Cidade do Vaticano, 22 nov (RV) - Nesta terça-feira, dia 23 de novembro, às
10h30, na Sala de Imprensa da Santa Sé, terá lugar a coletiva de imprensa para a apresentação
do livro: “Luz do Mundo. O Papa, a Igreja, os sinais dos tempos. Uma conversa de Bento
XVI com Peter Seewald” (Livraria Editora Vaticana). Participarão da apresentação
do livro, o Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização,
Dom Rino Fisichella, e o jornalista Luigi Accattoli. Estarão presentes ainda Peter
Seewald, autor da entrevista, e o Diretor da Livraria Editora Vaticana, Padre Giuseppe
Costa. Nos últimos dias foram publicados alguns trechos do livro que chamou a atenção
da imprensa. No dia de ontem o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico
Lombardi divulgou uma nota sobre um dos temas que a imprensa destacou, ou seja, as
palavras do Papa sobre a questão dos preservativos. Eis o que diz a nota:
No
final do 11º capítulo do livro “Luz do mundo”, o Papa responde a duas perguntas sobre
a luta contra a AIDS e o uso de preservativos, questões que dizem respeito à discussão
que se seguiu após algumas palavras pronunciadas pelo Papa sobre o assunto durante
a sua viagem à África em 2009.
O Papa reafirma claramente que então, ele não
quis tomar posição sobre a questão dos preservativos em geral, mas ele queria afirmar
com força que o problema da AIDS não pode ser resolvido apenas com a distribuição
de preservativos, porque é necessário fazer muito mais: prevenir, educar, ajudar,
aconselhar, estar ao lado das pessoas, seja para que não fiquem doentes, seja no caso
em que já estejam doentes.
O Papa observa que também no âmbito não eclesial
se desenvolveu uma consciência análoga, como resulta da chamada teoria ABC (Abstinence
– Be Faithful – Condom) (Abstinência - Ser Fiel - Preservativo), na qual os dois primeiros
elementos (abstinência e fidelidade) são muito mais determinantes e fundamentais na
luta contra a AIDS, enquanto o preservativo aparece em último lugar como uma escapatória,
quando faltam os outros dois. Deve, portanto, ser evidente que o preservativo não
é a solução para o problema.
O Papa amplia o seu olhar e insiste no fato que
se concentrar apenas no preservativo equivale a banalizar a sexualidade, que perde
o seu significado como expressão do amor entre pessoas e torna-se como uma “droga”.
Lutar contra a banalização da sexualidade é “parte do grande esforço para que a sexualidade
seja vista positivamente e possa exercer o seu efeito positivo sobre o ser humano
na sua totalidade”.
À luz desta visão ampla e profunda da sexualidade humana
e da sua problemática de hoje, o Papa reafirma que “naturalmente a Igreja não considera
os preservativos como a solução autêntica e moral” do problema da AIDS. Com isso,
o Papa não reforma ou altera o ensinamento da Igreja, mas o reafirma colocando-se
na perspectiva do valor e da dignidade da sexualidade humana como expressão de amor
e responsabilidade.
Ao mesmo tempo, o Papa considera uma situação excepcional
em que a prática sexual represente um verdadeiro risco para a vida do outro. Neste
caso, o Papa não justifica moralmente o exercício desordenado da sexualidade, mas
acredita que o uso de preservativos para reduzir o risco de contágio seja “um primeiro
ato de responsabilidade, um primeiro passo na estrada para uma sexualidade mais humana,
do que não usá-lo, expondo o outro ao perigo de vida”.
Nesse sentido, o raciocínio
do Papa não pode ser definido como uma reviravolta revolucionária. Muitos teólogos
moralistas e figuras influentes da Igreja apoiaram e defenderem posições semelhantes;
é verdade, porém, que ainda não tínhamos ouvido com tanta clareza da boca de um Papa,
mesmo se em uma forma coloquial e não magisterial.
Bento XVI dá-nos, então,
com coragem, uma importante contribuição para o esclarecimento e aprofundamento sobre
uma questão muito debatida. É uma contribuição original, porque de um lado mantém
a fidelidade aos princípios morais e demonstra lucidez ao rejeitar um caminho ilusório
como a “confiança no preservativo”; do outro, mostra, no entanto, uma visão compreensiva
e de longo alcance, atenta a descobrir os pequenos passos - apesar de iniciais e ainda
meio confusos – de uma humanidade espiritual e culturalmente muitas vezes muito pobre,
em direção de um exercício mais humano e responsável da sexualidade. (SP)