REFLEXÃO SOBRE A LITURGIA DA MISSA DA NOITE DE NATAL
Cidade do Vaticano, 25 dez (RV) - Celebrar o nascimento de Jesus é celebrar
a certeza de que os tempos sombrios passaram e a luz, a alegria, a Vida chegaram para
sempre, para estarem conosco além do final dos tempos. O Sol nascente justiceiro,
resplendor da Luz eterna veio e iluminou os que jaziam entre as trevas e, na sombra
do pecado e da morte, estavam sentados.
A primeira leitura da Missa da Noite,
extraída de Isaías, fala para os oprimidos, subjugados pelo sofrimento e morte. Para
eles brilhou uma luz, e a esperança que parecia morta ressurgiu anunciando a chegada
de um tempo de paz e de felicidade. É a nova criação! Deus organizou o caos e fez
a luz! A base dessa esperança e garantia dessa luz é o nascimento de uma criança,
Príncipe da Paz. Ele exercerá e consolidará a justiça, defenderá o povo, os pobres
e os oprimidos.
No Evangelho, Lucas nos fala do nascimento de uma criança,
cujos pais, apesar de descenderam de família nobre, são pobres migrantes que não são
aceitos em casa de parentes e em nenhum lugar e são obrigados, pela necessidade, a
se instalarem em um abrigo usado para proteger animais.
Os pais dessa criança
moram em Nazaré, mas por ordem do imperador foram obrigados a viajar para Belém, para
o recenceamento apesar do estado adiantado da gravidez de Maria. Do mesmo modo, o
pai putativo da criança, José, possui em sua terra uma profissão, é carpinteiro. Contudo,
tanto o enxoval preparado com muito carinho pela futura mamãe, como o bercinho, feito
com todo amor pelo papai José, tiveram de ser deixados em Nazaré e o casal só viajou
com o estritamente necessário porque eram pobres.
Imaginemos o estado dos
pés de José, caminhando 150 km para obedecer a ordem de César Augusto. Imaginemos
seu coração preocupado em instalar decentemente sua esposa grávida, como atendê-la
na hora do parto? Como providenciar o necessário?
Passemos também para o coração
de Maria. Que transtorno no final da gravidez! Isabel, cuja gravidez se desenvolveu
em idade avançada, teve paraentes oara ajudá-la, inclusive ela, Maria, estava lá.
Agora se encontram sómente ela e José, mas Deus providenciará tudo, afinal, Ele é
o Pai da criança.
Reflitamos sobre o para que desse transtorno em duas vidas
que já haviam se entregado a Deus, já haviam permitido ao Senhor interferir em suas
vidas, em mudá-las de uma situação tranquila, convencional, para uma situação conflitante,
difícil.
O Senhor ama muito Maria e José e confia muitíssimo neles. Por isso
os escolheu para serem agentes importantíssimos de seu plano de redenção do mundo.
Deus não apenas pediu aos dois para serem pais de Seu Filho, mas desejou que eles
colaborassem também na missão do Filho. Jesus veio nos redimir na pobreza, na obediência,
e sendo plenamente homem. Jesus nasce sob o governo de ditadores, em uma terra subjugada,
filho de um casal sem posses, perseguido por ser amaeça aos poderosos. Ele quis ser
pobre desde o início de sua vida mortal, quis viver a vida da maioria das pessoas
comuns.
Sabendo ler a mensagem do Senhor nesses acontecimentos, podemos apreender
o que Ele quer nos dizer, ou seja, que a salvação não virá dos poderosos, já que eles
dominam e oprimem e nem da Roma poderosa, mas de Belém – na perifieria do mundo –
e de uma criança, filha de pessoas pobres. Considerando a leitura de Isaías, reconhecemos
no Filho de Maria e de José o menino cujo nascimento redentor ele anunciou.
Os
anjos irão anunciar esse evento a outro grupo de marginalizados, os pastores, e o
fazem cantando glória a Deus e saudando aqueles que vivem no benquerer de Deus. Os
pastores se dirigem ao lugar indicado pelos anjos e encontram o Senhor em um ambiente
familiar a eles que cuidam de animais. A pobreza do Senhor é o sinal de fraternidade,
de partilha do modo de ser, é a salvação que se aproxima dos pobres na fragilidade
de uma criança pobre.
Por fim a Carta a Tito nos fala que “A graça de Deus
se manifestou trazendo a salvação a todos os homens”. Deus, em sua sabedoria, não
nos tira de situações adversas, mas nos liberta dentro dessas situações. O mundo
em que vivemos é um mundo cheio de pecados, de arrogância, de consumismo, de puxação
de tapete. É aí, - nesse ambiente que abre as portas ao opressor, ao poderoso, ao
rico e as fecha ao pobre, ao humilde - que o Senhor nos pede viver sua mensagem de
paz, de benquerer, de não apenas ser solidário ao pobre, mas viver como pobre, como
Ele viveu e morreu. Cristo teve como berço uma mangedoura e como leito de morte, uma
cruz entre dois bandidos. Ele nos pede romper com os esquemas de uma sociedade injusta
e opressora e que nos comprometamos com a liberdade e a vida para todos os homens.
É Natal! Nasceu a criança predita por Isaías, o redentor dos pobres, dos oprimidos.
Nós que cremos em sua mensagem de amor e de paz, deveremos viver neste mundo de modo
coerente com nossa fé, sendo para todos os homens um sinal forte e eloquente como
a estrela de Belém. Lembremos todos do Senhor, todos aqueles que são benquistos por
Ele. Construamos um mundo novo, baseado no perdão e na fraternidade. Não importa nossa
pequenez, nossa fragilidade. É em nossa fraqueza que o Senhor mostrará o Seu poder.
Importa seguir os apelos amorosos do Senhor e anunciar ao mundo o Natal de uma nova
sociedade.