Campanha, 12 dez (RV) - “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo:
alegrai-vos! O Senhor está perto!” (cf. Fl 4,4s).
Meus queridos irmãos,
Celebramos
o terceiro domingo do advento que é conhecido na história da Igreja em conformidade
com a antífona de entrada de hoje: o domingo chamado GAUDETE, ou seja, o domingo alegre,
ou ainda, o domingo das alegrias. Este é o espírito que deve permear toda a liturgia
hodierna: a alegria. A primeira leitura(cf. Is 35, 1-6a.10), mais uma “utopia” de
Isaías que tem seu correspondente no Evangelho – que fala dos cegos e dos coxos curados:
a obra do Messias; e o Salmo Responsorial, cantando a bondade de Deus que abre os
olhos aos cegos.
O júbilo da natureza, a cura dos enfermos, a volta dos exilados
é o que nos anuncia Isaías, pelo sonho da salvação. A vinda salvadora de Deus transforma
o deserto em paraíso, cura os enfermos, vence a maldição do pecado de Adão. Liberdade,
alegria, felicidade: a gente, hoje em dia, gostaria de vê-las antes de acreditar que
existem. Mas Deus dá um novo modo de ver, ouvir e falar. Recebemos novas capacidades
para acatar a verdade e a realidade de Deus. E isto é o essencial, em nossa vida.
A
alegria, também, permeia a segunda leitura(cf. Tg 5,7-10), dentro de um contexto bem
diferente: recordando a espera da primeira vinda de Jesus, preparamo-nos para a segunda
vinda de Cristo. São Tiago nos ensina a manter nossa fé preservada até a segunda vinda,
com a paciência do lavrador que aguarda a chuva. Grande constância a que somos chamados:
temos diante dos olhos a inefável proximidade do Senhor que é a nossa única alegria.
Todos nós somos convidados a aguardar sem desistência a vinda do senhor. Depois da
pregação escatológica aos ricos(Tg 5,1-6), São Tiago dirige-se aos seus irmãos, os
pobres: eles devem viver em firmeza permanente até que venha o Senhor. A fé do pobre
é esperança; o rico não pode esperar, porque o medo o oprime. A proximidade da vinda
do Senhor provoca uma segunda admoestação: diante do juízo próximo, mútua acusação
e rixa são proscritas. Tiago ilustra suas admoestações com exemplos: o agricultor,
que firmemente aguarda a colheita; 2) os profetas, que não se cansam em falar a palavra
de Deus e 3) a paciência de Jó.
Estimados Irmãos,
Isaias nos ensinou
as coisas bonitas que virão com a chegada do Messias: fecundidade, alegria, flores,
presença de Deus, coragem, esperança, salvação, libertação e recompensa. Tiago, por
seu turno, na segunda leitura, ressalta que devemos ter uma grande paciência na espera
da vinda gloriosa de Cristo Jesus, como justo Juiz. Nós somos cristãos, por isso urge
estarmos sempre preparados, pois não sabemos nem o dia e nem a hora. É sempre necessário
estarmos vigilantes desde a aurora, ansiosos pelo Senhor que vem nos julgar.
Agora
entre as coisas bonitas e a vigilância paciente da vinda do Cristo temos que contemplar
o que pede o Evangelho: fazer acontecer o Reino de Deus entre nós. Esta é a nossa
missão, que deve ser uma missão de alegria.
O Evangelho(cf. Mt 11,2-11) nos
ensina que Jesus é mesmo a quem devemos esperar. Jesus cura os enfermos, traz boa-nova
para os pobres. Os judeus se defrontam com a pergunta se Jesus é “o que deve vir”,
o Messias, em quem a lei e os profetas chegam à plenitude. João Batista depois de
O ter anunciado como juiz escatológico, coloca-O, agora, como representante do Antigo
Testamento, com a pergunta decisiva: “És tu?”.
João Batista, o precursor,
e Maria, a Virgem, são os dois protagonistas da chegada do Salvador. Jesus encarnando-Se
no Seio Virginal da Mãe concretiza na humanidade o Reino de Deus. Em vez de olhar
para o Menino que vai nascer, a Madre Igreja olha para as razões de seu nascimento.
Elogiando João Batista, Jesus elogia a todos quantos perceberam os sinais da chegada
do Salvador, a todos que crerem na boa-nova que Ele traz, levarem a sério os seus
ensinamentos e facilitarem os seus caminhos. Quem assim fizer participará do Reino
dos Céus, como João Batista.
Temos que ter presente o Reino de Deus pela sensibilidade
dos olhos, dos ouvidos, da pele, dos ossos, da própria vida e do estado de pobreza
do homem. O Reino de Deus acontece aqui e agora, no meio dos homens e das mulheres,
no nosso meio, inserido dentro da história humana. O Reino de Deus tem que transformar
o mundo e fecundá-lo para o viés da eternidade.
Estimados irmãos,
O
NATAL não é somente um acontecimento espiritual. É um evento humano e histórico. Cristo
nasceu para salvar o homem: seu espírito e sua carne. O Reino de Deus é para a criatura
humana na plenitude de seu ser, do seu viver. Por isso temos que nos preocupar com
todos os aspectos do homem da mulher, especialmente dos aspectos humanos que nos interpelam.
Assim, todo aquele que melhorar a sorte do homem na terra está construindo o Reino
de Deus aqui, está ajudando a acontecer o Natal de Jesus e o natal dos homens.
A
Igreja, ao velar pela dignidade da pessoa humana em todos os seus aspectos, alcança
a criatura humana na sua origem, envolve-a durante toda a sua peregrinação terrestre
e a introduz na eternidade.
A exaltação de João Batista é a confirmação da
missão de Jesus e da razão de sua presença na terra; enunciação dos sinais do Reino,
previstos pelos profetas e mostrados por Jesus de Nazaré, a não deixar dúvidas em
ninguém; descrição do caminho a ser percorrido pelo verdadeiro discípulo, construtor,
com Jesus, do Reino de Deus.
Por isso somos, cristãos, povo de espera. Vamos
pedir com fé que o Natal seja um dia de alegria, semelhante à alegria de João Batista
quando reconheceu em Jesus o Messias. Perdoado o pecado, o Natal como toda eucaristia,
apresenta-se como festa escatológica, antecipação do Natal eterno: Emanuel, Deus conosco
para sempre.
Que o cristão saiba aguardar o Senhor como o lavrador espera amadurecer
os frutos da terra. Todos, assim, somos chamados a ser este mensageiro. O Senhor está
chegando. É preciso que vigilantes preparemos a sua chegada.
Pe. Wagner Augusto
Portugal Vigário Judicial da Diocese da Campanha (MG)