A importância da beleza na expressão da fé, segundo o exemplo de Gaudi, e a responsabilidade
dos cristãos na sociedade, nomeadamente em defesa da vida e da família.
(7/11/2010) Na manhã deste Domingo Barcelona viveu o momento culminante da visita
do Papa que presidiu a celebração eucarística com a dedicação da igreja e do altar,
da Sagrada Família de Antoni Gaudí , na presença do Rei e da Rainha de Espanha. O
correspondente da Rádio Vaticano Pacheco Gonçalves Há casos em que de
facto o som da rádio não basta para transmitir adequadamente o que se deseja descrever.
Oxalá os ouvintes tenham podido ver ao menos algumas das esplêndidas imagens transmitidas,
neste domingo de manhã, da missa de consagração do templo da Sagrada Família, obra
prima de Antoni Gaudi, que se apresenta, no tecido urbano de Barcelona, como “um sinal
visível do Deus invisível” (como disse o Papa na homilia). As mais de duas horas de
celebração constituiu uma sinfonia de luz, de cores e de espaços, de volumes diversificados,
uma floresta de colunas que elevam o olhar para as alturas, tudo envolvido de música
e de vozes, num entrecruzar de sons do órgão e do coro, do presidente e da imensa
assembleia. Uma “liturgia” plena no sentido original da palavra – “obra de Deus”,
louvor ao Altíssimo.
Na sua homilia, o Papa exaltou a importância da beleza
na expressão da fé, segundo o exemplo de Gaudi, e a responsabilidade dos cristãos
na sociedade, nomeadamente em defesa da vida e da família. Dando graças a Deus
por esta construção que foi sendo elevada ao longo de tantos anos, fruto da acção
convergente de tão grande número de artistas e operários, artesãos e contribuintes,
Bento XVI quis justamente pôr em destaque aquele que foi “a alma e o artífice” deste
projecto: “António Gaudi, arquitecto genial e cristão coerente, com a chama
da fé sempre ardente até ao termo da sua vida, vivida em dignidade e absoluta austeridade”. O
acto desta consagração é também “o ponto culminante, de chegada, de uma história desta
terra que – observou o Papa – sobretudo desde os finais do século XIX, deu uma plêiade
de santos e fundadores, de mártires e de poetas cristãos… “História de santidade,
de criação artística e poética, nascidas da fé, que hoje recolhemos e apresentamos
como oferenda a Deus nesta Eucaristia”. Exprimindo toda a sua alegria por
presidir a esta celebração, o Santo Padre sintetizou em poucas palavras o significado
fundamental da consagração de uma nova igreja: “No coração do mundo, perante
o olhar de Deus e dos homens, num humilde e jubiloso acto de fé, elevamos uma imensa
massa de matéria, fruto da natureza e de um incomensurável esforço da inteligência
humana, construtora desta obra depu arte. Ela é um sinal visível
do Deus invisível, a cuja glória se elevam estas torres, setas que apontam para o
absoluto da luz e de Aquele que é a própria Luz, a Altura, a Beleza”. Como
tinha já observado durante o voo de Roma para Santiago, Bento XVI evocou as três fontes
de inspiração de Gaudi, na projectação deste templo: Gaudi quis unir a inspiração
que recebia dos três grandes livros em que se alimentava como homem, como crente e
como arquitecto: o livro da natureza, o livro da Sagrada Escritura e o livro da Liturgia… …
Deste modo colaborou genialmente para a edificação da consciência humana ancorada
no mundo, aberta a Deus, iluminada e santificada por Cristo. E fez algo que é uma
das mais importantes tarefas hoje em dia: superar a cisão entre
consciência humana e cristã, entre existência neste mundo temporal e abertura a uma
vida eterna, entre beleza das coisas e Deus como beleza”. “A beleza é uma
grande necessidade do homem – sublinhou o Papa. É a raiz da qual brota o tronco da
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza – acrescentou ainda – é também
reveladora de Deus, porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convida à liberdade
e arranca do egoísmo”.
Aludindo às leituras da celebração – da consagração
de uma igreja – e à solidez da estrutura deste templo, Bento XVI sublinhou que “Jesus
é a pedra que suporta o peso do mundo, que mantém a coesão da Igreja e que recolhe
na unidade final todas as conquistas da humanidade”. Daqui um verdadeiro apelo à fé.
Em conformidade com o testemunho cristão do arquitecto Gaudi: “a dedicação
deste templo da Sagrada Família, numa época em que o homem pretende edificar a sua
vida de costas voltadas contra Deus, como se não tivesse nada a dizer-lhe, resulta
um facto de grande significado. Gaudi, com a sua obra, mostra-nos que Deus é verdadeiramente
a medida do homem. Que o segredo da autêntica originalidade está, como ele dizia,
em voltar à origem que é Deus”. Referindo o exemplo da sagrada família
de Nazaré, o Papa reconheceu que muito mudaram as condições do mundo, com grande progressos
técnicos, sociais e culturais. Mas estes não bastam: “Não podemos contentar-nos
com estes progressos. Juntamente com eles, deve haver sempre os progressos morais,
como a atenção, protecção e ajuda à família, já que é o amor generoso e indissolúvel
de um homem e uma mulher é o marco eficaz e o fundamento da vida humana em sua gestação,
no seu nascimento, crescimento e no seu termo natural. Só onde existem o amor e a
fidelidade, nasce e perdura a verdadeira liberdade”. O Papa concluiu a
homilia pedindo a Deus “que nesta terra catalã se multipliquem e consolidem novos
testemunhos de santidade, que prestem ao mundo o grande serviço que a Igreja pode
e deve prestar à humanidade: ser ícone da beleza divina, chama ardente de caridade,
canal para que o mundo creia n’Aquele que Deus enviou”. Como já ontem em Santiago
de Compostela, e porventura ainda mais, dada a beleza do espaço arquitectónica da
Sagrada Família, também esta imponente celebração se distinguiu pelo elevado nível
artístico-litúrgico da componente musical, graças em grande parte aos muitíssimas
vozes do coro disposto nas galerias superiores do imenso templo. De salientar também
o caloroso acolhimento reservado ao Papa por muitos milhares de fiéis dispostos ao
longo do caminho. Esta tarde, pelas 17.30, a visita do Papa a uma instituição católica
de assistência a crianças e jovens atingidos pelo síndrome de down. Dali seguirá
directamente para o aeroporto, para o regresso a Roma. De Espanha, para a RV,
PG.