Nota do Padre F. Lombardi sobre as interpretações dadas ás palavras do Papa acerca
do uso do preservativo, no livro-entrevista de Peter Seewald
(22/11/2010) As palavras de Bento XVI sobre o uso do preservativo em situações pontuais
não devem ser vistas como uma “reviravolta revolucionária”, disse este Domingo o porta-voz
do Vaticano. O padre Federico Lombardi reagiu em comunicado a “interpretações dadas
às palavras do Papa” a este respeito no livro-entrevista de Peter Seewald, “Luz do
Mundo”, que vai ser apresentado à imprensa no dia 23 de Novembro. Segundo o director
da sala de imprensa da Santa Sé, “o Papa toma em consideração uma situação excepcional
na qual o exercício da sexualidade representa um verdadeiro risco para a vida do outro”. Num
excerto da obra publicado antecipadamente pelo jornal do Vaticano, «L’Osservatore
Romano», Bento XVI afirma que pode haver casos pontuais, “justificados”, em que admite
o caso do preservativo. Para o porta-voz do Vaticano, “o Papa não justifica moralmente
o exercício desordenado da sexualidade, mas defende que o uso do preservativo para
diminuir o perigo de contágio é «um primeiro acto de responsabilidade», «um primeiro
passo na estrada para uma sexualidade mais humana», mais do que o não fazer uso do
mesmo expondo o outro a um risco de vida”. O padre Lombardi acrescenta que “numerosos
teólogos e personalidades de renome sustentaram e sustentam posições análogas”. “É
verdade, contudo, que não as tínhamos ainda escutado com tanta clareza da boca do
Papa, ainda que numa forma coloquial e não magisterial”, precisa, frisando que “Bento
XVI dá assim, corajosamente, um importante contributo de clarificação e aprofundamento
sobre uma questão longamente discutida”. O director da sala de imprensa da Santa
Sé fala num “contributo original” de Bento XVI que ajuda a refutar “uma via ilusória,
como a «confiança no preservativo», rumo a um “exercício mais humano e responsável
da sexualidade. No final do capítulo 10 do livro, Bento XVI responde a duas perguntas
sobre a luta contra a SIDA e o uso de preservativos, que retomam a discussão que se
seguiu às suas palavras sobre o tema, no início da sua viagem a África, em 2009. O
Papa reafirma que “a Igreja, naturalmente, não considera os preservativos como a solução
autêntica e moral” do problema da SIDA. No seu comunicado, o padre Federico Lombardi
precisa que Bento XVI “não muda ou reforma o ensinamento da Igreja, mas reafirma-o
na perspectiva do valor e da dignidade da sexualidade humana como expressão de amor
e responsabilidade”. Sobre as declarações de 2009, a caminho dos Camarões, o director
da sala de imprensa da Santa Sé sublinha que as mesmas não eram uma tomada de posição
“sobre o problema dos preservativos em geral”, mas uma afirmação de que o problema
da SIDA não se resolve “apenas com a distribuição” dos mesmos. “O Papa observa
que também no âmbito não eclesial se desenvolveu uma consciência análoga, como na
chamada teoria Abc (Abstinence – Be Faithful – Condom), na qual os dois primeiros
elementos (abstinência e fidelidade) são muito mais determinantes e fundamentais para
a luta contra a Sida e o preservativo aparece em último lugar, como escapatória, quando
faltam os outros dois”, acrescenta. O livro “Luz do mundo. O Papa, a Igreja e os
sinais dos tempos” resulta de uma conversa entre Bento XVI e Seewald - que já por
duas vezes tinha entrevistado Joseph Ratzinger, ainda cardeal - na residência pontifícia
de Castel Gandolfo, perto de Roma, entre os dias 26 e 31 de Julho. Ao longo de
18 capítulos, o Papa aborda várias das questões mais inquietantes para a Igreja e
a humanidade de hoje. A edição portuguesa deve estar disponível dentro de aproximadamente
duas semanas. A Lucerna, marca da Principia Editora vai estar no Vaticano na próxima
Terça-feira para a apresentação mundial do livro e entregará ao Papa a edição em português. O
título deste livro foi escrito à mão pelo próprio Papa.