Não se podem negar, esquecer ou marginalizar as características especiais de da Itália,
pela presença em Roma da sede episcopal do Chefe visível da Igreja Católica: lembrou
Bento XVI, em audiência ao novo Embaixador da Itália
O autêntico progresso social não se pode alcançar marginalizando ou recusando mesmo
o factor religioso – advertiu Bento XVI, recebendo nesta sexta-feira as Cartas Credenciais
do novo Embaixador da Itália junto da Santa Sé, Francisco Maria Greco. Assegurando
que acompanha “de perto, com a oração, as vicissitudes felizes ou tristes” do país,
o Papa evocou as celebrações, em curso, dos 150 anos da unidade de Itália, “ocasião
(disse) para uma reflexão não só de tipo comemorativo, mas também em perspectiva de
projecto, bem oportuna na actual difícil fase histórica, nacional e internacional”.
Bento XVI fez notar que neste “caminho longo, árduo e cheio de contrastes, que conduziu
à actual fisionomia do Estado italiano”, sobressai a busca de “uma correcta distinção”
entre a comunidade civil e religiosa, assim como das “justas formas de colaboração”
entre si. Exigência sentida por maioria de razão num país “cuja história e cultura
estão profundamente marcadas pela Igreja católica e em cuja capital tem a sua sede
episcopal o Chefe visível de tal Comunidade, difundida em todo o mundo”. “Não
se podem negar, esquecer ou marginalizar estas características, que desde há séculos
fazem parte do património historio e cultural da Itália. A experiência destes 150
anos ensina que quanto se procurou fazê-lo, se causaram perigosos desequilíbrios e
dolorosas fracturas na vida social do país”. Daqui a importância, recordada
pelo Papa (como também, já antes, no discurso do novo Embaixador), do Pacto de Latrão
(1929) e de um mais recente Acordo com alguns ajustamentos. “Estes pactos
internacionais não exprimem uma vontade da Igreja ou da Santa Sé de obter poder, privilégios
ou posições de vantagem económica e social, nem com isso se pretende sair fora do
âmbito que é próprio da missão estabelecida pelo Divino Fundador à sua comunidade
na terra. Pelo contrário, tais acordos têm o seu fundamento na justa vontade da parte
do Estado de garantir aos indivíduos e à Igreja o pleno exercício da liberdade religiosa”. Para
além de ser um direito individual – precisou Bento XVI – a liberdade religiosa é também
um direito da família, dos grupos religiosos e da Igreja, e “o Estado está chamado
a tutelar não só os direitos dos crentes à liberdade de consciência e de religião,
mas também o legítimo papel da religião e das comunidades religiosas na esfera pública”. “Não
se pode pensar conseguir o autêntico progresso social, percorrendo o caminho da marginalização
ou até mesmo da recusa explícita do factor religioso, como nos nossos tempos se tende
a fazer com várias modalidades, entre as quais, por exemplo, a tentativa de eliminar
dos lugares públicos a presença visível dos símbolos religiosos, a começar pelo crucifixo,
que é sem dúvida o emblema por excelência da fé cristã, mas que, ao mesmo tempo, fala
a todos os homens de boa vontade e, como tal, não é um factor que discrimine”. A
propósito deste exemplo concreto, Bento XVI exprimiu ao governo italiano o seu apreço
pela posição assumida (disse), “em conformidade com uma correcta visão da laicidade
e à luz da sua história, cultura e tradição”. Idêntico elogio à sociedade italiana
e às autoridades de Roma, pela “sensibilidade” que vêm demonstrando em relação à “sorte
daquelas minorias cristãs que, em razão da sua fé, são vítimas de violências, são
discriminadas ou constrangidas à emigração forçada da sua pátria.