Papa confessa «choque enorme» perante dimensões dos casos de abusos sexuais sobre
menores, assume erros, mas critica tentativas de «desacreditar» a Igreja
(21/11/20109 Num livro- entrevista, Bento XVI assume que a dimensão dos casos de
abusos sexuais sobre menores por parte de membros do clero e em instituições da Igreja
foi “um choque enorme”. Falando com o jornalista alemão Peter Seewald, Bento XVI
lembrou que conhecia “os factos”, por ter presidido à Congregação para a Doutrina
da Fé, acompanhando em particular a situação nos EUA e na Irlanda. Ainda assim,
o Papa mostra-se chocado e lamenta que estes casos tenham prejudicado a imagem dos
sacerdotes católicos em todo o mundo. “Ver o sacerdócio repentinamente conspurcado
deste modo, e com isso a própria Igreja Católica, foi difícil de suporta. Naquele
momento, contudo, era importante não desviar o olhar do facto de que na Igreja existe
o bem e não apenas estas coisas terríveis”. Bento XVI recorda os vários encontros
que manteve com as vítimas destes abusos e as indicações dadas, já em 2006, num discurso
aos bispos irlandeses, para que se evite a repetição destes casos no futuro. Na
entrevista, o Papa diz que, durante a revelação destas situações, “era evidente que
a acção dos media não era guiada somente pela pura busca da verdade”. Bento XVI
diz que muitos se comprazeram em “colocar a Igreja na berlinda e, se possível, desacreditá-la”. Ainda
assim, o Papa frisa que isto só se verificou “porque o mal estava dentro da Igreja”. A
respeito do sacerdócio, Bento XVI volta a afirmar a oposição da Igreja Católica à
ordenação de mulheres, considerando que “não se trata de não querer, mas de não poder”,
porque a Igreja não é “um regime do arbítrio”. “Não podemos fazer o que queremos,
há uma vontade do Senhor para nós, à qual nos agarramos, mesmo que seja fatigante
e difícil na cultura e na civilização de hoje”, precisou. Para o Papa, as funções
confiadas às mulheres são “tão grandes e significativas que não se pode falar de discriminação”,
acrescentando que “em diversas ocasiões, as mulheres definiram mais o rosto da Igreja
do que os homens”. O livro “Luz do mundo. O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos”
resulta de uma conversa entre Bento XVI e Seewald – (que já por duas vezes tinha entrevistado
Joseph Ratzinger, ainda cardeal) - na residência pontifícia de Castel Gandolfo, perto
de Roma, entre os dias 26 e 31 de Julho deste ano.