Bento XVI dá-se a conhecer em livro-entrevista . Conversa com jornalista alemão aborda
questões fundamentais da Igreja e da sociedade, mas também curiosidades sobre a vida
do Papa
(21/11/2010) Bento XVI dá-se a conhecer pelas suas próprias palavras num livro-entrevista
intitulado “Luz do mundo”, assinado pelo jornalista alemão Peter Seewald, com apresentação
marcada para o próximo dia 23 de Novembro. Várias passagens foram divulgadas por
agências de notícias e pelo próprio jornal do Vaticano, «L’Osservatore Romano», que
dedica um longo artigo a esta entrevista, na sua edição dominical. O Papa confessa
que depois da sua eleição, em Abril de 2005, esperava encontrar “paz e tranquilidade”,
lembrando assim os sentimentos que surgiram naquela altura. A reflexão inicia o
livro, com 18 capítulos, numa secção intitulada “Os Papas não caem do céu”, com Bento
XVI a afirmar que estava “seguríssimo” de que não seria ele o escolhido para suceder
a João Paulo II. Quanto às primeiras palavras proferidas, quando se apresentou
como “trabalhador na vinha do Senhor”, o Papa diz que sempre “trabalhou em equipa”,
como um de muitos operários, e que o líder da Igreja Católica “não é um monarca absoluto,
que toma decisões sozinho e faz tudo por si próprio”. Peter Seewald assegura que
Bento XVI não fugiu a nenhuma pergunta nem “modificou as palavras pronunciadas”, propondo
apenas “pequenas correcções” na transcrição final. O resultado é, para o autor,
um diálogo franco e directo sobre os mais variados temas, desde as questões fundamentais
para a Igreja e sociedade em geral aos seus filmes preferidos ou os Santos da sua
devoção. Bento XVI fala num “fio condutor” na sua vida: “O Cristianismo dá alegria,
alarga os horizontes. Em definitivo, uma existência vivida sempre e apenas «contra»
seria insuportável”. O Papa fala de “forças de destruição” na sociedade actual
e pede atenção quando se trata de avaliar a sua missão, mostrando-se preparado para
as críticas: “Se recebesse apenas consensos, teria de perguntar-se se estaria a anunciar
verdadeiramente o Evangelho”. “Pobre mendigo diante de Deus”, Bento XVI diz que,
perante a modernidade, é necessária uma “grande luta espiritual” para afastar e distinguir
“aquilo que se está a tornar uma contra-religião”. A Igreja, observa, não é um
“aparelho”, pronta para “fazer de tudo”, mas um “organismo vivo, que vem do próprio
Cristo”, apesar dos seus limites. Bento XVI convida a falar do “mundo melhor” para
lá da vida material, professado pela fé cristã, e não apenas em “respostas concretas
para o hoje, soluções para as tribulações quotidianas”. O Papa diz que os temas
da eternidade são como “pão duro” para a humanidade de hoje, pelo que os cristãos
têm de “encontrar palavras e modos novos para permitir ao homem destruir o muro do
som do finito”. O livro “Luz do mundo. O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos”
resulta de uma conversa entre Bento XVI e Seewald - que já por duas vezes tinha entrevistado
Joseph Ratzinger, ainda cardeal - na residência pontifícia de Castel Gandolfo, perto
de Roma, entre os dias 26 e 31 de Julho. As duas anteriores entrevistas a Seewald
tornarem-se os «best-sellers» "Deus e o mundo" (2001) e "O Sal da Terra" (1997).