Campanha, 04 jan (RV) - “Eis que veio o Senhor dos senhores, em suas mãos,
o poder e a realeza”(cf. Ml 3,1; 1Cr 19,12).
Estimados irmãos e irmãs,
A Epifania é a magna celebração da manifestação de Deus ao mundo, na figura dos reis
magos que, representando o mundo inteiro, vão adorar ao menino Jesus na gruta de Belém.
A
liturgia de hoje retoma o tema da luz – luz que brilha não só para o povo oprimido
de Israel, mas para todos os povos, segundo a visão do profeta universalista que escreveu
o fim do livro de Isaías, conforme se viu na proclamação da Primeira Leitura(Is 60,
1-6). A adoração universal em Jerusalém é anunciada em Is 9,1 a nova luz para a região
da Galiléia, despovoada pelas deportações(732 aC). Duzentos anos depois, um profeta
da escola de Isaías repete a mesma imagem, aplicando-a a Sião, ao povo de Judá que,
de volta do exílio, se meteu em reconstruir a cidade e o templo(Is 60,1). “Torna-te
luz”, esquece a fadiga e o desânimo, Deus está perto. As nações devolvem a Israel
seus filhos e filhas que ainda vivem no estrangeiro, e oferecem suas riquezas ao Deus
que realmente salva seu povo. No Novo Testamento, os magos que vêm do Oriente realizam
esta profecia; a eles, o Cristo apareceu como a misteriosa “luz”.
São Paulo,
na sua carta aos Efésios(Ef 3,2-3a.5-6), comenta na segunda leitura que a revelação
é um mistério de Deus também para os pagãos. Não só para os crentes, mas a salvação,
por Jesus, foi inaugurada para todos. Os gentios, portanto, passam a participar das
promessas divinas em Jesus Cristo. As promessas do Antigo Testamento se dirigem a
Israel. Mas Deus vê mais longe. Isso, já os antigos profetas o sabiam, mas o judaísmo
o esqueceu. Até Paulo o aprendeu com surpresa: a revelação do grande mistério, de
que também os gentios são chamados à paz messiânica; e a revelação de sua missão pessoal,
de levar esta Boa-Nova aos pagãos.
Irmãos e Irmãs,
A Festa da Epifania,
no Brasil, tem um significado muito popular, porque é conhecida aqui em Minas como
a festa dos Santos Reis, com as populares “folias de reis”. A festa de hoje, conforme
nós vemos pela tradição, é a festa em que os magos, representando a humanidade inteira,
reconheceram, no Menino de Belém, o Filho de Deus Salvador. Nos dias atuais, o homem
cada vez mais dominando as técnicas do conhecimento, dever ser o homem da fé, que
dobra o joelho em adoração diante do “Menino que nos foi dado”, da parte de Deus,
e reconhecer neste Menino a divindade em carne humana. Em Deus Menino, que não mostra
mais que aparência de criança comum, está o Deus e o Senhor do Universo, Ele vem humilde
para reatar a amizade entre a terra e o céu.
Caros irmãos,
A Epifania
nada mais é do que a adoração dos magos do Oriente. No novo povo de Deus, não importa
ser judeu ou gentio, mas importa a fé. O Evangelho de hoje(Mt 2,1-12) termina com
a missão de evangelizar “todas as nações”(Mt 28,18-20). Mas já no início, os “magos”
representam esta realidade. Em oposição a eles, os doutores judaicos de Jerusalém
sabiam onde devia nascer o Messias, mas a estrela da fé não os conduziu até lá.
Estimados
Irmãos,
A figura de Herodes, o grande, o Rei inescrupuloso que construiu suntuosos
palácios e era o Rei da Judéia, deve estar bem presente, porque o facínora queria
cooptar dos Magos o lugar em que estava o Salvador. Se a literatura bíblica soube
afirmar quem era Herodes, não teve a sutileza de demonstrar quem eram os Reis Magos.
A tradição foi passada de geração em geração dizendo que eram três os Magos: Belquior,
Baltasar e Gaspar, o Negro, representando assim a humanidade pelas três raças: branca,
negra e amarela. Os Magos não eram reis. Mas foram elevados a condição de Reis para
serem valorizados diante do orgulho do falso Rei Herodes.
Mas o que os Magos
levaram para Jesus? Os presentes foram significativos: ouro, incenso e mirra(Cf Mt
2,11). Ouro para significar a realeza de Jesus; incenso para significar a divindade
de Jesus e mirra – uma resina cheirosa, em pó ou líquido, usada para perfumar e compor
os óleos sagrados, porque Cristo quer dizer “ungido”.
Meus irmãos,
A
estrela de Belém significa o firmamento que desce das alturas para reverenciar seu
Criador, agora na gruta de Belém. Afinal, Jesus não veio só para salvar o homem, mas
para redimir a natureza inteira, incluídos os animais e os astros.
Na festa
da Epifania, naquele poético cenário de Belém, ainda estavam os animais representados
pelo boi, pelo burro, pelas pedras, pelas plantas, todas as categorias estavam lá
no teatro do nascimento do Divino Infante. O universo criado por amor, se inclina
humilde e reverente diante do Criador que, por amor, se fez criatura semelhante a
todas as criaturas, sem deixar sua condição divina. O Doutor Angélico viu nos pastores
os homens de perto, e nos magos viu os homens de longe: o perto e o longe se encontram
hoje aos pés de Jesus, porque, a partir de agora, não existem distâncias possíveis
de separar Deus e a humanidade, o Criador e as criaturas. E muito menos separação
entre os homens e mulheres. São Paulo, na magnífica página bíblica de hoje, nos confirma
que a Salvação vem para todos e por isso devemos nos tratar como irmãos. Aqueles que
estão excluídos ou a margem da Igreja devem se sentirem incluídos. E os incluídos
devem perdoar mais e amar sempre.
Meus irmãos,
A Epifania é a festa
dos pobres, dos humildes. Devemos entrar no contexto da pobreza do teatro do nascimento
do Salvador, porque hoje o Menino se mostra, se revela a todos, e todos, conhecendo
a sua origem divina e sabendo seu destino de redentor dos homens, se prostram cheios
de fé confiança inabalável.
A manifestação de Deus aos homens em individual
somente ocorrerá quando o homem reconhecer sua condição de criatura limitada e procurar
o Salvador, o Senhor Jesus. Só aos humildes se revela hoje o Filho de Deus. Na medida
em que nos fazemos pequenos Deus se manifestará a cada um de nós. Pobre e indefeso,
Jesus é o não-poder. Ele não se defende, não tem medo. Em redor dele se unem os povos
que vem de longe: “E avisados, num sonho, voltaram por outro caminho”(Mt 2,12). O
Caminho, na Bíblia é o símbolo da opção de vida da pessoa. Os reis magos optaram por
obedecer à advertência de Deus; optaram pelo Menino Salvador, contra Herodes e contra
todos os que rejeitam o “menino”, matando vida inocente.
A Igreja Católica
é una e universal, mas ela pode coexistir no seu seio bendito “diversos modos” de
viver a única fé. A Igreja Católica não pode ser apenas branca, negra, ou nem mesmo
amarela. Ela é para todas as raças. Também Ela não pode ser proletária, burguesa,
capitalista, ao contrário, a Igreja está aberta para todos. O cristão autêntico não
pode refutar aprioristicamente a novidade ou a originalidade por si mesmas, mas deve
antes verificar se não são elas apenas uma nova dimensão da fé no único Cristo. Muitas
experiências atuais, que às vezes escandalizam os defensores da uniformidade – não
da unidade – são o sinal do vigor da vida da Igreja. Cristo nos dá o sentido de tudo:
Ama a Deus com todo o teu coração; amai-vos uns aos outros como eu vos amei(Mc 12,30;
Jo 13,34). A festa da Epifania nos ensina o sentido eclesial correto: a estrela que
devemos seguir para atingir o nosso autêntico e único centro da Unidade é Jesus Cristo,
o Salvador que nos foi dado.
Que nós possamos hoje reconhecer o Salvador e
fazer uma radical opção pelo seu seguimento. Amém!
Padre Wagner Augusto Portugal Vigário
Judicial da Diocese da Campanha (MG)