D. José Policarpo lembra crentes perseguidos noutros países e alerta para «pseudo-abertura»
que diminui o cristianismo
(21/1/2011) O Cardeal-Patriarca de Lisboa presidiu este sábado, à celebração da
Solenidade de São Vicente, Diácono e Mártir e padroeiro principal da diocese de Lisboa,
reabrindo, desta forma, a igreja de São Vicente de Fora. Na homilia proferida
na celebração, D. José Policarpo recordou e rezou pelos cristãos perseguidos no mundo
e assinalou os "ataques da cultura secularista" "tentando reduzir o espaço humano
para a fé". “A cultura secularista não persegue, mas ataca, vai tentando reduzir
o espaço humano para a fé, tornando-se quase uma religião alternativa”. O cardeal
pediu “cautela com os homens que procuram reduzir o espaço humano e cultural da fé”. “Cautela
com os cristãos que, para serem ouvidos pelo mundo, não têm coragem para proclamar
a mensagem de Cristo”, acrescentou. Citando declarações de Bento XVI no livro-entrevista
«Luz do Mundo», D. José Policarpo indicou que “a nova evangelização supõe um grande
combate espiritual”. “Neste combate, os cristãos fragilizam-se quando, em espírito
de pseudo-abertura, adoptam os critérios da cultura secularista e substituem o testemunho
e a mensagem da fé por um discurso que o mundo gosta de ouvir”, alertou. Na celebração
litúrgica dedicada a São Vicente, mártir do século IV e padroeiro principal do Patriarcado,
foram lembrados “todos os cristãos que hoje, em tantos países do mundo, são perseguidos,
por vezes até à morte”. O Patriarca de Lisboa admitiu que, no Ocidente, a sociedade
“eliminou a perseguição violenta contra os cristãos e esse é um progresso de civilização”. “A
Igreja faz parte da cidade e o seu contributo para o bem-comum é reconhecido, embora
nem sempre desejado”, prosseguiu. Nesse sentido, destacou a figura de São Vicente,
“protector de Lisboa”, cujas relíquias se encontram na catedral e que, segundo o cardeal
lisboeta, “passou a integrar, do ponto de vista cultural, a simbólica da Cidade”. Vicente,
diácono da Igreja de Saragoça, morreu mártir em Valência (Espanha) durante a perseguição
de Diocleciano, imperador romano do início do século IV, e o seu culto difundiu-se
rapidamente pela Península. O Mosteiro de S. Vicente de Fora foi fundado em 1147
por D. Afonso Henriques (c.1110-1185), primeiro Rei de Portugal, em cumprimento de
um voto dirigido ao Mártir São Vicente pelo sucesso da conquista de Lisboa aos mouros. D.
José Policarpo lembrou as comunidades “moçárabes”, os cristãos que “resistiram e se
organizaram sob o domínio muçulmano de parte da Península Ibérica”. “Nesse longo
período de sete séculos, isso exigiu dos cristãos resistência à perseguição, à discriminação
social, à sobrecarga injusta de impostos e a uma inevitável aculturação”, precisou,
pelo que os moçárabes “encontraram em São Vicente um modelo de integração da perseguição
e do sofrimento, na exigência da fidelidade à fé cristã”. A igreja de São Vicente
de Fora foi reaberta ao culto “depois de volumosas obras de conservação”, como referiu
o cardeal, e está integrada na sede do Patriarcado.