Critério de grandeza não é o domínio mas sim o serviço: Bento XVI durante o Consistório
para a criação de 24 novos Cardeais
(20/11/2010) Durante uma cerimonia que decorreu na Basílica de S. Pedro, Bento XVI
criou neste sábado 24 novos cardeais. Após a saudação litúrgica o Papa leu a
fórmula de criação e proclamou solenemente os nomes dos novos cardeais, para os unir
com “um vínculo mais estreito à Sé de Pedro”, tornando-se membros do clero de Roma. Em
seguida, o cardeal Angelo Amato, primeiro do elenco, pronunciou um discurso de homenagem
a Bento XVI, em nome de todos. Recordou que não obstante os desafios, as dificuldades
e as perseguições, a Igreja de Cristo não cessa de proclamar cada dia, em todas as
partes do mundo o amor de Deus pelos homens, de irradiar em todo o lado a luz do Evangelho,
de insistir no anuncio da Palavra de Deus. E – salientou – não se pode iludir o risco
de não ser compreendidos, de ser recusados, e de ter de estar dispostos também ao
testemunho extremo. Depois da proclamação das leituras o Papa proferiu a sua homilia
onde recordou que o estilo de vida de Jesus que não veio para ser servido mas para
servir, deve estar na base das novas relações no interior da comunidade cristã e de
uma nova maneira de exercer a autoridade. Comentando o trecho do Evangelho Bento
XVI sublinhou o facto de diante de Jesus os discípulos terem revelado a sua dificuldade
a compreender e a efectuar o necessário êxodo de uma mentalidade mundana para a
mentalidade de Deus, continuando a procurar posições de prestigio e a gloria pessoal. Mas
Jesus – recordou o Papa dirigindo-se aos novos cardeais que vestem de cor vermelha
porque são chamados a servir a Igreja até ao derramamento do próprio sangue – sintetiza
a sua missão sob a categoria do serviço, entendido não em sentido genérico, mas em
sentido concreto da Cruz, do dom total da vida como resgate, como redenção para muitos,
e indica-o como condição para a sua sequela. O olhar - acrescentou o Papa – vai
para o comportamento que correm o risco de assumir aqueles que são considerados os
governantes das nações: dominar e oprimir. Porém na Igreja não é assim, existe um
estilo diferente: é uma mensagem – disse ainda o Papa – que vale para os Apóstolos,
vale para a Igreja inteira, vale sobretudo para aqueles que têm tarefas de guia do
Povo de Deus. Não é a lógica do domínio, do poder segundo critérios humanos – concluiu
Bento XVI – mas a lógica do inclinar-se para lavar os pés, a lógica do serviço, a
lógica da cruz que está na base de qualquer serviço de autoridade. Em todos os tempos
a Igreja empenhou-se a conformar-se a esta lógica e a testemunhá-la para fazer transparecer
a verdadeira Senhoria de Deus, a do amor. Depois da homilia papal, teve lugar
a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao
Papa e seus sucessores, “a Cristo e o seu Evangelho”. Cada um deles aproximou-se
do Papa e ajoelhou-se, então, para receber o barrete cardinalício, que Bento XVI impôs
pronunciando a fórmula "vermelho como sinal da dignidade do cardinalato, significando
que deveis estar prontos a comportar-vos com fortaleza, até à efusão do sangue, pelo
aumento da fé cristã, pela paz e a tranquilidade do povo de Deus e pela liberdade
e a difusão da Santa Igreja Romana". Nesta altura, o Papa atribuiu a cada cardeal
uma igreja de Roma (título ou diaconia) - simbolizando a participação na solicitude
pastoral do Papa na cidade - e a bula de criação cardinalícia. Um abraço de paz selou
este momento. O rito conclui-se com a recitação do Pai-Nosso e a bênção final.