ÁFRICA NO CENTRO DAS DISCUSSÕES DO SEGUNDO DIA DE FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Dacar, 07 fev (RV) – Neste segundo dia de debates do Fórum Social Mundial 2011,
iniciado ontem em Dacar (capital do Senegal), o assunto principal que está sendo estudado
nas mesas redondas é o do desenvolvimento da África. São 60 mil participantes, 300
atividades programadas para cada dia e muitos temas a serem debatidos.
Entre
os principais assuntos estão a crise econômica, a tutela do meio ambiente, a cooperação
Sul-Sul e a contribuição das religiões para com o progresso da humanidade. A África
está no centro dos debates e um dos aspectos importantes a serem examinados é a agricultura
do Continente como meio de enfrentar a crise.
Quem falou sobre o assunto à
Rádio Vaticano foi o líder do Movimento dos Agricultores, Mamadou Cissokho. Ele trouxe
os dados de que a agricultura familiar corresponde a 85% de toda a produção africana,
e 55% da população vive dessa atividade. São números muito significativos. Para Mamadou,
a soberania de uma nação está altamente relacionada à alimentação que esta pode prover
à sua população. “Um povo faminto, um exército faminto não conseguem defender o próprio
país”, completou.
Uma das grandes dificuldades que enfrentam os produtores
africanos é a concorrência de países mais desenvolvidos que subsidiam os seus agricultores,
os quais podem oferecer à África produtos mais baratos que aqueles cultivados internamente.
As pessoas compram o que é mais barato, mas, com isso, acabam por empobrecer o próprio
país, portanto, a si próprias. Forma-se uma assim uma “bola de neve”, um “círculo
vicioso”.
A consciência dessa situação não é novidade na África, o que se
percebe pela afirmação do líder dos agricultores: “mostraremos ao mundo que a África
será uma obra dos africanos – disse ele -, com a consciência de que nós temos a responsabilidade
por aquilo que somos e por aquilo que queremos ser; isso é essencial para a mudança”.
Questionado
sobre as soluções propostas pelo Movimento dos Agricultores, Mamadou respondeu que,
em primeiro lugar, “é preciso reconhecer e criar as condições para a modernização
da agricultura, e é essencial que os governantes aceitem e reconheçam a prioridade
do acesso dos núcleos familiares à terra e aos recursos”.
Em segundo o lugar,
“os políticos no poder devem parar de vender a África para o mundo através da abertura
dos nossos mercados”, afirmou ele categoricamente. “Não entendemos porquê os governantes
não possam negociar melhor a proteção da nossa produção agrícola”, explicou.
Como
terceiro elemento, ele citou o cuidado para com o meio ambiente. Nesse sentido, um
dos problemas que citou foi o de que os projetos e programas de conservação dos ecossistemas
são feitos fora da África, além do fato de que não há uma distribuição justa dos recursos
e das riquezas deles provenientes. (ED)