Cidade do Vaticano, 17 dez (RV) - Uma “lição” sobre um princípio fundamental
e, muitas vezes maltratado pela política e pela diplomacia, a fraternidade humana,
em prol de outros valores mais universalmente populares: foi o que fez Bento XVI na
manhã desta quinta-feira aos cinco novos embaixadores junto à Santa Sé do Nepal, Zâmbia,
Andorra, Ilhas Seychelles e Mali, recebidos em audiência para a apresentação das Cartas
credenciais.
A mobilização mundial pró-Haiti, que durou um ano inteiro, em
síntese demonstrou muito mais do que muitas palavras: não existe verdadeira comunidade
internacional, sem o mútuo apoio entre as nações. No entanto, - observou Bento XVI,
não sem alguma decepção - , que a fraternidade humana nas relações entre os Estados
é pouco reconhecida nas palavras e quase nada praticada. Isto porque, afirmou o Papa,
mas sendo “bonito”, este ideal encontrou no desenvolvimento do pensamento filosófico
e político pouca ressonância em relação a outros ideais como liberdade, igualdade,
progresso e unidade. Trata-se de um princípio que se manteve em grande parte letra
morta nas sociedades políticas modernas e contemporâneas, especialmente por causa
da influência exercida pelas ideologias individualistas ou coletivistas”.
Para
viver com dignidade, repetiu o Papa, “todos os seres humanos precisam de respeito”,
e portanto que a justiça e os direitos “sejam explicitamente reconhecidos”. No entanto,
acrescentou, “isso não é suficiente para levar uma vida plenamente humana: de fato,
a pessoa também precisa da fraternidade”. E mesmo se, destacou o Papa, a globalização
aproxima os homens uns dos outros, isso não significa que os “torna irmãos”.
Em
seu discurso, ao embaixador do Nepal, Suresh Prasad Pradhan, o Papa manifestou a esperança
de que o novo curso político no país possa ajudar a trazer estabilidade, prosperidade
e harmonia para o futuro do Nepal. E encorajou o Nepal a continuar na afirmação dos
ideais democráticos e na promoção dos direitos humanos e liberdades fundamentais.
O Papa falou ainda sobre a contribuição que a minoria católica oferece ao bem comum
da sociedade nepalesa, em particular através da educação e atividades caritativas.
O Papa auspiciou que o governo continue a apoiar a presença da Igreja no campo da
saúde e educação. Bento XVI concluiu seu discurso com a esperança de que o espírito
de tolerância prevaleça, e se reforçe o diálogo e a cooperação entre os católicos
nepaleses e os cidadãos de outras religiões.
Sobre a necessidade de justiça
e solidariedade, especialmente para com os mais desfavorecidos, Bento XVI falou em
seu discurso ao novo embaixador da Zâmbia junto à Santa Sé, Royson Mukwena Mabuku.
Em particular, o Papa defendeu mais uma vez o direito fundamental e inviolável à vida,
que a Igreja - disse – “continua a defender, sem exceção” da concepção à morte natural.
O Papa também lançou o seu olhar para a questão da situação econômica da Zâmbia: a
Santa Sé, afirmou, encoraja os esforços no setor agrícola e espera que o crescimento
econômico, se conjuge com a melhoria das condições de vida da população, especialmente
no que diz respeito à saúde, infra-estruturas e oportunidades educativas. Por sua
vez, a Igreja, assegurou Bento XVI, continuará a contribuir ativamente na luta contra
a malária e AIDS no campo da educação à prevenção e do desenvolvimento do conceito
de higiene e cuidados pessoais, bem como promovendo ao mesmo tempo a responsabilidade
moral e a fidelidade matrimonial como instrumento para deter a propagação do vírus
HIV.
Com o Embaixador do Principado de Andorra, Miquel Ángel Canturri Montanya,
Bento XVI, falou, entre outras coisas sobre o aspecto da recente evolução demográfica
registada pelo pequeno país, localizado entre a França e a Espanha, e com uma área
territorial que não chega a 500 km ². Muitos jovens do Principado, observou o Papa,
estão retornando às suas origens e isto comporta “uma necessária tomada de consciência
e responsabilidade por parte das instituições”, pois “a harmonia social, que poderia
ser desequilibrada, não está ligada apenas a um quadro legislativo adequado e equitativo,
mas também à qualidade moral de cada cidadão”. Esta consideração levou Bento XVI a
reafirmar o conceito de bem comum como valor pelo qual é necessário lutar com “determinação
firme e perseverante”. Os princípios éticos, acrescentou, permitem consolidar a democracia
e os habitantes de Andorra viver “os milenares valores positivos, valores impregnados
de cristianismo, e de cultivar e de preservar a sua identidade”.
Um país onde
muito já foi alcançado em termos de paz, prosperidade econômica e estabilidade política
e social é a República das Seychelles. Estes objectivos – reconheceu o Papa na presença
do novo embaixador junto à Santa Sé do Estado asiático, Fock Vivienne Tave - foram
alcançados somente graças à contribuição de todos na esfera política e social, nos
setores público e privado. O desenvolvimento, destacou porém Bento XVI, não deve ser
apenas material mas também espiritual e deve ser baseado na solidariedade humana que,
afirmou, tem a suas raízes na instituição familiar.
Finalmente, com o diplomata
Boubacar Sidiki Touré, novo representante do Mali junto à Santa Sé, Bento XVI recordou
os 50 anos de independência celebrado em 2010. No campo social e democrático, há muito
ainda a ser feito, disse o Pontífice. Os principais objetivos, destacou, são certamente
a paz civil e o direito de acesso aos alimentos, mas também lutar contra qualquer
tipo de discriminação, seja étnica ou religiosa, e do individualismo crescente. A
esperança, disse Bento XVI, reside nas novas gerações, portanto se deve investir na
sua formação: um campo no qual a Igreja, concluiu o Papa, oferece há muito tempo uma
excelente contribuição. (SP)