Cidade do Vaticano, 05 fev (RV) - A revolta popular em curso no Egito, e que
ameaça derrubar o presidente Mubarak, há trinta anos no poder, ganhou as manchetes
dos jornais de todo o mundo e a preocupação dos chamados governos ocidentais. Uma
pressão doméstica, mas também internacional por reformas concretas e por uma resolução
pacífica da crise colocou o Egito no centro da atenção mundial. Para tentar contornar
a situação o Presidente egípcio, Hosni Mubarak, colocou nas ruas os militares e nomeou
como Vice-Presidente o chefe de seu serviço de espionagem. Até então, Mubarak governava
sem substituto institucional.
Mas o que poderá ocorrer com a terra dos antigos
faraós? As hipóteses são muitas, e as cenas de violência vistas pela televisão apontam
para alguns desdobramentos possíveis. Caso Mubarak continue no poder até as próximas
eleições, antes do fim do ano, certamente veremos reformas de acomodação. Mubarak
já afirmou que não irá se apresentar como candidato. Outra possibilidade é a revolta
se tornar revolução, com a queda do presidente e instalação de novo regime. Talvez
se consiga embocar a tão desejável estrada que poderia conduzir a reformas democráticas,
causando um efeito dominó e atingindo outros países da região.
Diante desse
possível quadro existe ainda o temor ocidental de que o Egito, berço e abrigo de poderosos
grupos radicais islâmicos, se torne refém de uma elite ainda mais opressora. Certamente
os mais radicais estão atentos à oportunidade, o que é demonstrado pelo aproveitamento
do caos para a libertação de militantes presos, entre eles vários da Irmandade Muçulmana,
um dos grupos mais perigosos do país. Mubarak sabe que não é apenas o povo quem quer
sua cabeça e tem mantido esses radicais sob controle.
O Egito é um dos principais
aliados dos Estados Unidos e da Europa no mundo árabe. O principal temor do Ocidente
é que a Irmandade Muçulmana possa assumir o governo do país. Além da Jordânia, o Egito
é o único país árabe a reconhecer o Estado de Israel. Qualquer mudança brusca no regime
de Mubarak pode tornar mais tensa a política já inflamada da região.
Inspirados
na revolta que derrubou o governo da Tunísia no início do ano, milhares de egípcios
começaram a protestar nas ruas do país no último dia 25 de janeiro. O movimento, convocado
pela internet, ganhou o apoio de ativistas islâmicos. A onda de protestos, já causou
a morte dezenas de pessoas.
O presidente Obama disse que não irá tomar partido
na questão pois os Estados Unidos dependeram desse governo para a estabilização do
Oriente Médio e que não irá suspender o incentivo que dão ao Egito, de 1,5 bilhão
de dólares, mas pediu uma transição pacífica. Israel está tentando não se envolver
no assunto interno do Egito, mas segue com atenção. Também a Santa Sé segue com muita
atenção o desenvolvimento da crise no Egito, onde os cristãos são minoria, mas solidários
com o restante da população.
Dentro de casa, nos dias passados o patriarca
copta católico de Alexandria, no Egito, Dom Antonios Naguib, pediu aos egípcios para
que ajam em favor do bem comum do país e favoreçam um clima de paz, solidariedade
e fraternidade que ajude o Egito a caminhar na direção justa.
"Estamos num
momento que poderá levar a mudanças positivas e a um futuro melhor para as novas gerações"
– ressaltou. Dom Naguib sublinhou que "a maior parte dos cidadãos é favorável a uma
transição pacífica e que se for dado aos responsáveis políticos a possibilidade de
atuar as reformas que todos precisam, os objetivos dos protestos serão satisfatórios".
A transição no Egito tenha início imediatamente. Quem pede não são somente
os 2 milhões de egípcios que nesta sexta-feira ganharam as ruas do Cairo, mas também
Bruxelas, a voz da Europa. De fato, o Conselho da União Européia aprovou uma declaração
na qual pede o “início imediato da transição” e fazem um apelo às autoridades do Cairo
para que “respondam às legítimas aspirações do povo egípcio com as reformas políticas
e não com a repressão.
Resta esperar que a história neste milenário país seja
escrita com a palavra esperança e não com o sangue de inocentes e que os egípcios
não se vejam obrigados a dizer: “ruim com ele, pior sem ele”. (SP)