que poderá salvar a vida de um de seus irmãos que sofrem de uma grave doença de sangue
hereditária (a beta-talassemia). O caso gerou forte polêmica na França.
"Sou
totalmente contra isso, contra a instrumentalização de um ser humano em benefício
de outro" – disse o Cardeal Vingt-Trois, presidente da Conferência Episcopal Francesa.
O
"bebê-medicamento" – chamado pelos médicos de "bebê da dupla esperança" – nasceu no
dia 26 de janeiro passado, num hospital da região de Paris. Ele é resultado de uma
fecundação in vitro, e foi implantado no útero materno somente após uma prévia seleção
entre todos os embriões, para estabelecer qual deles respondia aos critérios necessários
para que ele pudesse ser "um medicamento" para um dos irmãos portadores dessa doença.
A notícia do nascimento da criança foi divulgada nesta segunda-feira. Os médicos
explicaram que o "bebê-medicamento" é imune à beta-talassemia, a doença de sangue
de que sofrem os irmãos, tendo uma compatibilidade de tecidos que permitirá um transplante
de sangue do cordão umbilical e salvar pelo menos um deles.
"A Igreja deve
refletir antes de condenar, porque damos, assim, dignidade e felicidade a uma família
que vai ter agora um novo filho saudável; ele nasceu em perfeita saúde e oferece a
possibilidade de salvar outro filho" – disse o professor René Frydman, um dos especialistas
que dirigiu o processo de nascimento autorizado pela lei francesa desde 2004.
Os
pais do "bebê-medicamento" – de origem turca – deram-lhe o nome de Umut-Talha (que
significa nossa esperança) e vivem com a criança, em sua residência, no sul da França.
Trata-se
do primeiro nascimento de um "bebê-medicamento" na França, depois dos primeiros casos
verificados, há cerca de 10 anos, nos Estados Unidos, e de três mais recentes – dois
na Bélgica, em 2005; e outro na Espanha, em 2008. (AF)