BENTO XVI: IGREJA PROCURE NOVAS LINGUAGENS PARA COMUNICAR A FÉ, MAS SÓ O AMOR É CRÍVEL"
Cidade do Vaticano, 13 nov (RV) - A Igreja busque novas linguagens para comunicar
ao homem de hoje a beleza da fé, mas consciente de que, no final, somente o testemunho
vivido do amor "fala sem palavras": foi o que disse o Papa, na manhã deste sábado,
recebendo em audiência, na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes da plenária
do Pontifício Conselho para a Cultura, que se realizou sobre o tema "Cultura da comunicação
e novas linguagens".
A saudação ao Santo Padre foi feita pelo Presidente do
referido organismo vaticano, Dom Gianfranco Ravasi, que recordou a abertura "incomum"
da plenária no Campidoglio – sede da Prefeitura de Roma – para acolher o desafio evangélico
de comunicar a fé a todos os povos.
A comunicação é "um dos pontos cruciais
do nosso tempo": o Pontífice desenvolveu o seu discurso partindo dessa convicção,
recordando que Deus mesmo "em sua bondade e sabedoria" quis comunicar-se a nós em
Cristo.
A tarefa essencial do organismo vaticano para a cultura é "colocar-se
à escuta dos homens e das mulheres do nosso tempo para promover novas ocasiões de
anúncio do Evangelho" num clima de "profunda transformação cultural" caracterizada
por novas linguagens e novas formas de comunicação.
"Neste contexto – disse
o Papa – os Pastores e os fiéis percebem com preocupação algumas dificuldades na comunicação
da mensagem evangélica e na transmissão da fé, dentro da própria comunidade eclesial."
"Muitos
cristãos precisam que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra
de Deus, de modo a poder experimentar concretamente a força do Evangelho (Exortação
apostólica pós-sinodal Verbum Domini, n. 96). Os problemas parecem por vezes
aumentar quando a Igreja se dirige aos homens e às mulheres que se encontram distantes
ou indiferentes a uma experiência de fé, aos quais a mensagem evangélica chega de
modo pouco eficaz e envolvente."
"Num mundo que faz da comunicação a estratégia
vencedora, a Igreja – afirmou Bento XVI – não fica indiferente", mas procura "recorrer
com renovado empenho criativo", e "com senso crítico e atento discernimento" às novas
modalidades comunicativas:
"A incapacidade da linguagem de comunicar o sentido
profundo e a beleza da experiência de fé pode contribuir para a indiferença de muitos,
sobretudo jovens; pode tornar-se motivo de distanciamento, como já afirmava a Constituição
conciliar Gaudium et spes, ressaltando que uma apresentação inadequada da mensagem
omite mais do que manifesta o genuíno rosto de Deus e da religião."
"A Igreja
quer dialogar com todos, na busca da verdade – reiterou o Papa – mas para que o diálogo
e a comunicação sejam eficazes e fecundos é necessário sintonizar-se numa mesma frequência."
Bento
XVI referiu-se à sua proposta de diálogo e encontro com quem se encontra distante
da fé, o chamado "Pátio dos Gentios", que o organismo vaticano para a Cultura já está
realizando na Europa.
Deve-se também contatar, de modo criativo, o mundo dos
jovens, muitas vezes "atordoados" pelas novas tecnologias, que ao invés de incrementar
a comunicação, aumentam "solidão" e "desnorteio".
Na "tarefa, difícil e fascinante"
do comunicar a fé – acrescentou o Pontífice – a Igreja pode recorrer ao "extraordinário
patrimônio" de símbolos e imagens da sua tradição:
"Em particular, o rico e
denso simbolismo da liturgia deve resplandecer em toda a sua força como elemento comunicativo,
até tocar profundamente a consciência humana, o coração e o intelecto. Ademais, a
tradição cristã sempre uniu estreitamente a liturgia à linguagem da arte, cuja beleza
tem a sua força comunicativa."
"Todavia – precisou – a beleza da vida cristã
é ainda mais incisiva do que a arte e a imagem na comunicação da mensagem evangélica":
"No
final, somente o amor é digno de fé e resulta crível. A vida dos santos, dos mártires,
mostra uma singular beleza que fascina e atrai, porque uma vida cristã vivida em plenitude
fala sem palavras. Precisamos de homens e mulheres que falem com a sua vida, que saibam
comunicar o Evangelho, com clareza e coragem, com a transparência das ações, com a
paixão alegre da caridade."
Por fim, Bento XVI fez votos para que muitos dos
nossos contemporâneos, diante da "força envolvente do testemunho", possam dizer como
os discípulos de Emaús após o encontro com Jesus ressuscitado: "Não nos ardia, por
acaso, em nós o nosso coração enquanto Ele conversava conosco ao longo do caminho?"
(RL)