A Europa “há-de abrir-se a Deus, sair ao seu encontro sem medo”. A Europa precisa
de actuar, a favor da dignidade do homem . O enviado da Rádio Vaticano Em Santiago
de Compostela
(6/11/2010) Uma jovem espanhola ligada à preparação das JMJ 2011 de Madrid dizia-me
aqui hoje que esta visita do Papa acabaria por ser um ensaio geral do Encontro Mundial
do próximo ano. A consistente presença de jovens, de variadas proveniências, neste
sábado à tarde em Santiago, e sobretudo o ímpeto do seu entusiasmo, a sua visibilidade
– parece confirmar esta intuição. Na homilia da Missa Bento XVI não os esqueceu, ao
falar da “lógica” do amor e do serviço:
“Precisamente a vós, este conteúdo
essencial do Evangelho vos indica o caminho para, renunciando a um modo de pensar
egoísta, de vistas curtas, como tantas vezes vos propõem, e assumindo o caminho de
Jesus, possais realizar-vos plenamente e ser semente de esperança”
Não
obstante as nuvens que se mantiveram ao longo do dia, a neblina matinal acabou por
se dissipar e a chuva anunciada retardou felizmente o seu aparecimento. A Missa, com
os poucos milhares de fiéis que continha a praça da catedral, foi seguida por muitos
outros através dos écrans gigante montados em variados pontos da cidade. Seguindo
as indicações oportunamente feitas no início da celebração, esta - como todas as liturgias
papais - incluiu momentos de profundo silêncio orante, não obstante a euforia juvenil
que precedeu a Missa. O vermelho dos paramentos, cor do sangue dos Apóstolos,
constituía de per si um apelo àquele “testemunho da fé” que era precisamente o tema
desta etapa da viagem apostólica. A isso mesmo aludiu o arcebispo local, Julian Barrio
Barrio, na saudação inicial ao pontífice, falando da necessidade de “revitalização
da fé”. Precisamos do ardor e da coragem de uma nova evangelização para anunciar fielmente
Cristo, com criatividade pastoral. Precisamos de prosseguir com força em peregrinação.
Há feridas a cicatrizar, que requerem a nossa conversão. Finalmente, o arcebispo de
Santiago falou da necessidade de uma “profundidade” que nos resgate da “superficialidade
anestesiada” que faz esquecer que a Igreja, na sua missão profética, leva em si a
marca do martírio, para ser testemunha de Cristo. Para além da situação
concreta da sociedade e da Igreja em Espanha, nesta fase da sua história, estas observações
do arcebispo de Compostela têm sem dúvida uma dimensão universal. Isso mesmo o sugeriu
o próprio Papa quando, na conferência de imprensa improvisada no avião, entre Roma
e Santiago, evocava a recente criação de um novo Conselho Pontifício visando favorecer
uma nova evangelização dos países ocidentais de tradição cristã. É o caso dos diversos
países europeus, observou o Papa, referindo a sua própria experiência nas viagens
à França, à República Checa, ao Reino Unido. O mesmo vale – observou o Papa – para
a Espanha, “país originário da fé”. O renascimento da fé, na época moderna (considerou
o Papa), teve lugar sobretudo graças à Espanha. Foram figuras como Santo Inácio, Santa
Teresa e São João de Ávila que “finalmente renovaram o catolicismo e formaram a fisionomia
do catolicismo moderno”. Por outro lado – observou o Papa – “é igualmente verdade
que em Espanha surgiu uma laicidade, um anticlericalismo, um secularismo forte e agressivo”
como se viu nos anos 30 (alusão à sangrenta guerra civil espanhola). Neste contexto,
Bento XVI fez notar que também hoje em dia de novo tem lugar em Espanha, de modo muito
intenso, “esta disputa, esta contraposição frontal entre fé e modernidade”. O Papa
considerou pois fundamental “para o futuro da fé”, que “este encontro – não afrontamento!
–entre fé e laicidade” passe também através da cultura espanhola.
Observações,
preocupações e votos que o Papa mencionou também na homilia da missa, tendo como horizonte
toda a Europa: A Europa – considerou o Papa – “há-de abrir-se a
Deus, sair ao seu encontro sem medo”. A Europa precisa de actuar, com a graça de Deus,
a favor daquela dignidade do homem que as melhoras tradições tinham descoberto. Não
só a tradição bíblica, naturalmente fundamental, mas também as tradições da época
clássica, medieval e moderna, de onde nasceram as grandes criações filosóficas e literárias,
culturais e sociais da Europa”. Esta “continuidade entre tradição e renovamento”
– o tema da viagem permanente, da peregrinação - é, nas palavras do Papa aos jornalistas,
no voo deste sábado, uma das mensagens que ele se propõe deixar nesta sua viagem a
Espanha. Juntamente com o tema da beleza, central na segunda jornada, domingo, em
Barcelona. Já aqui em Santiago, na Missa deste sábado, a excelente componente
musical, com coro e orquestra, ressoando nas abóbadas da catedral românica, poderão
ter elevado para Deus o espírito de muitos que o procuram de coração sincero. De
Santiago de Compostela, para a RV, PG