DISCURSO DO SANTO PADRE AOS BISPOS DO CENTRO-OESTE
Cidade do Vaticano, 15 nov (RV) - Bento XVI recebeu nesta manhã os 20 bispos
do Regional Centro-Oeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Regional
formado pelos Estados de Goiás e Tocantins e pelo Distrito Federal, em visita "ad
Limina". A eles o Papa fez um discurso que reproduzimos na íntegra.
Queridos
Irmãos Bispos,
Estou feliz por vos dar as boas-vindas na ocasião da vossa
visita ad Limina. Viestes à cidade onde Pedro, por último, cumpriu a sua missão de
evangelização e deu testemunho de Cristo até à efusão do seu próprio sangue; viestes
ver e saudar o Sucessor de Pedro. Deste modo fortaleceis os fundamentos apostólicos
da Igreja no vosso país e expressais visivelmente a vossa comunhão com todos os demais
membros do Colégio episcopal e com o próprio Pontífice romano (cf. Pastores gregis,
8). Deste teor são as amáveis palavras que o Senhor Arcebispo de Brasília, Dom João
Braz, me dirigiu em vosso nome e que agradeço, enquanto vos asseguro do meu cordial
afeto e das minhas orações por vós e por todas as pessoas confiadas aos vossos cuidados
pastorais. Com a visita do Regional Centro Oeste, se encerra este ciclo de encontros
dos Prelados brasileiros com o Papa que se iniciou há mais de um ano. Por uma feliz
coincidência, na data do discurso que dirigi ao primeiro grupo de Bispos era a vossa
Festa Nacional da Independência, enquanto o último discurso que hoje pronuncio tem
lugar justamente no dia em que se recorda a proclamação da República no Brasil. Aproveito
o fato para sublinhar uma vez mais a importância da ação evangelizadora da Igreja
na construção da identidade brasileira. Como bem sabeis, a atual sociedade secularizada
exige dos cristãos um renovado testemunho de vida para que o anúncio do Evangelho
seja acolhido como aquilo que é: a Boa Notícia da ação salvífica de Deus que vem ao
encontro do homem. Neste sentido, há quase 60 anos, a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil é um ponto de referência da sociedade brasileira, propondo-se sempre
mais e acima de tudo como um lugar onde se vive a caridade. Com efeito, o primeiro
testemunho que se espera dos anunciadores da Palavra de Deus é o da caridade recíproca:
«Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros»
(Jo 13, 32). A vossa, como aliás as demais Conferências Episcopais, nasceu como concreta
aplicação do afeto colegial dos Bispos em comunhão hierárquica com o Sucessor de Pedro,
para ser um instrumento de comunhão afetiva e efetiva entre todos os membros, e de
eficaz colaboração com o Pastor de cada Igreja particular na tríplice função de ensinar,
santificar e governar as ovelhas do próprio rebanho. Ora, a Conferência Episcopal
apresenta-se como uma das formas, encontradas sob a guia do Espírito Santo, que consente
exercitar conjunta e harmoniosamente algumas funções pastorais para o bem dos fiéis
e de todos os cidadãos dum determinado território (cf. Código de Direito Canônico,
cân. 447). De fato, uma cooperação sempre mais estreita e concorde com os seus irmãos
no ministério ajuda os Bispos a cumprir melhor o seu mandato (cf. Christus Dominus,
37), sem abdicar da responsabilidade primeira de apascentar como pastor próprio, ordinário
e imediato sua Igreja particular (cf. Motu próprio Apostolos suos, 10), fazendo-a
ouvir a voz de Jesus Cristo, que “é o mesmo, ontem, hoje e sempre” (Hb 13, 8). Assim
sendo, a Conferência Episcopal promove a união de esforços e de intenções dos Bispos,
tornando-se um instrumento para que possam compartilhar as suas fatigas; deve, porém,
evitar de colocar-se como uma realidade paralela ou substitutiva do ministério de
cada um dos Bispos, ou seja, não mudando a sua relação com a respectiva Igreja particular
e com o Colégio Episcopal, nem constituindo um intermediário entre o Bispo e a Sé
de Pedro. Entretanto, no fiel exercício da função doutrinal que vos corresponde,
quando vos reunis nas vossas Assembléias, queridos Bispos, deveis sobretudo estudar
os meios mais eficazes para fazer chegar oportunamente o magistério universal ao povo
que vos foi confiado. Essa função doutrinal será desempenhada nos termos indicados
por meu venerado predecessor, o Papa João Paulo II, no Motu Próprio “Apostolos suos”,
também ao abordar as novas questões emergentes, para depois poder orientar a consciência
dos homens para encontrarem a reta solução para os novos problemas suscitados pelas
transformações sociais e culturais. De modo especial, alguns temas recomendam
hoje uma ação conjunta dos Bispos: a promoção e a tutela da fé e da moral, a tradução
dos livros litúrgicos, a promoção e formação das vocações de especial consagração,
elaboração de subsídios para a catequese, o compromisso ecumênico, as relações com
as autoridades civis, a defesa da vida humana, desde a concepção até a morte natural,
a santidade da família e do matrimônio entre homem e mulher, o direito dos pais a
educar seus filhos, a liberdade religiosa, os outros direitos humanos, a paz e a justiça
social. Ao mesmo tempo, é necessário lembrar que os assessores e as estruturas
da Conferência Episcopal existem para o serviço aos Bispos, não para substituí-los.
Trata-se, em definitiva, de buscar que a Conferência Episcopal, com seus organismos,
funcione sempre mais como órgão propulsor da solicitude pastoral dos Bispos, cuja
preocupação primária deve ser a salvação das almas, que é, aliás, a missão fundamental
da Igreja. Queridos irmãos, no final do nosso encontro, gostaria de vos convidar
a olhar para o futuro com os olhos de Cristo, depondo n’Ele a vossa esperança, pois
«a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5). Reiterando o meu profundo afeto pelo
povo brasileiro, confio o Brasil à intercessão materna da Virgem Maria, Nossa Senhora
Aparecida, modelo de todos os discípulos: Ela vos conduza pelos caminhos de seu Filho.
E, lembrando cada um dos Prelados brasileiros que, durante estes últimos catorze meses,
passaram por aqui em visita ad Limina e também aqueles que não puderam vir por problemas
de saúde, de todo o coração concedo-vos, assim como aos sacerdotes, aos religiosos,
às religiosas, aos catequistas e a todos os vossos diocesanos, a Bênção Apostólica.
(SP)