BENTO XVI: NÃO SE PODE SER TEÓLOGO NA SOLIDÃO, MAS SOMENTE NA COMUNHÃO
Cidade do Vaticano, 03 dez (RV) - "Não se pode ser teólogos na solidão": foi
o que disse o Papa recebendo em audiência, ao meio-dia desta sexta-feira, na Sala
do Consistório, no Vaticano, os membros da Comissão Teológica Internacional, ao término
de sua plenária.
O Pontífice ressaltou que os ideais de justiça e igualdade
democrática morrem se se corta a raiz da qual nasceram: o Cristianismo.
A teologia
é verdadeira somente a partir do encontro com o Cristo ressuscitado, porque "nenhum
sistema teológico pode subsistir se não é permeado pelo amor". De fato – afirmou o
Santo Padre – "quem descobriu em Cristo o amor de Deus, infundido pelo Espírito Santo
em nossos corações, deseja conhecer melhor Aquele por quem é amado e que ama":
"Conhecimento
e amor sustentam-se reciprocamente. Como afirmaram os Padres da Igreja, quem ama Deus
é impelido a tornar-se, num certo sentido, teólogo, alguém que fala com Deus, que
pensa sobre Deus e busca pensar com Deus."
Bento XVI prosseguiu afirmando que
a reflexão teológica ajuda o "diálogo com os fiéis de outras religiões e também com
os não-fiéis", graças à sua racionalidade. De fato, "podemos pensar em Deus e comunicar
aquilo que pensamos porque Ele dotou-nos de uma razão em harmonia com a sua natureza".
Todavia,
é necessário que "a mesma racionalidade da teologia" ajude "a purificar a razão humana
livrando-a de certos preconceitos e ideias que podem exercer uma forte influência
no pensamento de todos os tempos".
Ademais, "conhecer Deus em sua verdadeira
natureza", ou seja, como "fonte de perdão", é também "o modo seguro para assegurar
a paz" no mundo – explicou.
Em tudo isso, os teólogos – para que o seu método
seja verdadeiramente científico, além de proceder de modo racional – devem ser fiéis
à natureza da fé eclesial, "sempre em continuidade e em diálogo com os fiéis e os
teólogos que vieram antes de nós", porque "o teólogo jamais começa do zero".
Em
seguida, o Papa ressaltou "a unidade indispensável que deve reinar entre teólogos
e Pastores":
"Não se pode ser teólogos na solidão: os teólogos precisam do
ministério dos Pastores da Igreja, como o Magistério precisa de teólogos que façam
plenamente o seu serviço, com toda a ascese que isso implica."
"Cristo morreu
por todos, embora nem todos o saibam ou o aceitem" – observou o Pontífice. Essa fé
"nos leva ao serviço aos outros em nome de Cristo; em outras palavras, o compromisso
social dos cristãos deriva necessariamente da manifestação do amor divino".
Bento
XVI concluiu ressaltando que "a contemplação do Deus revelado e a caridade em favor
do próximo não podem ser separadas, embora sejam vividas segundo carismas diferentes":
"Num
mundo que comumente aprecia muitos dons do Cristianismo, como – por exemplo – a ideia
de igualdade democrática... sem entender a raiz dos próprios ideais, é particularmente
importante mostrar que os frutos morrem se a raiz da árvore for cortada. De fato,
não há justiça sem verdade, e a justiça não se desenvolve plenamente se o seu horizonte
é limitado ao mundo material. Para nós cristãos a solidariedade social tem sempre
uma perspectiva de eternidade." (RL)