2011-02-05 13:29:35

EDITORIAL: CAOS NA TERRA DOS FARAÓS


Cidade do Vaticano, 05 fev (RV) - A revolta popular em curso no Egito, e que ameaça derrubar o presidente Mubarak, há trinta anos no poder, ganhou as manchetes dos jornais de todo o mundo e a preocupação dos chamados governos ocidentais. Uma pressão doméstica, mas também internacional por reformas concretas e por uma resolução pacífica da crise colocou o Egito no centro da atenção mundial. Para tentar contornar a situação o Presidente egípcio, Hosni Mubarak, colocou nas ruas os militares e nomeou como Vice-Presidente o chefe de seu serviço de espionagem. Até então, Mubarak governava sem substituto institucional.

Mas o que poderá ocorrer com a terra dos antigos faraós? As hipóteses são muitas, e as cenas de violência vistas pela televisão apontam para alguns desdobramentos possíveis. Caso Mubarak continue no poder até as próximas eleições, antes do fim do ano, certamente veremos reformas de acomodação. Mubarak já afirmou que não irá se apresentar como candidato. Outra possibilidade é a revolta se tornar revolução, com a queda do presidente e instalação de novo regime. Talvez se consiga embocar a tão desejável estrada que poderia conduzir a reformas democráticas, causando um efeito dominó e atingindo outros países da região.

Diante desse possível quadro existe ainda o temor ocidental de que o Egito, berço e abrigo de poderosos grupos radicais islâmicos, se torne refém de uma elite ainda mais opressora. Certamente os mais radicais estão atentos à oportunidade, o que é demonstrado pelo aproveitamento do caos para a libertação de militantes presos, entre eles vários da Irmandade Muçulmana, um dos grupos mais perigosos do país. Mubarak sabe que não é apenas o povo quem quer sua cabeça e tem mantido esses radicais sob controle.

O Egito é um dos principais aliados dos Estados Unidos e da Europa no mundo árabe. O principal temor do Ocidente é que a Irmandade Muçulmana possa assumir o governo do país. Além da Jordânia, o Egito é o único país árabe a reconhecer o Estado de Israel. Qualquer mudança brusca no regime de Mubarak pode tornar mais tensa a política já inflamada da região.

Inspirados na revolta que derrubou o governo da Tunísia no início do ano, milhares de egípcios começaram a protestar nas ruas do país no último dia 25 de janeiro. O movimento, convocado pela internet, ganhou o apoio de ativistas islâmicos. A onda de protestos, já causou a morte dezenas de pessoas.

O presidente Obama disse que não irá tomar partido na questão pois os Estados Unidos dependeram desse governo para a estabilização do Oriente Médio e que não irá suspender o incentivo que dão ao Egito, de 1,5 bilhão de dólares, mas pediu uma transição pacífica. Israel está tentando não se envolver no assunto interno do Egito, mas segue com atenção. Também a Santa Sé segue com muita atenção o desenvolvimento da crise no Egito, onde os cristãos são minoria, mas solidários com o restante da população.

Dentro de casa, nos dias passados o patriarca copta católico de Alexandria, no Egito, Dom Antonios Naguib, pediu aos egípcios para que ajam em favor do bem comum do país e favoreçam um clima de paz, solidariedade e fraternidade que ajude o Egito a caminhar na direção justa.

"Estamos num momento que poderá levar a mudanças positivas e a um futuro melhor para as novas gerações" – ressaltou. Dom Naguib sublinhou que "a maior parte dos cidadãos é favorável a uma transição pacífica e que se for dado aos responsáveis políticos a possibilidade de atuar as reformas que todos precisam, os objetivos dos protestos serão satisfatórios".

A transição no Egito tenha início imediatamente. Quem pede não são somente os 2 milhões de egípcios que nesta sexta-feira ganharam as ruas do Cairo, mas também Bruxelas, a voz da Europa. De fato, o Conselho da União Européia aprovou uma declaração na qual pede o “início imediato da transição” e fazem um apelo às autoridades do Cairo para que “respondam às legítimas aspirações do povo egípcio com as reformas políticas e não com a repressão.

Resta esperar que a história neste milenário país seja escrita com a palavra esperança e não com o sangue de inocentes e que os egípcios não se vejam obrigados a dizer: “ruim com ele, pior sem ele”. (SP) RealAudioMP3







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