A liberdade religiosa e a procura da paz em África
“Liberdade religiosa, caminho para a paz”, é o tema que o Papa Bento XVI escolheu
para o 44º Dia Mundial da Paz, que se celebra no dia 1 de Janeiro de 2011. O Papa
escolheu este tema no momento em que se verificam no mundo diversas formas de obstáculos
à liberdade religiosa que desabrocham, por vezes, mesmo em violência e morte contra
minorias religiosas.
Dado que os cristãos se encontram, actualmente, entre
os mais perseguidos por causa da própria fé (basta pensar nos recentes episódios de
intolerância religiosa na Ásia, África e Médio Oriente) o Papa oferece, através da
sua mensagem, respostas às questões fundamentais que o ser humano se põe hoje sobre
as diversas dimensões da vida.
Bento XVI indica como critério fundamental
para se chegar a uma verdadeira liberdade religiosa, a coerência na procura da verdade
e, a partir dela, a dignidade humana. O que significa que não há lugar para instrumentalizações
da religião para fins culturais, sociais ou políticos, nem para fanatismos religiosos
ou anti-religiosos.
O Papa retoma a declaração que fez nas Nações Unidas acerca
dos direitos humanos que, sublinhou, devem incluir, de forma clara, o direito à liberdade
religiosa, entendida como expressão duma dimensão ao mesmo tempo comunitária e individual,
fazendo emergir a integralidade da pessoa humana.
Para poder gozar plenamente
desses direitos, Bento XVI sublinha que a pessoa humana não deve renunciar a nenhum
dos componentes do seu ser: “Não é difícil imaginar que haja crentes que se vêem obrigados
a renunciar a uma parte de si mesmos, da sua fé, a fim de ser cidadãos activos. Não
deveria ser nunca necessário renegar a Deus para se poder gozar dos próprios direitos”
À questão porque é que a liberdade religiosa é o caminho para a paz, Bento
XVI responde que o ser humano não pode ser fragmentado, subtraído à sua fé, pois isso
tem um impacto significativo na sua vida, na sua pessoa. Recusar a liberdade religiosa
equivale, portanto, a fragmentar a unidade da pessoa, uma agressão, portanto, à sua
integridade, um acto de violência.
África
A importância da religião
para o ser humano enquanto individuo e membro duma comunidade esteve sempre no centro
da vida social em África. As sociedades africanas são reconhecidas como sociedades
fundamentalmente religiosas.
No entanto, o ano que agora se conclui foi marcado,
em África, por uma forma subtil de falta de respeito pela liberdade religiosa: tal
como o factor étnico, também a religião foi, não raro, politizada, tornando-se numa
das causas de conflitos.
Antes da chegada do cristianismo e do islão, as sociedades
africanas eram marcadas pela Religião Tradicional Africana que, mais do que uma religião,
é um estilo de vida, em que é difícil separar o religioso do profano, uma sociedade
em que cada ser vivo, cada objecto reconduz a Deus; um ambiente de vida donde surgiu
a grande maioria dos adeptos africanos ao cristianismo.
Actualmente, o mapa
das religiões em África é um mosaico em que se entrelaçam pertenças étnicas e religiosas
e, não coincide necessariamente com o mapa político do continente.
Muitos
Estados africanos declaram-se laicos mas, por efeito duma espécie de lei não escrita,
a religião da maioria da população torna-se a mais visível, passando, por vezes, para
segundo plano, o respeito pelas religiões minoritárias, não podendo os chefes dessas
religiões exprimir a sua opinião sobre a sociedade.
Alguns exemplos: a componente
religiosa entrelaça-se com muitos dos conflitos comunitários na Nigéria; no Sudão,
o próximo referendo pela auto-determinação do Sul do país envolve também aspectos
religiosos, sendo o Norte habitado essencialmente por muçulmanos enquanto que no Sul
prevalecem cristãos e adeptos da Religião Tradicional Africana. No Egipto assistiu-se
este ano a agressões contra minorias cristãs, etc.
Para enfrentar estes desafios,
o Papa Bento XVI exorta ao diálogo a fim de que os indivíduos que vivem num mundo
globalizado e multi-religioso possm caminhar em direcção à unidade e à paz.
Também
os Padres sinodais, por ocasião da segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos
para a África, indicaram a promoção do dialogo e do respeito do outro como caminho
para que os crentes possam trabalhar juntos, em espírito de confiança recíproca e
de entreajuda. Propuseram o dialogo também com os muçulmanos e com os adeptos da Religião
Tradicional Africana, religiões que devem ser melhor estudadas e conhecidas em espírito
de colaboração e amizade.
Os bispos convidaram ao discernimento sobre os pontos
de ruptura por forma a tornar possível a distinção necessária entre o cultural e o
religioso.
Essas proposições do Sínodo foram feitas a fim de as religiões
se tornarem um importante factor de unidade e de paz para a África e para toda a Família
Humana.