Cidade do Vaticano, 05 fev (RV) - Há um mês da posse de Dilma Roussef no Brasil,
o jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano” dedicou esta semana um editorial na primeira
página aos desafios que nossa presidente terá pela frente em seu caminho. O título
da matéria é “Dilma e a busca do equilíbrio” e é assinada por Giuseppe Fiorentino.
Recordando
o legado do governo Lula, o artigo ressalta sua extraordinária popularidade: 87% depois
de dois mandatos - o que é muito raro. Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu bater um
recorde que de certa maneira vai condicionar a ação do governo de Dilma.
Sair
da trilha aberta por Lula em 8 anos de sucessos pode ser uma inversão de tendência
com um risco alto demais para a nova inquilina do Palácio do Planalto. Nestes anos,
o Brasil se afirmou como potência econômica emergente e milhões de brasileiros saíram
da miséria graças às novas políticas sociais. É fácil entender porque o Governo Rousseff
deve seguir a linha da continuidade, e porque Guido Mantega foi confirmado como ministro
da Economia. Mas alguma coisa pode mudar...
É verdade que o salário mínimo
é hoje de 540 reais - cerca de 220 euros -, mas por outro lado o custo de vida tem
aumento bastante. O feijão dobrou de preço e a carne aumentou 20%. O poder aquisitivo
real está caindo. Analistas financeiros dizem que os preços aumentam porque o dólar
aumenta, a inflação sobe e as exportações sofrem.
Para o “Osservatore”, à
parte suas causas, o problema é que o povo sente o aumento dos preços e o Governo
deverá levar em conta esta percepção.
No futuro, Dilma não se pode esquecer
da dívida pública, o fardel deixado pelos programas estatais de desenvolvimento social
e infra-estrutural.. Fome Zero, Bolsa família, Minha casa minha vida, garantiram a
milhões de brasileiros segurança alimentar, acesso ao ensino primário e o direito
à casa; fizeram a popularidade de Lula decolar, mas pesaram no orçamento.
E
o mesmo vale para o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – que foi um dos alicerces
do velho Governo, além de fundamental na campanha e eleição de Dilma Rousseff. O
jornal do Vaticano explica aos leitores que o PAC prevê a realização de obras estruturais
para impulsionar o desenvolvimento econômico. Alguns analistas alegam que mais importante
seria reequilibrar a relação entre dívida pública e ação do Estado; outros, como a
Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, adiantam que os cortes no orçamento não
vão afetar as ações do PAC.
Mas se os programas de desenvolvimento social
e infra-estrutural absorverem mais recursos, aonde o Governo Rousseff vai economizar?
O
novo Governo se encontra na situação de cortar as despesas para reduzir o déficit
entre dívida pública e PIL, mas sem sacrificar a ação social e os projetos, com o
objetivo de favorecer um crescimento econômico estável sem dissipar o grande consenso
herdado de Lula. Este é o esforço de equilíbrio que vai ocupar a nossa presidente
nos próximos anos.