Rio de Janeiro 19 jan (RV) - O mês de janeiro, não por acaso, está no nome
da nossa Cidade e do nosso Estado, mês em que celebramos o nosso padroeiro, São Sebastião,
soldado de Cristo. Esse mês é precedido e nele se encerra a celebração do mistério
da Encarnação: do Deus, que se fez um de nós, Jesus Cristo, fazendo sua morada, armando
sua tenda no meio dos homens (Natal/Epifania/Batismo do Senhor).
Para celebrar
esse acontecimento, iniciamos a trezena de São Sebastião propondo às nossas comunidades
o desafio de serem como o nosso padroeiro, mensageiros da paz, que sabemos, é o próprio
Cristo Jesus. A replica da imagem histórica trazida por Estácio de Sá passou por todos
os cantos de nossa Arquidiocese fazendo uma grande “missão popular”.
No entanto,
logo no início já fomos chamados a acrescentar um aspecto a mais: o mensageiro da
paz nos convoca à solidariedade. Assim fizemos a caminhada ou carreata da fraternidade.
A resposta do nosso povo foi generosa e disponível!
O mês de janeiro infelizmente
tem sido marcado ultimamente por situações que parecem se repetir, sem que efetivamente
se chegue a uma solução para estes graves problemas que atingem numerosos cidadãos,
ceifando-lhe até mesmo a vida, quando não os seus bens, conseguidos com o esforço
do trabalho árduo.
A vida é um dom de Deus; sua preservação, desde o seu início
até o seu fim, deve ser uma preocupação, um compromisso de cada um de nós. Essa preocupação
pelo dom da vida deve perpassar todos os âmbitos da sociedade, cumprindo a cada parcela
o que lhe cabe. Desse modo, com a participação de todos se alcança o bem comum.
Mais
uma vez uma verdadeira tragédia se abate sobre nós, mais uma vez todos nós arregaçamos
as mangas e somos solidários com aqueles que sofrem perdas materiais, mas, sobretudo,
a perda dos entes queridos: parentes, amigos e vizinhos. Com todos somos solidários
e queremos encontrar caminhos para o futuro.
É janeiro no Rio de Janeiro:
é verão! Chuvas ocorrem em maior ou menor quantidade causando danos em maior ou menor
tamanho. Este ano a Igreja no Brasil irá propor na Campanha da Fraternidade um tema
importantíssimo para essa realidade atual: Fraternidade e a Vida do Planeta, que em
seu texto base nos recorda: “O clima do planeta é resultante da interação de muitos
fatores, inclusive dos seres que integram a biodiversidade que ele hospeda. De algum
modo, cada ser que habita a Terra contribui na formação e transformação do clima.
Integrante dessa biodiversidade, o ser humano é também um agente que colabora, com
considerável parcela, na composição do clima.
É cada vez mais perceptível que
o planeta passa por um aquecimento, o que tem provocado uma série de mudanças climáticas.
Essa ocorrência, segundo os estudiosos do tema, se deve a um fenômeno denominado “efeito
estufa”, que, se não for devidamente entendido, pode vir a ser taxado facilmente de
“grande vilão” das mudanças climáticas.
O efeito estufa é um processo natural,
sem o qual a temperatura na superfície terrestre seria, durante o dia muito quente,
e à noite muito frio. Assim sendo, pode-se dizer que o efeito estufa é uma espécie
de “instrumento”, mediante o qual a Terra oferece uma temperatura média constante,
necessária para a vida. Além disso, a temperatura do planeta ofereceu as condições
para o desenvolvimento da atual biodiversidade que ele hospeda, configurada ao longo
de mais de três bilhões de anos. Portanto, o efeito estufa é importante para que o
clima de nosso planeta proporcione vida”.
Agora é o momento de dar consolo,
de abrir caminhos para a esperança de um futuro que, preocupando-se pelo dom da vida,
encontre morada digna e tudo mais que dá ao homem a certeza de ter sido criado à imagem
e semelhança de Deus, de ser, em Cristo, filho de Deus. As ajudas oficiais prometidas
nos momentos mais críticos dificilmente se concretizam plenamente. Basta ver as estatísticas
do passado. Neste ano, com o tema da Campanha da Fraternidade seria um bom momento
de encontrar caminhos concretos para um futuro melhor nessa questão. Nestes dias de
sofrimento e de dor, a esperança se redobra à luz da Fé em Cristo Ressuscitado, que
sempre está no meio de nós.
Que possamos, na lembrança de nosso padroeiro
e protetor, pedir que soluções sejam encontradas no sofrimento, na perda e na dor,
e que nossas lágrimas se transformem em terreno fértil para, na solidariedade e na
ajuda recíproca, reconstruirmos as nossas cidades afetadas e as vidas de pessoas paralisadas
diante do desastre natural. Que São Sebastião nos inspire e nos ilumine por dias melhores!
Quero
ser solidário com todos os que perderam os seus entes queridos, que agora entram na
vida divina, rezando por nós que ainda peregrinamos neste vale de lágrimas. Quero
abraçar todos os que estão desabrigados e levar a minha palavra de esperança e de
consolo: Cristo não os abandona neste momento de provação natural! Quero, por fim,
agradecer de coração a todas as paróquias e capelas que compartilham do que têm, e
peço para que continuemos a partilhar gêneros alimentícios, de higiene etc., e dinheiro
para socorrer nossos irmãos que estão vivendo a desolação. Muitos se ofereceram como
voluntários e se encaminharam para essa região. Muitos estão empenhados. É um belo
sinal de fraternidade que recebemos de nossa formação católica nestas terras de Santa
Cruz.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião
do Rio de Janeiro, RJ