2010-12-20 10:59:49

A liberdade religiosa e a procura da paz em África


“Liberdade religiosa, caminho para a paz”, é o tema que o Papa Bento XVI escolheu para o 44º Dia Mundial da Paz, que se celebra no dia 1 de Janeiro de 2011. O Papa escolheu este tema no momento em que se verificam no mundo diversas formas de obstáculos à liberdade religiosa que desabrocham, por vezes, mesmo em violência e morte contra minorias religiosas.

Dado que os cristãos se encontram, actualmente, entre os mais perseguidos por causa da própria fé (basta pensar nos recentes episódios de intolerância religiosa na Ásia, África e Médio Oriente) o Papa oferece, através da sua mensagem, respostas às questões fundamentais que o ser humano se põe hoje sobre as diversas dimensões da vida.

Bento XVI indica como critério fundamental para se chegar a uma verdadeira liberdade religiosa, a coerência na procura da verdade e, a partir dela, a dignidade humana. O que significa que não há lugar para instrumentalizações da religião para fins culturais, sociais ou políticos, nem para fanatismos religiosos ou anti-religiosos.

O Papa retoma a declaração que fez nas Nações Unidas acerca dos direitos humanos que, sublinhou, devem incluir, de forma clara, o direito à liberdade religiosa, entendida como expressão duma dimensão ao mesmo tempo comunitária e individual, fazendo emergir a integralidade da pessoa humana.

Para poder gozar plenamente desses direitos, Bento XVI sublinha que a pessoa humana não deve renunciar a nenhum dos componentes do seu ser: “Não é difícil imaginar que haja crentes que se vêem obrigados a renunciar a uma parte de si mesmos, da sua fé, a fim de ser cidadãos activos. Não deveria ser nunca necessário renegar a Deus para se poder gozar dos próprios direitos”

À questão porque é que a liberdade religiosa é o caminho para a paz, Bento XVI responde que o ser humano não pode ser fragmentado, subtraído à sua fé, pois isso tem um impacto significativo na sua vida, na sua pessoa. Recusar a liberdade religiosa equivale, portanto, a fragmentar a unidade da pessoa, uma agressão, portanto, à sua integridade, um acto de violência.

África

A importância da religião para o ser humano enquanto individuo e membro duma comunidade esteve sempre no centro da vida social em África. As sociedades africanas são reconhecidas como sociedades fundamentalmente religiosas.

No entanto, o ano que agora se conclui foi marcado, em África, por uma forma subtil de falta de respeito pela liberdade religiosa: tal como o factor étnico, também a religião foi, não raro, politizada, tornando-se numa das causas de conflitos.

Antes da chegada do cristianismo e do islão, as sociedades africanas eram marcadas pela Religião Tradicional Africana que, mais do que uma religião, é um estilo de vida, em que é difícil separar o religioso do profano, uma sociedade em que cada ser vivo, cada objecto reconduz a Deus; um ambiente de vida donde surgiu a grande maioria dos adeptos africanos ao cristianismo.

Actualmente, o mapa das religiões em África é um mosaico em que se entrelaçam pertenças étnicas e religiosas e, não coincide necessariamente com o mapa político do continente.

Muitos Estados africanos declaram-se laicos mas, por efeito duma espécie de lei não escrita, a religião da maioria da população torna-se a mais visível, passando, por vezes, para segundo plano, o respeito pelas religiões minoritárias, não podendo os chefes dessas religiões exprimir a sua opinião sobre a sociedade.

Alguns exemplos: a componente religiosa entrelaça-se com muitos dos conflitos comunitários na Nigéria; no Sudão, o próximo referendo pela auto-determinação do Sul do país envolve também aspectos religiosos, sendo o Norte habitado essencialmente por muçulmanos enquanto que no Sul prevalecem cristãos e adeptos da Religião Tradicional Africana. No Egipto assistiu-se este ano a agressões contra minorias cristãs, etc.

Para enfrentar estes desafios, o Papa Bento XVI exorta ao diálogo a fim de que os indivíduos que vivem num mundo globalizado e multi-religioso possm caminhar em direcção à unidade e à paz.

Também os Padres sinodais, por ocasião da segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África, indicaram a promoção do dialogo e do respeito do outro como caminho para que os crentes possam trabalhar juntos, em espírito de confiança recíproca e de entreajuda. Propuseram o dialogo também com os muçulmanos e com os adeptos da Religião Tradicional Africana, religiões que devem ser melhor estudadas e conhecidas em espírito de colaboração e amizade.

Os bispos convidaram ao discernimento sobre os pontos de ruptura por forma a tornar possível a distinção necessária entre o cultural e o religioso.

Essas proposições do Sínodo foram feitas a fim de as religiões se tornarem um importante factor de unidade e de paz para a África e para toda a Família Humana.








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