Cidade do Vaticano, 26 dez (RV) - Como é uma família nos dias de hoje? Certamente
a maioria de nossas famílias mora em grandes centros urbanos, é constituída por um
casal e um ou dois filhos. Se possui o terceiro, já começa a ser classificada como
família numerosa. Também a mulher trabalha fora e eles se encontram à noite, cansados,
muitas vezes diante da televisão, ou durante o jantar: uma pequena pausa para os
relatos do dia e programação do amanhã, tudo muito rápido porque precisam descansar
para estarem preparados para a jornada do dia seguinte. E rezar juntos?... quase uma
utopia....Fica difícil rezar juntos, passar valores, enfim, formar os filhos.
Como
entender essa situação e comemorar, dentro das festas de Natal, esse agrupamento humano
muitas vezes sem brilho, não por culpa própria, mas por imposição de um sociedade
pós moderna, ou por uma sociedade que consome o homem através de propostas que nem
sempre são construtivas?
E é aí, nessa situação pos moderna, que o Senhor se
encarna e se solidariza. Ele vem para nos redimir fazendo-se um de nós, para nos devolver
a dignidade de pessoas, a dignidade de filhos de Deus.
O Evangelho destes dias
também nos mostra Jesus, Maria e José como uma família de migrantes, obrigados a deixar
a casa, a levar o lar em seus corações e a instalá-lo, antes em uma estrebaria, e
depois, no exílio do Egito.
Essa família tinha tudo para ser submissa aos
caprichos dos poderosos e aceitar ser mais, uma entre tantas. Na ocasião do nascimento
do Menino encontrava-se circunstancialmente despojada da casinha simples de Nazaré,
bem como de seus pertences, com o bercinho aconchegante feito para o Menino Jesus
que nem pode nele dormir uma única noite, do despojado enxovalzinho que jamais pode
usar porque quando voltaram suas peças já eram pequenas. Foram mandados para longe
dos pais, dos tios, da grande família. Contudo, a dignidade de filhos de Deus era
inata nessa família: o que a caracterizava como verdadeira família era jamais abrir
mão de rezar juntos, de gastar tempo na formação do filho, apesar de terem de trabalhar
para poder sobreviver.
A imagem da Sagrada Família como família migrante e
pobre nos obriga a refazer a imagem de família cristã, retornando às origens e aos
valores, ou seja, de uma família onde pai e mãe dão atenção aos filhos e os filhos
respeitam os pais, e onde os idosos mantém o seu lugar de saberdoria e os referenciais
da tradição. A Família de Nazaré nos leva a cristianizar a família pós moderna, onde
cada um tem o seu lugar e é importante.