PAPA AO CORPO DIPLOMÁTICO: DEFENDER EM TODOS OS LUGARES A LIBERDADE RELIGIOSA, AUTÊNTICO
FUNDAMENTO DA PAZ
Cidade do Vaticano, 10 jan (RV) - Buscar o caminho de uma paz autêntica mediante
o respeito pela liberdade religiosa: foi o premente apelo feito por Bento XVI aos
membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, recebidos na manhã desta
segunda-feira na Sala Régia, no Vaticano, por ocasião das tradicionais felicitações
de início de ano.
Falando aos embaixadores, o Papa traçou um quadro sobre a
condição da liberdade religiosa no mundo e voltou a condenar com veemência as violências
anticristãs, em particular no Iraque e no Egito. Em seguida, pediu a abolição da lei,
no Paquistão, sobre a blasfêmia.
Além disso, o Pontífice chamou a atenção para
as tentativas, sobretudo no Ocidente, de marginalizar a dimensão da fé. A saudação
ao Santo Padre foi feita pelo Embaixador Decano Alejandro Valladares Lanza. Atualmente,
178 Estados mantêm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé.
"A dimensão
religiosa é uma característica inegável e irrefreável do ser e do agir do homem":
a reflexão de Bento XVI parte dessa incontrovertível verdade. Falando aos embaixadores
do mundo inteiro, o Papa reiterou que quando o direito à liberdade religiosa é negado
"geram-se desequilíbrios e conflitos a todos os níveis, tanto no plano pessoal como
no interpessoal".
Retomando a Mensagem para o Dia Mundial da Paz, Bento XVI
reafirmou que o direito à liberdade religiosa, muitas vezes colocada em discussão
ou violada, é, na realidade, "o primeiro de todos".
Portanto – acrescentou
- a paz pode-se construir somente se "o homem pode livremente buscar e servir a Deus
em seu coração, em sua vida e nas suas relações com os outros".
Em seguida,
o Pontífice destacou os atentados anticristãos no Iraque, que "nos entristeceram profundamente"
– frisou:
O Pontífice renovou às autoridades do País do Golfo e aos líderes
religiosos o seu "ansioso apelo a trabalharem para que os seus concidadãos cristãos
possam viver em segurança e continuar a prestar a sua contribuição à sociedade de
que são membros com pleno título". Também no Egito, em Alexandria – recordou – "o
terrorismo atingiu brutalmente os fiéis em oração numa igreja".
Tal "sucessão
de ataques" – foi a sua triste constatação – "é um sinal ulterior da urgente necessidade
para os governos da região de adotarem, apesar das dificuldades e ameaças, medidas
eficazes para a proteção das minorias religiosas".
E mais uma vez, o Papa ressaltou
que os cristãos do Oriente Médio "são cidadãos originários e autênticos, leais à sua
pátria e fiéis a todos os seus deveres nacionais".
Em seguida, elogiou aqueles
países do Velho Continente que auspiciaram uma "resposta concertada da União européia"
em defesa dos cristãos na região, e pediu que na Península Arábica – onde vivem numerosos
trabalhadores imigrados cristãos – "a Igreja Católica possa dispor de adequadas estruturas
pastorais":
"Entre as normas que lesam o direito das pessoas à liberdade religiosa
– prosseguiu o Pontífice – uma menção particular deve ser feita à lei contra a blasfêmia
no Paquistão: de novo encorajo as autoridades desse país a realizarem os esforços
necessários para a ab-rogar, tanto mais que é evidente que a mesma serve de pretexto
para provocar injustiças e violências contra as minorias religiosas."
"O trágico
assassinato do Governador do Punjab – advertiu o Papa – mostra como é urgente caminhar
nesse sentido: a veneração a Deus promove a fraternidade e o amor, não o ódio nem
a divisão."
Ademais, Bento XVI expressou preocupação com os ataques contra
os cristãos na Nigéria e com os atos de violência no sul e sudeste asiáticos:
"Por
outro lado, em diversos países, a Constituição reconhece uma certa liberdade religiosa,
mas, de fato, a vida das comunidades religiosas torna-se difícil e por vezes até precária
(cf. Conc. Vat. II, Decl. Dignitatis humanae, 15)."
Daí, o premente
apelo a fim de que "cessem tais ambiguidades, de maneira que os fiéis não se vejam
lacerados entre a fidelidade a Deus e a lealdade à sua pátria".
E, de modo
particular, pediu "que em todos os lugares seja garantida às comunidades católicas
a plena autonomia de organização e a liberdade de cumprir a sua missão".
"Neste
momento, o meu pensamento volta-se de novo para a comunidade católica da China continental
e os seus Pastores, que vivem um período de dificuldade e provação" - afirmou.
Mudando
de latitude, fez uma exortação às autoridades cubanas: "quero dirigir uma palavra
de encorajamento às autoridades de Cuba – país que celebrou, em 2010, setenta e cinco
anos de ininterruptas relações diplomáticas com a Santa Sé – para que o diálogo, que
felizmente se instaurou com a Igreja, se reforce e amplie ainda mais".
Voltando
o nosso olhar para o Ocidente – prosseguiu – "deparamos com outros tipos de ameaças
contra o pleno exercício da liberdade religiosa. Penso, em primeiro lugar, em países
onde se reconhece uma grande importância ao pluralismo e à tolerância, enquanto a
religião sofre uma crescente marginalização. Tende-se a considerar a religião, toda
a religião, como um fator sem importância, alheio à sociedade moderna ou mesmo desestabilizador
e se procura, com diversos meios, impedir toda e qualquer influência dela na vida
social".
"Deste modo, chega-se a pretender que os cristãos ajam, no exercício
da sua profissão, sem referimento às suas convicções religiosas e morais, e mesmo
em contradição com elas, como, por exemplo, quando estão em vigor leis que limitam
o direito à objeção de consciência dos profissionais da saúde ou de certos operadores
do Direito."
Nesse contexto, o Papa disse não ser "possível deixar de alegrar-se
com a adoção pelo Conselho da Europa, no passado mês de outubro, de uma Resolução
que protege o direito do pessoal médico à objecção de consciência face a certos atos
que lesam gravemente o direito à vida, como o aborto".
Em seguida, Bento XVI
chamou a atenção para outra "manifestação da marginalização da religião, e particularmente
do cristianismo", consistente "em banir da vida pública festas e símbolos religiosos,
em nome do respeito por quantos pertencem a outras religiões ou por aqueles que não
acreditam".
Agindo deste modo – observou – "não apenas se limita o direito
dos crentes à expressão pública da sua fé, mas se cortam também raízes culturais que
alimentam a identidade profunda e a coesão social de numerosas nações".
O Santo
Padre agradeceu àqueles países que se associaram ao governo italiano na defesa da
exposição do Crucifixo em lugares públicos:
"Reconhecer a liberdade religiosa
– acrescentou – significa, além disso, garantir que as comunidades religiosas possam
agir livremente na sociedade, com iniciativas nos setores social, caritativo ou educativo.
Pode-se constatar por todo o lado, no mundo, a fecundidade das obras da Igreja Católica
nestes âmbitos. Causa preocupação ver este serviço que as comunidades religiosas prestam
a toda a sociedade, particularmente em favor da educação das jovens gerações, comprometido
ou dificultado por projetos de lei que correm o risco de criar uma espécie de monopólio
estatal em matéria escolar, como se constata, por exemplo, em certos países da América
Latina."
"Quando vários deles celebram o segundo centenário da sua independência,
ocasião propícia para se recordar a contribuição da Igreja Católica para a formação
da identidade nacional – continuou o Papa referindo-se, ainda, à América Latina –
exorto todos os governos a promoverem sistemas educativos que respeitem o direito
primordial das famílias de decidir sobre a educação dos filhos e que se inspirem no
princípio de subsidiariedade, fundamental para organizar uma sociedade justa."
Continuando
a minha reflexão – acrescentou o Pontífice – "não posso passar sem referir outra ameaça
à liberdade religiosa das famílias nalguns países europeus, onde é imposta a participação
em cursos de educação sexual ou cívica que propagam concepções da pessoa e da vida
pretensamente neutras mas que, na realidade, refletem uma antropologia contrária à
fé e à reta razão".
Bento XVI concluiu seu discurso com um premente apelo:
"A
religião não constitui um problema para a sociedade, não é um fator de perturbação
ou de conflito. Quero repetir que a Igreja não procura privilégios, nem deseja intervir
em âmbitos alheios à sua missão, mas simplesmente exercer a mesma com liberdade. (...)
Que nenhuma sociedade humana se prive, voluntariamente, da contribuição fundamental
que são as pessoas e as comunidades religiosas!" (RL)