Saly, 30 nov (RV) - Dois milhões de mulheres vítimas de abusos, na maior parte
das vezes gravemente, porque são obrigadas a emigrar dos seus países de origem. O
presidente do Pontifício Conselho da Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Arcebispo
Antonio Maria Vegliò, disse que se trata de uma massa "invisível" de pessoas, que
invocam formas de tutela.
A declaração de Dom Vegliò foi feita hoje, no âmbito
da abertura de um simpósio em Saly, Senegal, intitulado "A Face Feminina das Migrações",
organizado pela Caritas Internacional, e que será desenvolvido nessa localidade africana
até o dia 2 de dezembro.
A emigração e a imigração não são fenômenos exclusivamente
masculinos. E essa afirmação, na verdade, é menos óbvia do que possa parecer. Dom
Vegliò foi claro nas suas declarações a esse respeito. Segundo ele, "em nenhuma parte
do mundo existem leis em matéria de maternidade que levem em consideração o fato de
que cada mulher migrante tem uma maneira própria de lidar com as diversas realidades".
Falando em nome da Igreja, ele disse que "os governos devem rever suas políticas e
as regras que comprometem a tutela dos direitos fundamentais das mulheres, como a
luta contra os abusos sexuais e os abusos no trabalho, o acesso ao sistema de saúde
pública, moradia, nacionalidade e assistência às jovens mães.
O representante
vaticano deu dados de que há países nos quais a emigração feminina superou a masculina
e de que, no entanto, somente 42 países ratificaram a Convenção Internacional sobre
a Proteção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias.
Dom
Vegliò ressaltou que as mulheres imigrantes conseguem trabalho geralmente no âmbito
doméstico, porém, muitas vezes, trabalham na ilegalidade, têm seus direitos desrespeitados
e estão vulneráveis a todos os tipos de abuso.
O prelado lembrou ainda, aos
participantes do simpósio, que 4 milhões de mulheres no mundo – a metade delas menores
de idade – fazem parte do mercado da prostituição, o qual movimenta 12 bilhões de
dólares por ano. "Isso coloca a prostituição – disse ele – como a terceira atividade
ilegal mais rentável do mundo, ficando atrás apenas do tráfico de armas e do tráfico
de drogas".
Encerrando, Dom Vegliò afirmou que a Igreja Católica vai continuar
seu trabalho de acolhimento dos migrantes, mobilizando-se também para que a legislação
sobre liberdade religiosa seja reformada com espírito de justiça e respeito mútuo.
"A insuficiente possibilidade concreta de participação social, política e cultural
que a sociedade civil oferece hoje às mulheres repercute também nas comunidades cristãs,
chamadas, por isso, a valorizar, em primeiro lugar, os valores de referência, a vivência
cotidiana e a cultura da mulher imigrante. (ED)