2010 ano histórico para a Igreja em Portugal : Visita de Bento XVI em primeiro plano
no balanço feito pelo presidente da Conferência Episcopal
(23/12/2010) O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considera que
o ano de 2010 vai ficar marcado pela visita de Bento XVI ao nosso país, um acontecimento
que classifica como “histórico”. Em entrevista à Agencia ECCLESIA, D. Jorge Ortiga
assinala que esta visita “serviu para que desaparecessem clichés” sobre Bento XVI
e “crescesse o amor ao Papa, determinante para acolher a sua mensagem”. O arcebispo
de Braga refere que o convite da CEP “coincidiu também com a vontade do Papa em ser
peregrino de Fátima”, dando origem à viagem que decorreu entre 11 e 14 de Maio. A
este respeito, D. Jorge Ortiga diz que “Fátima tem uma dimensão de anúncio, em nome
de Deus, para toda a sociedade”. Ainda recordando as intervenções de Bento XVI,
o arcebispo de Braga refere que “é necessária uma presença muito concreta nos variados
âmbitos da sociedade: na cultura, na escola, na universidade e outros lugares”. “Nós
já soubemos estar, já soubemos ser fermento na sociedade e que talvez hoje tenhamos
centralizado a acção da Igreja dentro dela própria”, considera. Para o presidente
da CEP “há alguns leigos e padres que «clericalizam» a pastoral, centralizando tudo
na pessoa do padre ou do bispo”, em vez de “unir as diversidades de pessoas, de competência
e de funções”. O ano que passou foi ainda marcado, a nível eclesial, pelos casos
de abuso sexual de menores por parte de membros do clero, com D. Jorge Ortiga a afirmar
que “o Santo Padre foi extremamente feliz, quando veio a Portugal, ao reconhecer que
o pecado está dentro da Igreja”. “São situações que envergonham e entristeçam a
Igreja. Esperemos que seja uma situação ultrapassada, que os casos de abuso não se
repitam e exista maior cuidado na preparação e formação para o sacerdócio”, afirma. Os
casos foram conhecidos em pleno Ano Sacerdotal, que terminou a meados de 2010, iniciativa
que, para D. Jorge Ortiga, não foi “devidamente preparada”. Sobre o centenário
da República, em Portugal, o presidente da CEP lamenta que não tenham existido conclusões
“a respeito do exercício da democracia, vendo o que a supõe e como deveria ser exercida,
quais as exigências da «re-pública», da coisa pública. “Este centenário poderia
ser uma oportunidade para analisar, por exemplo, o que faz, e como faz, o Parlamento”,
refere. Para o arcebispo de Braga, “a democracia participativa não se pode limitar
ao dia do voto, expresso muitas vezes sem conhecimento do programa, da ideologia do
partido. Em relação ao ano europeu do combate à pobreza e à exclusão social, D.
Jorge Ortiga critica a ausência de “iniciativas concretas para a verdadeira erradicação
da pobreza, com o compromisso dos Estados”. Ao passar em revista os acontecimentos
do ano 2010, o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa fala em novo momento
civilizacional e alerta contra tendências conservadoras apegadas ao passado e afirma
a necessidade da Igreja «sair das sacristias», desafiando os católicos à coerência
na vida política “sacrificando mesmo o carreirismo”.