JOVENS DE GAZA EMITEM MANIFESTO EXIGINDO PAZ E UMA VIDA NORMAL
Gaza, 03 jan (RV) - "Queremos três coisas: ser livres, ter a possibilidade
de viver uma vida normal, e paz. Isso é pedir demais?" Com essas palavras termina
o documento elaborado por um grupo de jovens da Faixa de Gaza, que se dizem cansados
de sua vida sem perspectivas e sem futuro.
Denominado "Manifesto para a Mudança
da Juventude de Gaza", o texto não poupa ninguém: fustiga o Hamas, o movimento integrista
que controla aquele pequeno território palestino junto ao Mediterrâneo; a al Fatah
(partido da Autoridade Palestina) que não foi capaz de gerir o território; Israel,
pela ocupação; o Egito, porque ajuda o isolamento da Faixa de Gaza desde 2006; e a
comunidade internacional, por sua indiferença.
Elaborado por um grupo de oito
pessoas – três mulheres e cinco homens, estudantes universitários e internautas –
o documento descreve com detalhes, a vida cotidiana na Faixa de Gaza onde, mais de
metade da população – cujo total é de um milhão e meio de habitantes – tem menos de
18 anos.
"Aqui em Gaza, temos medo de ser presos, interrogados, torturados,
bombardeados e mortos" – afirma o texto e antecipa: "Temos medo de viver, porque cada
passo que damos, tem de ser bem calculado e pesado; há limitações por todo o lado,
não podemos nos movimentar como queremos, dizer o que queremos, fazer o que queremos,
por vezes, sequer podemos pensar o que desejamos, porque a ocupação tomou conta do
nosso cérebro e do nosso coração de uma forma tão terrível, que magoa e nos leva a
desejar derramar lágrimas de frustração e raiva."
Os autores do texto – escrito
há três semanas - haviam dado a si mesmos um ano de prazo, para conseguir apoio suficiente
para avançar com outras iniciativas. Mas foram surpreendidos pelo sucesso que tiveram
quando lançaram o documento na web.
"Queremos gritar e quebrar este muro de
silêncio, injustiça e indiferença tal como os F-6 israelenses quebram a barreira do
som; gritar com todo o poder das nossas almas, para libertar esta imensa frustração
que nos consome por causa da situação que vivemos" – afirma o texto e prossegue: "Estamos
fartos de ser envolvidos nesta luta política (...); fartos de ser mantidos nesta prisão
por Israel, de ser espancados pelo Hamas e completamente ignorados pelo resto do mundo."
Os
autores do documento afirmam-se apolíticos e apartidários, mas dois deles já passaram
pela cadeia do Hamas. O texto que produziram é um grito de alerta que ameaça, afinal,
fazer a diferença em Gaza. (AF)