EGITO: LÍDER RELIGIOSO AFIRMA QUE MUDANÇAS POLÍTICAS SÃO INEVITÁVEIS
Cairo, 29 jan (RV) - Manifestantes no Egito concluíram nesta sexta-feira, dia
28, o quarto e mais conturbado dia de manifestações contrárias ao governo do Presidente
Hosni Mubarak, no poder há quase 30 anos. Os opositores do regime prometeram continuar
com os protestos, que ocorrem em diversas cidades do país. Para o presidente do Conselho
de Ética da União das Entidades Islâmicas no Brasil, o xeque Jihad Hassan Hammadeh,
depois de demonstrações como as de hoje, é improvável que a situação política no Egito
não sofra mudanças.
Segundo ele, as chances de os manifestantes conseguirem
forçar a saída de Mubarak são grandes: "Se o governo não cair, Mubarak terá de mudar
sua conduta" – observou.
Antes da onda de manifestações, analistas comentavam
que Mubarak, de 82 anos, pretendia passar o poder a seu filho, Gamal. No primeiro
dias de protestos, opositores do regime enviaram mensagens a ambos: "Abaixo, Hosni
Mubarak"; e "Gamal, avise seu pai que os egípcios o odeiam". Mubarak governa o Egito
desde 1981.
As principais reivindicações dos manifestantes são: emprego e o
fim da corrupção e do autoritarismo. Além do uso do exército e da polícia para conter
aqueles que protestam nas ruas, o governo tem bloqueado o acesso às redes sociais
e de telefonia.
Uma das principais forças de oposição no Egito – a Irmandade
Muçulmana – participou das manifestações desta sexta-feira. A organização islâmica
fundamentalista é vista com temor por países como os Estados Unidos, por se opor a
tendências seculares e a influências ocidentais. Ontem, mais de 20 membros da organização
foram detidos pela polícia egípcia.
Para o xeque Jihad Hassan Hammadeh, as
críticas feitas pelo Ocidente à Irmandade Muçulmana são exageradas. "A organização
é criticada da mesma forma como o Hezbollah no Líbano. Alguns países não querem que
esses grupos se fortaleçam, pois isso seria em detrimento de seus interesses" – observou
o líder religioso.
O prêmio Nobel da Paz-2005, Mohamed el Baradei, principal
líder do grupo opositor Assembleia Nacional pela Mudança, voltou para o Egito nesta
quinta-feira, dia 27. Ele é ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA). "O povo se deu conta de que o regime não está ouvindo nada, e teve de
sair às ruas. Vou continuar dando apoio ao povo" – ressaltou o ex-diretor da AIEA
aos jornalistas, no aeroporto do Cairo. El Baradei retorna a seu país com a intenção
de assumir a liderança nesse momento de transição, caso o regime de Mubarak venha,
efetivamente, a cair. (AF)