A viagem apostólica á Espanha, uma síntese das preocupações de Bento XVI sobre a Europa
do século XXI. O balanço de Pacheco Gonçalves
(8/11/2010) A viagem-relâmpago de Bento XVI a Espanha, de 6 a 7 de Novembro, fica
para a história do pontificado como uma síntese das preocupações de Joseph Ratzinger
sobre a Europa do século XXI, progressivamente afastada da fé em Deus. Em Santiago
de Compostela e Barcelona, o Papa deixou uma espécie de testamento espiritual a partir
de dois locais altamente simbólicos: o Santuário galego - e os caminhos que até lá
levam centenas de milhares de pessoas – e a basílica catalã da Sagrada Família, de
Gaudí. Vários temas uniram as sete intervenções em solo espanhol: peregrinação
e descoberta de Deus, fé e laicismo, caridade e solidariedade, beleza e defesa dos
valores transcendentes. Para um primeiro balanço desta viagem o enviado da Rádio
Vaticano Pacheco Gonçalves Várias imagens nos vêm ao espírito, com especial nitidez,
no final desta segunda viagem, breve mas intensa, do Papa, em terras espanholas: -
a euforia dos jovens que o aclamaram, diante da catedral de Santiago, antes da missa
de sábado, um entusiasmo genuíno, que imprimiu como que uma aceleração ao ritmo do
programa, sem impedir que a celebração sucessiva pudesse decorrer com ordem e recolhimento;
- a qualidade e beleza dos cânticos das duas Eucaristias e o cuidado posto na
liturgia; - o impressionante espectáculo, de grandeza e harmonia, do templo da
Sagrada Família, animado e como que transfigurado pela celebração inaugural ali realizada; -
e o ambiente familiar, de grande simplicidade, cheio de alegria, tão comovente e enternecedor,
da visita final à Casa de acolhimento de portadores de deficiência, sobretudo crianças
e jovens.
Tudo isto num crescendo, em que o Santo Padre teve ocasião de se
ir sentindo cada vez mais “em casa”, acolhido e estimado, mas sobretudo com pessoas
que possam porventura tomar em consideração as suas “palavras de paz e solidariedade,
fraternidade e espiritualidade, cheias de esperança de que é possível um mundo melhor”,
como disse o rei Juan Carlos no momento da despedida.
Não nos referimos nas
crónicas destes dias às manifestações de oposição ao Papa, de que tanto falaram, mesmo
fora de Itália, os meios de comunicação. Omissão que não pretendia ocultar os factos
– normais e legítimos numa sociedade democrática – mas precisamente não desfigurar
a realidade, dadas as dimensões reduzidas, circunscritas, de tais expressões de protesto.
Um facto que nos surpreendeu foi (digamos) a insistência com que nas duas
cidades se sublinhavam as características da respectiva região – Galiza e Catalunha:
as línguas, repetidamente usadas pelo próprio Papa, mas também a profusão de bandeiras
e outras expressões da própria diversidade. Uma variedade vivida – pareceu-nos – numa
contraposição recíproca, não isenta de tensões, agravadas aliás por todas as clivagens
ideológicas e políticas que fracturam o país. Mais relevo assumem assim as palavras
de Bento XVI no voo inicial, convidando a que se promova mais o “encontro”, superando
as formas de afrontamento exasperado, para se chegar a uma convivência serena e construtiva
entre todos. Da Espanha, para a RV, PG