BENTO XVI NA MISSA COM NOVOS CARDEAIS: SIRVAM A FÉ NA OBEDIÊNCIA À CRUZ
Cidade do Vaticano, 21 nov (RV) - Bento XVI celebrou na manhã deste domingo
– Solenidade de Cristo-Rei do Universo – na Basílica de São Pedro lotada de fiéis
e peregrinos, a santa missa com os 24 novos cardeais criados no Consistório deste
sábado, dia 20.
Durante a celebração o Pontífice entregou o anel cardinalício
aos novos purpurados como "sinal de dignidade, solicitude pastoral e de mais robusta
comunhão com a Sé de Pedro", para que se reforce "o amor à Igreja".
"Pregai
o Evangelho, testemunhai Cristo, edificai a Igreja santa de Deus, abençoai todos e
a todos levai a paz de Cristo", pede a oração que o Papa pronunciou depois da entrega
do anel cardinalício.
Os presentes rezaram para que "o Senhor conceda à Igreja,
família de Deus, a graça de manifestar a sua universalidade e catolicidade abraçando
todos os povos e culturas".
O Santo Padre iniciou a homilia da celebração dirigindo
sua cordial saudação aos novos cardeais, estendendo-a aos outros purpurados, demais
prelados, sacerdotes, religiosos e a todos os fiéis provenientes de várias partes
do mundo para a alegre circunstância, que reveste um significativo caráter de universalidade.
Ressaltando
que a liturgia deste domingo – último do ano litúrgico – nos apresenta, ao término
do itinerário da fé, o rosto real de Cristo, como o Pantocrator encontrado
na abside de uma antiga basílica, o Papa enfatizou que as leituras propostas nesta
celebração nos convidam a meditar profundamente sobre o ministério do Bispo de Roma
e sobre o ministério a este ligado, dos cardeais, à luz da singular Realeza de Jesus,
nosso Senhor.
"O primeiro serviço do Sucessor de Pedro é o da fé. No Novo Testamento,
Pedro se torna "pedra" da Igreja enquanto portador do Credo: o "nós" da Igreja se
inicia com o nome daquele que professou por primeiro a fé em Cristo, se inicia com
a sua fé. Uma fé inicialmente imatura e ainda "por demais humana", mas depois,
após a Páscoa, madura e capaz de seguir Cristo até a doação de si; madura no crer
que Jesus é verdadeiramente o Rei; que o é justamente porque enfrentou a Cruz, e desse
modo deu a vida pelos pecadores."
No Evangelho se vê que todos pedem a
Jesus que desça da Cruz. Zombam d'Ele, mas é também um modo para desculpar-se – observou
o Papa – "como a dizer: não é nossa culpa o seu encontrar-se na Cruz; a culpa é somente
sua, porque se fosse realmente o Filho de Deus, o Rei dos Judeus, não estaria aí,
mas se salvaria descendo deste patíbulo infame". Em seguida, o Pontífice ressaltou
a universalidade da Paixão de Cristo:
"O drama que se dá sob a Cruz de Jesus
é um drama universal; diz respeito a todos os homens diante de Deus que se revela
por aquilo que é, ou seja, Amor. Em Jesus crucificado a divindade é desfigurada, espoliada
de toda glória visível, mas está presente e é real. Somente a fé sabe reconhecê-la:
a fé de Maria, que une em seu coração também esta última peça do mosaico da vida de
seu Filho; Ela ainda não vê tudo, mas continua confiando em Deus, repetindo mais uma
vez com o mesmo abandono "Eis a serva do Senhor" (Lc 1, 38)."
O Pontífice
observou que emerge claramente daí a primeira e fundamental mensagem que a Palavra
de Deus nos diz hoje: "a mim, Sucessor de Pedro, e aos senhores cardeais". Chama-nos
a estar com Jesus, com Maria, e não a pedir-Lhe que desça da Cruz, mas permaneça ali
com Ele.
"E devemos fazê-lo por causa do nosso ministério, devemos fazê-lo
não somente por nós mesmos, mas por toda a Igreja, por todo o povo de Deus."
Em
seguida, Bento XVI afirmou que a "conversão" de Pedro se realiza plenamente quando
renuncia querer "salvar" Jesus e aceita ser salvo por Ele:
"Renuncia querer
salvar Jesus da Cruz e aceita ser salvo pela sua Cruz. "Eu, porém, orei por ti, a
fim de que tua fé não desfaleça" (Lc 22, 32), diz o Senhor."
O ministério
de Pedro consiste totalmente em sua fé, uma fé que Jesus reconhece imediatamente,
desde o início, como genuína, como dom do Pai celeste – continuou o Papa – mas uma
fé que deve passar pelo escândalo da Cruz para se tornar autêntica, realmente "cristã",
para tornar-se "rocha" na qual Jesus possa construir a sua Igreja.
"A participação
na senhoria de Cristo se verifica concretamente somente ao partilhar o seu abaixamento,
com a Cruz. Também o meu ministério, caros Irmãos, e consequentemente também o de
vocês, consiste totalmente na fé."
Nesse sentido – frisou – o lugar autêntico
do Vigário de Cristo é a Cruz, persistir na obediência à Cruz.
"Este ministério
é difícil porque não se alinha ao modo de pensar dos homens – àquela lógica natural
que, de certo modo, permanece sempre ativa também em nós mesmos. Mas este é e permanece
sendo sempre o nosso primeiro serviço, o serviço da fé, que transforma toda a vida:
crer que Jesus é Deus, que é o Rei justamente porque chegou até aquele ponto,
porque nos amou até o extremo."
E essa realeza paradoxal devemos testemunhá-la
e anunciá-la como fez Ele, o Rei, ou seja, seguindo o mesmo caminho e esforçando-nos
para adotar a mesma lógica, a lógica da humildade e do serviço, do grão que morre
para dar fruto:
"O Papa e os cardeais são chamados a estar profundamente unidos
antes de tudo a isto: todos juntos, sob a guia do Sucessor de Pedro, devem permanecer
no senhorio de Cristo, pensando e operando segundo a lógica da Cruz – e isso jamais
é fácil nem dado por certo. Nisso devemos ser compactos, e o somos porque o que nos
une não é uma idéia, uma estratégia, mas nos unem o amor de Cristo e o seu Espírito
Santo."
A eficácia do nosso serviço à Igreja, a Esposa de Cristo – continuou
o Papa – depende essencialmente disso, da nossa fidelidade à realeza divina do Amor
crucificado. Por isso – enfatizou dirigindo-se aos novos cardeais – no anel que lhes
entreguei, sigilo de seu pacto nupcial com a Igreja, está representada a imagem da
Crucifixão. "E pelo mesmo motivo a cor de suas vestes alude ao sangue, símbolo da
vida e do amor. O sangue de Cristo que – segundo uma antiga iconografia – Maria recolhe
do lado traspassado do Filho morto na Cruz; e que o Apóstolo João contempla esse sangue
saindo com a água, segundo as Escrituras proféticas."
Bento XVI concluiu a
homilia da celebração com as seguintes palavras:
"Eis a nossa alegria: participar,
na Igreja, da plenitude de Cristo mediante a obediência à Cruz, "participar da sorte
dos santos na luz", ter sidos "transferidos" para o reino do Filho de Deus (cfr
Col 1, 12-13). Por isso nós vivemos em perene ação de graças, e também mediante
as provações não faltam a alegria e a paz que Cristo nos deixou, qual antecipação
do seu Reino, que já está no meio de nós, que aguardamos com fé e esperança, e pregustamos
na caridade."
Destacamos que um dos 24 novos cardeais criados no Consistório
deste sábado e que na missa da manhã deste domingo receberam o anel cardinalício foi
o Arcebispo de Aparecida e Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM),
Dom Raymundo Damasceno Assis – filho de Minas Gerais.
Sobre a elevação de Dom
Raymundo à dignidade cardinalícia, eis o que disse Dom João Braz de Aviz, Arcebispo
de Brasília, Arquidiocese da qual o novo purpurado brasileiro foi Bispo auxiliar durante
muito anos: (RL)