BENTO XVI SOBRE O NATAL: HÁ DOIS MIL ANOS A NOVIDADE DE UM ENCONTRO COM O SENHOR DEUS-MENINO
Cidade do Vaticano, 23 dez (RV) - Reencontrar a "disposição do coração" que
permite viver a essência do Natal. O encontro com Aquele que vem morar no meio de
nós: Cristo Jesus, o Filho de Deus feito homem". Com essas palavras, Bento XVI explicara
– na audiência geral desta quarta-feira – a atitude com a qual os cristãos devem se
predispor ao Natal.
Trata-se do tema do encontro do homem com o Senhor Deus-Menino,
que o Papa reiteradas vezes abordou em suas reflexões sobre a Natividade, como destacamos
a seguir.
Em todo Natal é a mesma história, mas não a história que começou
uma noite de dois mil anos atrás, em Belém. Em todo Natal o que normalmente nasce
é a vontade de concluir um ano o mais possível sem preocupações, e nisso o ímpeto
comercial do Natal se oferece como um lugar ideal sempre fascinante e, francamente,
sempre igual a si mesmo.
O Natal de dois mil anos atrás não tinha nenhuma marca
autocelebrativa, se se excetua uma bonita estrela despontada no céu. E foram realmente
poucos os que intuíram encontrar-se no alvorecer de um novo mundo, onde o céu e a
terra se haviam há pouco tocado.
Um fato simples e claro, narrado pelos Evangelhos,
demonstra o que realmente se deu naquela que Bento XVI definiu na audiência geral
desta quarta-feira como sendo "a noite do mundo": deu-se um encontro.
Um encontro
entre um recém-nascido e um grupo de pastores, uma humilde amostra da raça humana,
onde o Deus Menino fez amizade com aqueles para os quais viera e pela primeira vez
os homens contemplaram, sem sabê-lo, Aquele que os haveria de salvar.
Então,
para celebrar realmente o Natal não há alternativa: é preciso chegar a esse encontro,
silenciando o barulho e o stress festivo em vista de um Nascimento que não é uma marca,
mas um mistério, o qual correria o risco de passar inobservado:
"Deus mostra-se
a nós humilde "criança" para vencer a nossa soberba. Talvez nos rendêssemos mais facilmente
diante da potência, diante da sabedoria; mas Ele não quer nossa rendição; Ele apela
ao nosso coração e à nossa livre decisão de aceitar o seu amor. Fez-se pequeno para
libertar-nos daquela pretensão humana de grandeza que brota da soberba; livremente
encarnou-se para tornar-nos verdadeiramente livres, livres de amá-lo." (Audiência
Geral, 17 de dezembro de 2008)
Todavia, há quem rejeite a liberdade de
amar aquela Criança: por calculado desprezo ou soberana indiferença e todo outro sentimento
que possa existir. Não obstante o anseio por esse encontro jamais tenha desaparecido
dos corações:
"De certo modo a humanidade espera Deus, a sua proximidade. Mas
quando chega o momento, não há lugar para Ele. Encontra-se tão ocupada consigo mesma,
precisa de todo o espaço e de todo o tempo de modo muito exigente para os próprios
afazeres, de modo que não sobra nada para o outro – para o próximo, para o pobre,
para Deus." (Missa da Noite de Natal, 25 de dezembro de 2007)
Mas Deus
– afirmou Bento XVI – não se deixa fora desse encontro. "O mistério de Belém revela-nos
o Deus conosco, o Deus próximo a nós, não simplesmente em sentido espacial e temporal;
Ele nós é próximo porque "desposou", por assim dizer, a nossa humanidade":
"Portanto,
a alegria cristã brota desta certeza: Deus se faz próximo, está comigo, está conosco,
na alegria e na dor, na saúde e na doença, como amigo e esposo fiel. E essa alegria
permanece também na provação, no próprio sofrimento, e permanece não na superfície,
mas no profundo da pessoa que se entrega a Deus e n'Ele confia." (Angelus, 16 de
dezembro de 2007)
Os cristãos, que mais que os outros deveriam ser capazes
de trocar o rumor pelo silêncio da gruta de Belém, são convocados, ano após ano, a
renovar o encontro, tendo a "justa disposição do coração" – repetiu o Papa na Audiência
Geral desta quarta-feira:
"Cabe a nós abrir, escancarar as portas para acolhê-lo.
Aprendamos de Maria e José: coloquemo-nos com fé a serviço do desígnio de Deus. Embora
não o compreendamos plenamente, confiemo-nos à sua sabedoria e bondade. Busquemos,
em primeiro lugar, o Reino de Deus, e a Providência nos ajudará. Bom Natal a todos!"
(Angelus, 20 de dezembro de 2009) (RL)