PAPA AO COLÉGIO CARDINALÍCIO: RELATIVISMO É DITADURA QUE PODE DESTRUIR LIBERDADE
Cidade do Vaticano, 19 nov (RV) - Teve início na manhã desta sexta-feira, no
Vaticano, o dia de oração e de estudo do Colégio Cardinalício, convocado pelo Santo
Padre em vista da criação de 24 novos cardeais, no Consistório deste sábado, dia 20.
No
início do encontro, na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, o Decano do Colégio Cardinalício,
Cardeal Angelo Sodano, dirigiu ao Papa uma saudação em nome de todos os presentes,
agradecendo-lhe também pela recente Beatificação do Cardeal John Henry Newman e pela
introdução de uma análoga Causa de Beatificação para o Cardeal François-Xavier Nguyên
Van Thuân, símbolo da Igreja no Vietnã.
Sucessivamente, o Pontífice tomou a
palavra introduzindo, em particular, os dois temas propostos para os trabalhos da
manhã. Em relação ao primeiro, recordou que no mandato do Senhor de anunciar o Evangelho
está implícita a exigência da liberdade de fazê-lo e, todavia, tal incumbência encontra,
na história, muitas oposições.
A relação entre verdade e liberdade é essencial,
mas hoje se encontra diante do grande desafio do relativismo, que parece completar
o conceito de liberdade, mas, na realidade, corre o risco de destruí-la propondo-se
como uma verdadeira "ditadura" – afirmou Bento XVI.
Encontramo-nos, portanto,
num tempo de difícil empenho para afirmar a liberdade de anunciar a verdade do Evangelho
e das grandes aquisições da cultura cristã.
Quanto ao segundo tema, o Papa
evocou a importância essencial da liturgia na vida da Igreja, porque é o lugar da
presença de Deus conosco. Portanto, o lugar em que a Verdade vive conosco.
Pela
manhã foram examinados dois temas principais: o tema da liberdade da Igreja no momento
presente, introduzido pelo Cardeal Secretário de Estado, Tarcisio Bertone; e o tema
da liturgia na vida da Igreja, exposto pelo Prefeito da Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Antonio Llovera Cañizares.
O Cardeal
Bertone traçou uma visão panorâmica das tentativas de limitar a liberdade dos cristãos
nas várias regiões do mundo. O purpurado convidara precedentemente a refletir sobre
a situação da liberdade religiosa nos países ocidentais. Embora se trate de nações
que comumente devem ao Cristianismo os traços profundos de sua identidade e cultura,
hoje se assiste a um processo de secularização, com tentativas de marginalização dos
valores espirituais da vida social.
Em segundo lugar, o Cardeal Bertone expôs
a situação da liberdade religiosa nos países islâmicos, recordando as conclusões a
que chegou a recente Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio.
Por fim, o Cardeal Secretário de Estado expôs a atividade da Santa Sé e dos Episcopados
locais em defesa dos católicos, tanto no Ocidente como no Oriente.
A esse propósito,
recordou também o grande empenho da Santa Sé no campo internacional para promover
– face aos Estados e às Organizações das Nações Unidas – o respeito pela liberdade
religiosa dos fiéis.
Por sua vez, o Cardeal Cañizares recordou a importância
da oração litúrgica na vida da Igreja, evocando a doutrina do Concílio Vaticano II
e o magistério de Bento XVI. Em particular, ressaltou a importância da fidelidade
à disciplina litúrgica vigente.
Durante o amplo debate pronunciaram-se 18 cardeais,
que aprofundaram principalmente o problema da liberdade religiosa e das dificuldades
encontradas pela atividade da Igreja em diversas partes do mundo: falou-se de situações
específicas na Europa, na América, na África, na Ásia, no Oriente Médio e nos países
de maioria islâmica.
Falou-se também sobre as graves dificuldades que hoje
a Igreja encontra na defesa de valores fundados no direito natural, como o respeito
pela vida e pela família. Outro tema desenvolvido foi o do diálogo inter-religioso,
em particular com o Islã. Foram lançadas sugestões de linhas de ação para responder
aos desafios apresentados à Igreja de hoje.
Alguns pronunciamentos se detiveram
também sobre o tema da liturgia, em particular, sobre a centralidade da celebração
eucarística na vida da Igreja e sobre o respeito que se deve ter para com o sacramento
da Eucaristia. Outros pronunciamentos terão lugar na sessão programada para o final
da tarde desta sexta-feira.
Às 13h, Bento XVI ofereceu, numa das dependências
da Sala Paulo VI, um almoço para os cardeais.
Estão previstas duas comunicações
para o final da tarde. A primeira será do Prefeito da Congregação para a Doutrina
da Fé, Cardeal William Joseph Levada, sobre as Normas estabelecidas pela Santa Sé
seja para acolher na Igreja Católica os sacerdotes e fiéis anglicanos que fizerem
tal pedido, seja em defesa de menores vítimas de abusos sexuais praticados por parte
de membros do clero.
O segundo pronunciamento será feito pelo Prefeito da Congregação
das Causas dos Santos, Arcebispo Angelo Amato, que abordará a atualidade da Declaração
"Dominus Iesus", de 10 anos atrás, acerca da unicidade e universalidade salvífica
de Jesus Cristo e da Igreja.
Além dos atuais cardeais encontram-se presentes
também os 24 prelados que amanhã, sábado, serão elevados ao Cardinalato.
Alguns
cardeais pediram ao Santo Padre que fossem dispensados de participar dos trabalhos
destes dias, por causa das condições de saúde em que se encontram ou de urgentes compromissos
pastorais nas respectivas arquidioceses. Ao todo, os presentes são aproximadamente
150. (RL)