Yangun, 10 nov (RV) - "A resposta humanitária foi rápida e eficaz. O problema
das minorias étnicas é antigo. Se, entretanto, o regime birmanês colapsar, eclodirá
uma guerra civil com efeitos desastrosos de sofrimento e muitos desabrigados": foi
o que disse o jesuíta Pe. Bernard Arputhasamy, diretor regional do Serviço Jesuíta
para Refugiados Ásia-Pacífico, com sede em Bangcoc, na Tailândia, sobre a crise humanitária
em Mianmar.
Retornando de uma missão no confim entre Tailândia e Mianmar, Pe.
Bernard disse: "mais de 20 mil pessoas de etnia karen atravessaram a fronteira para
fugir do conflito entre grupos étnicos e o exercito birmanês, um dia após as eleições
em Mianmar, realizadas no último domingo. Neste momento, a emergência está sendo administrada
eficazmente por um esforço conjunto entre o Governo tailandês, o Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e um grupo de ONGs, como o Serviço Jesuíta
para Refugiados. Estamos levando tendas, alimentos, água potável e medicamentos aos
refugiados" – frisou o sacerdote jesuíta.
Segundo Pe. Bernard, "o problema
das minorias étnicas em Mianmar é muito complexo e tem raízes nos anos precedentes
à independência do país. Muitos grupos, como os Karen, Shan e Kachin, querem a independência
territorial, desejam um Estado próprio. Além disso, cada grupo se subdivide, não assume
uma posição unívoca. Em todo caso, o regime birmanês mantém e garante, até mesmo com
a força, a unidade territorial. Se o regime cair, estou certo de que haverá uma guerra
civil e Mianmar terminaria como os Bálcãs ou o Iraque" – frisou ele.
"Creio
que por vezes, Mianmar seja visto com romantismo ou se aplica ao país uma espécie
de ideologia da democracia que não leva em conta a situação no território e as condições
histórico-sociais. Pede-se liberdade e direitos humanos, mas acredito que a solução
seria um progressivo envolvimento da junta birmanesa numa fase de transição democrática,
realizada com pequenos passos, contando também com intervenções de países como a China
e a Índia, que têm intensas relações comerciais com Mianmar. É um percurso longo,
cansativo, que engloba a educação da população birmanesa na perspectiva de um Estado
federal. Creio que esta seja a única estrada não-violenta e praticável" – concluiu
o sacerdote jesuíta. (MJ)