SEM OS CRISTÃOS SERIA O FIM DA HISTÓRIA PARA O MUNDO ÁRABE
Roma 19 jan (RV) - Hasni Abidi, um dos mais reconhecidos intelectuais muçulmanos
da Europa, assinalou em um artigo publicado pelo jornal francês Le Monde que a partida
dos cristãos do Médio Oriente constitui o fim da história para o mundo árabe.
No
artigo publicado pelo jornal vaticano L’Osservatore Romano na edição de 13 de janeiro,
Abidi, que é Diretor do Centro de Estudos e Investigação do Mundo Árabe e Mediterrâneo
(CERMAM), com sede em Genebra (Suíça), afirma que “dizer que a presença dos cristãos
deve ser 'tolerada' no mundo árabe é, no fundo, profundamente injusto, porque eles
sempre pertenceram a esta terra que os viu nascer e crescer, terra de seus ancestrais
e da Bíblia”.
Abidi assinala também que os cristãos “não são uma minoria religiosa
vinda de fora para suscitar compaixão ao vê-los. Estão em seus países e devem ficar.
Sua partida é o fim de nossa história e o início de todas as derivas”.
Depois
de criticar o extremismo islâmico contra as comunidades cristãs no Oriente Médio,
Abidi afirma que “alguns analistas não medem a carga de suas declarações quando dizem,
por exemplo, que o fim do colonialismo teria feito que os cristãos perdessem preciosos
apoios, ou como quando apresentam a estes últimos como os 'ocidentalizados' do mundo
árabe”.
Tais apreciações ignoram “a importância do aporte ideológico dos cristãos
à sociedade do Meio Oriente. Significa esquecer que as elites cristãs conceberam e
sustentaram o belo projeto da unidade árabe: a noção de “arabicidade”, forjada em
parte por intelectuais cristãos”.
O especialista questiona em seguida: “como
se pode promover a coexistência das culturas se, ao interior das fronteiras, está
em vigor o culto da maioria e da religião dominante quando não do único partido?"
“Que
credibilidade podem ter os chamados incessantes e repetitivos da Organização da conferência
islâmica e da Organização islâmica para a ciência, a educação e a cultura, que se
erigem como defensores dos muçulmanos que vivem no Ocidente, quando estas duas organizações
permanecem em silêncio culposo ante os atropelos que os cristãos sofrem no Oriente?”
Abidi questiona uma vez mais a credibilidade destas instituições “quando na
prática os governos dos países árabes são incapazes de tutelar seus concidadãos de
confissão cristã ou citam perante a justiça homens e mulheres que escolheram um caminho
distinto ao da maioria”.
“Poucas são as vozes, como a do príncipe saudita Talal
Ibn Abdel Aziz, irmão do rei Abdallah, que se levantam para dizer que a partida dos
cristãos poria em risco a democracia e a modernidade do mundo árabe”.
Finalmente
Hasni Abidi ressalta que “seria bom ter mais destas vozes se queremos suscitar um
debate indispensável. O déficit democrático é em grande parte responsabilidade da
confusão atual. E o Ocidente, que não se atreve a ferir seus aliados, é culpado por
suas más companhias”. (SP)